Pretória - O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi hoje confrontado com apelos da oposição à sua demissão, depois de uma comissão parlamentar ter concluído que o chefe de Estado pode ter violado leis anti-corrupção, roubando e escondendo dinheiro.
Os apelos seguem-se a alegações do antigo chefe dos serviços secretos sul-africanos Arthur Fraser de que Ramaphosa terá tentado esconder o roubo de uma elevada quantia de dinheiro encontrada dissimulada nos estofos dos sofás na sua quinta Phala Phala, em 2020.
Fraser acusou o presidente de lavagem de dinheiro e violação de leis de controlo de moeda estrangeira.
No seu relatório, divulgado na quarta-feira, a comissão parlamentar levantou questões sobre a origem do dinheiro e porque foi escondido das autoridades financeiras, apontando ainda um potencial conflito entre os negócios do presidente e os interesses do Estado.
Ramaphosa negou qualquer conduta desviante, insistindo que o dinheiro tinha origem na venda de animais da sua quinta, mas os partidos da oposição e opositores internos de Ramaphosa no partido Congresso Nacional Africano (ANC, sigla inglesa) pediram a sua demissão.
Os deputados devem debater o relatório da comissão parlamentar na próxima terça-feira, e votar as eventuais medidas a tomar, incluindo se o processo de impugnação ao presidente deve avançar.
Os deputados do ANC estão em maioria no parlamento e podem rejeitar tentativas de fazer cair o seu líder.
"O presidente está a analisar o relatório e uma comunicação será feita em breve", disse o gabinete de Ramaphosa, citado pela AP.
Segundo o relatório, o chefe de Estado disse que o montante em causa é de 580 mil dólares, contestando o valor inicial avançado por Fraser, que disse que o total roubado era de quatro milhões de dólares.
O relatório também questiona a explicação do chefe de Estado relativa à origem do dinheiro, que disse tratar-se de proveitos da venda de búfalos a um empresário sudanês, Mustafá Mohamed Ibrahim Hazim, interrogando-se sobre a explicação para os animais permanecerem na quinta mais de dois anos depois da alegada venda.
A comissão parlamentar indicou que a investigação do banco central referia que não havia qualquer registo da entrada dos dólares no país: "Não temos capacidade de verificar a origem da moeda estrangeira".
Ainda de acordo com a comissão parlamentar, Ramaphosa colocou-se a ele próprio numa situação de conflito de interesses, afirmando que as provas apresentadas "determinam que o presidente pode ser culpado de uma série de violações de certas secções da Constituição".
Entre as vozes que clamam pela demissão de Ramaphosa estão as da Aliança Democrática, o principal partido da oposição.