Covid-19: Artistas africanos voltam às ruas do Sal à procura dos turistas

     África           
  • Luanda     Sábado, 20 Fevereiro De 2021    09h13  
Um ângulo da cidade da Praia, Cabo Verde (arquivo)
Um ângulo da cidade da Praia, Cabo Verde (arquivo)
LUCAS NETO

Santa Maria, Cabo Verde - Artesãos e artistas africanos mantêm, por estes dias, o ritual, expondo os trabalhos pelas ruas de Santa Maria, ilha do Sal, procurando chamar a atenção dos poucos turistas, após vários meses sem negócio e sobrevivendo de poupanças.

Faustino Lopes, de 36 anos, trocou em 2017 o trabalho nas obras em Bafatá, Guiné-Bissau, para viver da paixão pela pintura, juntamente com o irmão, em Santa Maria, a cidade turística do Sal. Com a pandemia a dar tréguas em Cabo Verde, voltou agora a expor as dezenas de quadros que foi acumulando, junto ao calçadão da praia, esperando por dias melhores.

“Antes da covid-19 conseguia viver da pintura. Depois, sem os turistas para comprar os nossos quadros, vivemos com dificuldade”, começa por contar, à conversa com a Lusa enquanto espreita a passagem de turistas, coisa ainda rara pelo Sal.

Faustino aventurou-se nas artes plásticas ainda na Guiné-Bissau, mas foi no Sal que deu o salto, com quadros inspirados em paisagens, personagens ou simplesmente abstractos, que cuidadosamente espalha pela rua, para cativar os turistas, tal como fazia antes da pandemia.

“Os turistas gostam e levam muito. Agora menos, porque não há turistas. Mas antes da covid-19 estava bom”, reconhece.

Quase 820 mil turistas visitaram Cabo Verde em 2019, cerca de metade com destino ao Sal, à procura do sol e da praia da ilha mais turística de um país cujo Produto Interno Bruto (PIB) depende em 25% do turismo.

Para Faustino, que regularmente enviava as poupanças para a família em Bafatá, tudo mudou em Março de 2020, quando Cabo Verde encerrou as fronteiras, acabando-se os turistas a passear por Santa Maria. No Sal, o primeiro avião comercial voltaria a aterrar apenas em Dezembro, seguindo-se turistas portugueses e polacos, ainda insuficientes.

“Foram oito meses sem vender um quadro. Vivo com alguns fundos no banco, pouco a pouco fui tirando tudo”, desabafa.

Para já vai dedicando dois dias por semana à venda de quadros na rua, até porque já “começaram a aparecer alguns turistas”.

“Acredito que tudo vai voltar e ficar melhor”, atira.

Aos 43 anos, Samba Sou é um veterano a vender em Santa Maria o artesanato que trabalha, em madeira, com as próprias mãos e, claro, inspirado nas tradições africanas. Deixou o Senegal em 2006 para trabalhar no Sal, mas 2020 foi um ano “para esquecer”.

“Foi muito difícil. Aquela doença do coronavírus estragou tudo no mundo e aqui também, porque a ilha do Sal vive do sol e do turista”, explica.

Há um ano sem conseguir visitar a família no Senegal, Samba conta que a pandemia levou à inversão dos papéis. Hoje é ele a receber ajuda da família, à distância, além do apoio social das autoridades do Sal.

“Em nove meses não vendi nada, nove meses sem fazer negócio. Mas há gente em Cabo Verde que ajuda e eles [família] também mandam dinheiro para mim”, explica, à conversa com a Lusa, depois de preparar a pequena barraca que montou em Santa Maria para chamar a atenção dos turistas, polacos e portugueses, que por estes dias fazem férias no Sal.

Os cidadãos da Guiné-Bissau e do Senegal representam precisamente as duas maiores comunidades de imigrantes em Cabo Verde, trabalhando na construção civil e hotelaria, sendo igualmente as mais impactadas, além dos cabo-verdianos, pela crise económica decorrente da pandemia de covid-19.

Samba Sou admite que “agora está a começar” o movimento de turistas no Sal, apesar de a maioria dos hotéis, que garantem 15 mil camas para uma população residente de 35 mil pessoas, permanecerem fechados.

“Pouco a pouco, mas tem de aparecer mais. Vai ficar melhor”, diz Samba Sou, que embora tenha esgotado as poupanças garante que voltar a Senegal não está em cima da mesa.

“Voltar sim, mas não é para já. Os dias vão ser melhores aqui”, assume.





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