A nossa maior ambição é abrir Cangamba ao mundo – Administrador municipal

     Entrevistas           
  • Moxico     Terça, 04 Julho De 2023    20h42  
Administrador Municipal de Luchazes, Quintas Miúdo Sempieca
Administrador Municipal de Luchazes, Quintas Miúdo Sempieca
KInda Kyungu - ANGOP

Cangamba – A atracção de investimentos privados e a formação de quadros para colocar o histórico município dos Luchazes (Moxico) na rota do desenvolvimento  são os principais desafios do administrador local, Quintas Sempieca, que o dirige há sete meses.

Por Maria Cuvango António Tuta de Lemos, jornalista da ANGOP

Sete meses depois de deixar a gestão do município-sede, Moxico, para liderar outro (um dos mais pobres do país), Quintas Sempieca promete, em entrevista à ANGOP, ‘abrir’ a região dos Luchazes ao mundo, transformá-la e colocá-la no centro das atenções.

Segundo um relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o Índice de Pobreza Multidimensional por Município (IPM-M), Luchazes é dos municípios mais pobres do país, com uma incidência de pobreza superior a 95 por cento, atrás apenas do Curoca, província do Cunene.

Eis a íntegra da entrevista:

ANGOP -  Seis meses depois, desde que assumiu este desafio, como pode descrever o município dos Luchazes?

Quintas Sempieca (QS) -  Apesar de reconhecermos que muita coisa foi feita,  precisamos de ter a coragem de dizer que o município inspira muito trabalho e toda a atenção possível.

Geralmente, quando se é novo, criam-se muitas expectativas em torno da pessoa, sobretudo quando se trata de sociedades onde a pobreza extrema é predominante e denominadora comum.

É com base neste espírito que devo dizer que, num horizonte temporal de médio e longo prazos, tencionamos apresentar à população local e a todos aqueles que nos venham visitar um município acolhedor, acolhedor no sentido de que encontre aqui algum conforto e o mínimo para se viver com dignidade.

ANGOP- Quanto ao diagnóstico efectuado, o que precisa de ser melhorado nesta histórica região? 

QS -  Encontrámos um município onde tudo é uma necessidade, tudo é um começo. Tudo aqui precisa de ser melhorado, desde o ensino, saúde, água, energia eléctrica a vias de acessos, não só do Luena para Cangamba, mas também para o interior, isto é, nas quatro comunas que o compõem, numa distância média de 120 quilómetros quadrados.

A formação técnico-profissional da juventude, o lazer, o saneamento, o ordenamento, o comércio, a atracção de iniciativas privadas e a desconstrução da crença ao feiticismo, que, muitas vezes, tem estado na base de algum desequilíbrio social, com impacto negativo nas estruturas familiares e até nalgumas instituições, também se afiguram importantes para o município que se quer ameno e simpático a todos aqueles que nele habitam, trabalham e vivem.

ANGOP- Para a inversão do quadro que apresentou, qual é a maior ambição da administração?

QS -  A nossa maior ambição é abrir Cangamba e, para o mundo (…), é o de colocar essa região no centro das discussões e das atenções. A aposta na formação do homem e imprimir diplomacia necessária (...) para ver a situação das estradas resolvida também serão o nosso foco, pois entendemos que elas (as estradas) poderão proporcionar soluções para os problemas que nos afligem, enquanto município.

ANGOP – Existe um programa concreto para a revitalização dos  Luchazes?

QS -  Diagnosticámos significativamente o município. Os dados ou informações resultantes do diagnóstico feito remetem-nos à necessidade de se traçar estratégias, definir prioridades e realinhar os recursos humanos, materiais e financeiros locais, para, gradualmente, mudarmos a nossa condição de vida. À luz desses dados, certamente vamos conceber um plano pontual que nos servirá de guia, visto que a população já fez a sua parte, informando à Administração Municipal sobre os seus principais problemas. Agora vamos conciliar a componente administrativa e as outras forças vivas da sociedade, para que esse instrumento-guia seja elaborado com a maior brevidade e posto ao serviço das populações.

ANGOP- Quais são as principais linhas deste programa?

QS -  O programa passa por reforçar a organização administrativa e técnica internas, assim como melhorar a qualidade de quadros. Conseguindo isso, teremos meio caminho andado para o que se deseja. É preciso saber, sem reservas, o nosso ponto de partida e o de chegada.

Por outro lado, dado o elevadíssimo índice de pobreza que assola a nossa população, sentimos que se impõe a necessidade de nos abrirmos ao mundo e buscarmos parcerias institucionais nos mais variados domínios, para que nos ajudem a encontrar soluções face aos problemas que nos afligem. Muitas vezes, há ideias e iniciativas, mas o dinheiro nunca é suficiente e nem sempre está disponível quando precisamos dele. Portanto, não basta a boa vontade, é necessário que tudo esteja a nosso favor, é preciso capacidade e envolvimento de todos, pois o município dos Luchazes é a nossa missão.

Ainda nas principais linhas, pretendemos mais investimentos nos sectores da Educação, Saúde, Agricultura,  Pescas, formação académica e profissional, sobretudo dos jovens, bem como provocar (no bom sentido da palavra) debates relacionados com a nossa principal estrada que liga Luzi – Cassamba - Cangamba, uma vez que, como já nos referimos, é o número um dos maiores problemas que toda a população dos Luchazes gostaria de ver resolvido.

ANGOP- Fale-nos do quadro actual do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), nos Luchazes.

QS -  Apesar do grande trabalho feito até agora, não é satisfatório. Até agora, nenhuma obra do PIIM foi inaugurada, de facto, nenhuma infra-estrutura do PIIM. Só para se ter uma ideia, a nível da província, somos os únicos que ainda não demos à nossa população o gosto da célebre frase “A vida faz-se nos municípios”.

São vários  motivos, e aqui com maior realce para as estradas e outros determinantes. Ter obras nos Luchazes não é fácil. Houve ou há também certa incapacidade e baixo sentido de missão de compromisso por parte das empresas contratadas.

Queremos ver esse problema ultrapassado o mais rápido possível. Para tal, devemos fazer bem a nossa parte. Exigir das empresas celeridade, dentro dos limites legais, é o que temos feito e vamos continuar sem contemplações.

As empresas estão pagas e só precisam de nos apresentar as obras. Demos ultimato a todas elas e, nesse sentido, seremos implacáveis.

ANGOP- Qual é o quadro da implementação do Programa de Combate à Pobreza neste município, curiosamente um dos mais pobres do país?

QS - Aqui, a pobreza é um facto. Apesar disso, esse facto não nos retrai, pelo contrário, motiva-nos e inspira-nos para o trabalho, e essa é uma das principais razões que nos impulsionam para o trabalho. Fazer parte das páginas que narram a virada do povo dos Luchazes é, também, a minha ambição pessoal.

O Programa de Combate à Pobreza tem eixos pré-definidos, os quais, com certeza, foram objecto de trabalho dos colegas que nos antecederam. E, hoje, embora admitamos haver muito trabalho por se fazer, orgulha-nos ver um povo que, durante muito tempo, quase nada tinha em termos de produção agrícola.

Porém, nos últimos anos, por via do programa em referência, já há muita produção, mas tem como obstáculo as vias de acesso, já que não facilitam o escoamento de produtos, nem atraem comerciantes para a sua aquisição/compra.

A nossa visão é envolver a população no combate à pobreza, através de acções concretas, adaptadas à realidade local, de modo a darmos continuidade ao que até agora foi feito. A população precisa de ser ouvida e de definir o que quer, enquanto à administração cabe acolher, dar tratamento técnico e fazer acontecer as coisas a favor dos habitantes. 

No ano passado, foram beneficiadas famílias de vários segmentos, com maior incidência nos ex-militares, camponeses, mulheres jovens e outros.

ANGOP- Como está projectado o programa para este ano?

QS -  Preferimos limitar os eixos de actuação para melhor impactar. Ouvida a população, demos primazia aos eixos respeitantes aos meios de produção agrícola, pesca, criação animal,  merenda escolar, empoderamento da mulher, formação e reforço no fornecimento da energia eléctrica, para o fomento de pequenos negócios, que têm na electricidade a sua base de sustentabilidade.

ANGOP - Como se apresenta o quadro actual dos sectores da Educação e Saúde?

QS - Não é o desejável. Com as obras do PIIM e não só, certamente haverá melhorias nestes sectores, mas não o suficiente, tendo em conta o que a realidade exige de nós.  Com um olhar atento do Governo da Província do Moxico, prevêem-se acções que, num futuro breve, vão concorrer para a mudança do actual cenário.

Só para se ter ideia, temos um hospital municipal que, pela sua reduzida dimensão e poucos serviços que presta, não está à altura da demanda actual. Por outro lado, os postos médicos e os centros de saúde carecem de reabilitação e apetrechamento, bem como de ambulância, de que também o próprio Hospital Municipal dos Luchazes não dispõe.

Por conseguinte, todas estas dificuldades nos inspiram para o trabalho. Hoje, o município alberga pelo menos 20 mil habitantes, sendo maioritariamente crianças e jovens. O que nos preocupa não é só o número de unidades sanitárias e de escolas, mas também o estado das infra-estruturas que ‘clamam’ por manutenção profunda. Estamos cientes dessas situações e, naturalmente, cabe-nos encontrar soluções que se impõem.

ANGOP- Quantos estabelecimentos de ensino existem e quantos docentes asseguram o processo de ensino e aprendizagem nesta região?

QS -  O município, no seu todo, conta com apenas 11 escolas, sendo seis na sede municipal (Cangamba) e as restantes (5) estão distribuídas nas comunas de Cangombe, Cassamba, Muié e Tempué.

Sobre o número de professores, tem 134, dos quais 27 do sexo feminino. No presente ano lectivo, foram matriculados seis mil 252 alunos, sendo cinco mil 432 no ensino primário.

ANGOP - Luchazes é daquelas regiões da província com elevado índice de fuga de funcionários públicos, por alegada falta de condições de habitabilidade. Essa situação já começou a ficar ultrapassada?

QS -   Há sérios problemas neste sentido, e precisamos de trabalhar muito para inverter o quadro. São problemas que não se resolvem apenas com medidas disciplinares. A problemática de estradas de que tanto falamos, a inexistência de bancos, a péssima qualidade da rede telefónica e o elevado custo de vida proporcionam esse fenómeno.

Entretanto, todos nós somos, nos termos da lei, obrigados a permanecer nos nossos locais de trabalho, devendo ausentar-se deles apenas com devida autorização legal. Também é importante dizer que a condição de vida de uma sociedade depende, em grande medida, daquilo que as pessoas que nela residem pensam e fazem por ela. Precisamos de consentir sacrifícios hoje, para que amanhã tenhamos um Luchazes na rota do crescimento e desenvolvimento. Isso depende, também, de nós. Vamos trabalhar e acreditar que sim. É possível chegaremos lá!

ANGOP- No capítulo da energia e águas, qual é o actual quadro?

QS -  Relativamente à energia, está muito aquém do desejado. O desafio é enorme, daí a necessidade de todos encararmos a actual situação como preocupante. Actualmente, à excepção parcial de Cangamba,  as quatro comunas não têm acesso à energia eléctrica. Por falta de manutenção regular dos geradores, todos eles acabaram por avariar.

Sobre a água, faz parte dos problemas com que a nossa população se depara quase todos os dias.  A nível da sede municipal, temos seis pequenos sistemas que regularmente fornecem o líquido precioso à população, beneficiando mil 799 famílias.

Nas quatro comunas do município, tivemos um trabalho de diagnóstico profundo a nível do sector das Águas, no qual constatámos a existência de pequenos sistemas, mas todos eles paralisados, o que nos levou a accionar uma empresa vocacionada para a sua recuperação, pelo que acreditamos que teremos esse problema minimizado nos próximos tempos.

ANGOP – No sector agrícola, quantos hectares de terra foram preparados na presente campanha, principais culturas e quantas toneladas poderão ser colhidas?

QS - Para o presente ano agrícola, foram preparados e cultivados 98 hectares. Em termos de culturas, predominam o milho, o feijão, a mandioca, o massango, a massambala, a soja, a ginguba, a batata-doce e outras. Prevê-se, ainda, uma colheita de 1200 toneladas de outros produtos. No município, estão controladas 56 cooperativas e 11 associações agrícolas de camponeses.

O município

Situado a mais de 350 quilómetros a Sul da cidade do Luena, capital do Moxico, o município dos Luchazes é  habitado por pelo menos 20 mil pessoas, possuindo potencialidades agrícolas, produção de mel e recursos hídricos.





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