Caluquembe recupera mística de produtor de café

Produção de café em Caluquembe
Produção de café em Caluquembe
Morais Silva - ANGOP

Caluquembe - Mais de 32 mil pés de café arábica foram distribuídos, nos últimos dois anos, aos agricultores do planalto de Caluquembe, na província da Huíla, um impulso que contribui para a recuperação da mística de Angola na produção do “bago vermelho”.

Por Morais Silva, Pedro Diogo Fernandes e João Silva, jornalistas da ANGOP 

O café arábica, descoberto na Etiópia e trazido para Angola por missionários alemães, em 1886, é referenciado pelos ganhos que trouxe à economia nacional.

O seu cultivo contribuiu para transformar a antiga província ultramarina portuguesa na terceira maior produtora mundial, sendo que, actualmente, este produto, de alto valor comercial internacional, coloca Caluquembe no radar dos maiores consumidores do pó.

Um dos pontos de referência local, em termos de produção, é a comuna de Calepi, situada no cimo da cordilheira da N´gola, a mil e 200 metros de altitude, onde habita  uma população estimada em 48 mil 926 habitantes, distribuídos por 104 aldeias.

A comuna, uma das três de Caluquembe, com N´gola e Sandula (sede), está a escassos 30 quilómetros da sede municipal e é acedida por duas vias, a principal parte de Sandula, com 30 quilómetros, e a outra que dá ao município da Ganda (Benguela), com 55 quilómetros. Ambas estão em mau estado técnico de circulação.

Apesar dos esforços para circular na localidade, a distribuição dos pés de café tem sido gratuita, no quadro do programa de combate à pobreza e empoderamento das famílias.

De acordo com o responsável do Instituto Nacional do Café de Angola (INCA) na Huíla, Henriques Chivinda, em 2023 foram fornecidos mais de 120 mil pés de café, produzidos em estufa em Caconda e na Vila Branca (Caluquembe).

“Queremos atingir 500 mil mudas em cada um dos dois alfobres, para fornecer aos produtores, uma vez que a aposta é entregar, no mínimo, mil pés para cada uma das 140 famílias envolvidas no relançamento da produção da espécie arábica”, disse.

A falta de transporte para distribuir as plantas dos alfobres aos cafeicultores tem sido um dos principais empecilhos para a maior massificação do cultivo deste café, conhecido pelos sabores distintos, adocicados, suaves e pelo maior nível de acidez.

Apesar de manterem o cultivo de produtos tradicionais como o feijão, a mandioca, batata e frutos, informou que aumenta o interesse dos agricultores do planalto Caluquembe no plantio do café, concorrido e com elevado peso na balança comercial.

Produtores querem incentivo da banca, para agregar valor ao produto final 

Actualmente, apenas quatro agricultores da região beneficiaram de viaturas e a maioria queixa-se, essencialmente, da falta de facilidades bancárias para a aquisição de meios de transporte destinados ao escoamento da produção.

Os mesmos queixam-se ainda de outros meios de trabalho, até de enxadas, disse Henriques Chivinda,  que considera necessária a compra de motos de três rodas, conhecidas na região como “kaleluia”, para facilitar a aquisição de excrementos de gado caprino e bovino, essenciais à produção de adubo orgânico.

Sugere que a banca fosse ao campo negociar com os produtores das áreas mais recônditas, porquanto, a maior parte deles não acredita que consiga corresponder às exigências, essencialmente burocráticas, impostas pelo sector financeiro.

Conforme o agente agrário, outra preocupação dos cafeicultores da região é a necessidade de máquinas de descasque, torrefacção e moagem, para acrescentar valor ao produto, na medida em que a sua falta leva muitos a entregar o café mabuba (com casca) e a metade do processo, por 450 kwanzas.

No tempo colonial, lembra, o café do planalto de Caluquembe era, essencialmente, enviado à Ganda (Benguela) para descasque e torrefacção, potenciando as cooperativas agropecuárias daquela região em detrimento da zona de produção.

Com uma máquina de descasque e rebeneficiamento, os ganhos teriam sido maiores para os produtores e também para as agências de comercialização, como a Cafangola. 

Dada a sensibilidade do café arábica, mais sujeito a pragas, como a broca do tronco, devido ao seu formato triangular, a planta exige cuidados especiais, explicou, tendo enaltecido o envolvimento da administração local no incentivo à produção cafeícola.

Dados disponíveis indicam que o Fundo de Desenvolvimento do Café já apoiou 140 agregados, que produzem, anualmente, cerca de 30 toneladas. Na maior parte dos casos, os compradores saem de Luanda, mas acabam por adquirir apenas café não descascado.  

Em Caluquembe, as zonas tradicionais de produção do café são o Calepi e Caissaca, sendo que estão, actualmente, em viveiros 55 mil pés no alfobre de Caconda e 45 mil no de Vila Branca, em Caluquembe. 

Segundo Henriques Chivinda, é necessário mobilizar financiamento para expandir os campos, aplicar o adubo orgânico e adquirir uma fábrica de descasque.

O programa de distribuição de mudas, segundo a fonte, é gratuito e enquadra-se no programa de combate à pobreza, e solicitou a aquisição de moto-bombas, para melhorar a produção.

Sublinha que a produção anual do café ronda as 30 toneladas, quando antes da independência nacional o Corredor Sul era capaz de fornecer ao mercado mundial perto das 120 toneladas do café arábica.

Com incentivos, segundo o, também, produtor, a produção em Caconda e nas comunas de Caissaca, Vionga, Vila Branca, Calepi e N´gola, essas últimas cinco do município de Caluquembe, crescerá.

Informou estarem disponíveis cerca de 150 hectares que poderão fornecer 80 toneladas por ano do café arábica, cultivável acima dos 800 metros de altitude, ao contrário do canephora (robusta) plantado, essencialmente, nas províncias do Uíge e Cuanza Norte.

Cafeicultores animados expandem zona agricultável 

O cafeicultor António Muhoco manifestou-se satisfeito com os resultados da produção do café e com o seu impacto na vida das famílias que se dedicam à produção do grão.

A fonte explica que, em média, duas toneladas por ano são produzidas, mas sente a falta de uma máquina de descasque e uma torrefacção para acrescentar valor ao produto, ainda assim está, aos pocuos, estender a zona de produção em 15 novos hectares.

De acordo com o mesmo, os compradores distinguem o café mabuba (com casca), cereja (recém-colhido) e do comercial (sem casca), sublinhando que o pouco café comercial disponível é descascado, torrado e moído de forma artesanal, mediante métodos rudimentares, utilizando frigideiras e almofarizes. 

Diz que explora cinco hectares, onde produz dois mil quilogramas por ano. Em 2023, tinha acumulado numa sala improvisada toda a produção, à espera de clientes.

O mesmo dispõe de um pequeno estabelecimento comercial da era colonial, a cair aos pedaços, onde aproveita vender a pouca produção acabada do produto. É nesse local onde um pouquíssimo do café é torrado à lenha e triturado em pilões.

Com uma área de plantio, mostra com satisfação o terreno cultivado, no qual sobressai, para além do cafeeiro, limoeiros, abacateiros e mangueiras.

Em Calepi, 30 famílias, com terrenos de cinco a 20 hectares, produzem café arábica vermelho e amarelo, este último também conhecido por “café ouro”. 

Diz haver ainda muita terra por desbravar, mas está condicionado a financiamento bancário para a criação de furo de água e aquisição de uma motobomba para a irrigação e evitar a dependência das chuvas, numa zona afectada sazonalmente por estiagem.

Queixa-se da falta meios de transportes para facilitar o escoamento da produção para as zonas comerciais e de insumos e materiais como enxadas e catanas.

O cafeicultor junta a actividade agrícola à comercial e produção de pão, num forno à lenha com capacidade para produzir 800 unidades por vez.

Empregando 12 elementos da sua família, quer ajuda para criar um furo de captação de água subterrânea, para o regadio da plantação e evitar a dependência exclusiva das chuvas, muitas vezes irregulares na região.

Tem uma máquina manual para o destaque, mas também quer adubos para aumentar a produção cafeícola e de outros produtos como feijão, batata rena, mandioca e milho, e diversificar produção e a sua base de sustento familiar.

Detentor de um terreno de oito hectares em Caissaca, um outro produtor, Henriques Hequele,a três quilómetros a jusante a Sandula, sede de Caluquembe, conta que a produção corre bem.

Lamenta ter colhido apenas, no ano findo, devido à estiagem, 250 quilogramas de café para sementes e 150 quilos de café comercial, que lhe rendeu cerca de 380 mil kwanzas, contra uma tonelada colhida no ano passado.

Conta que já lida com a plantação do café desde 2007, mas que a peste broca do trono lhe havia arrasado a plantação, tendo retomado apenas na época 2019/2020.

Por sua vez, o administrador comunal de Calepi, Avelino Tito, assinala que o estado da via afecta a administração e os produtores, pelo que deve merecer uma atenção especial.

Reconhece que já esteve pior, havendo melhorias depois de, recentemente, ter sido intervencionada com obras de terraplanagem, o que reduziu o tempo de viagem.

Por dentro 

O município de Caluquembe, situado a 193 quilómetros a Norte do Lubango, é limitado a Norte pelo município da Ganda (Benguela), a Este pelos de Caconda, Chicomba e Matala (Huíla), a Sul pelo de Quipungo (Huíla) e Oeste pelo da Cacula e Quilengues (Huíla), assim como Chongorói (Benguela).

Foi criado como concelho em 1965, tem três comunas, designadamente, Sandula (sede), Calepi e Negola. O município conta com cerca de 197 mil e 077 habitantes, de acordo com dados de 2017 do Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

Para além do café, o município é um dos maiores produtores de milho da província da Huíla, com uma safra anual, na actualidade, de 120 mil toneladas. JFS/MS





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