Joanesburgo - Um ano após o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus na África do Sul, o medo deu lugar à esperança, mas as autoridades avisam que "a batalha ainda não terminou" no país mais afectado pela pandemia no continente africano.
A 05 de Março de 2020 era detectada a primeira infecção, na província do KwaZulu-Natal, litoral do país, importada de Itália.
Desde então, as autoridades da saúde sul-africanas registaram 50.366 mortes associadas à covid-19 e mais de 1,5 milhões de pessoas infectadas com o coronavírus SARS-CoV-2, sendo hoje o KwaZulu-Natal a segunda província mais afectada do país, depois de Gauteng, com mais de 300 mil casos de infecção e cerca de mil mortes.
Hoje, "a batalha ainda não terminou, embora haja mais esperança um ano depois com a vacinação em curso", declarou o ministro da Saúde sul-africano, Zweli Mkhize, durante uma visita na manhã de hoje ao Grays Hospital, no KwaZulu-Natal, para assinalar a data.
"Tive de ligar para o Presidente e disse-lhe que esta é uma chamada que gostaria de nunca ter feito e que era para confirmar que tínhamos o primeiro paciente covid-19 positivo identificado na África do Sul", recordou Mkhize.
"Há muito mais esperança hoje do que o medo que nos abalou a 05 de Março de 2020. Vemos esperança, vemos optimismo, mas sabemos que ainda não acabou porque ainda temos que usar a máscara, que higienizar e manter o distanciamento social", sublinhou.
O Governo sul-africano declarou muito cedo o "estado de calamidade" após o aparecimento do vírus SARS-CoV-2 país em Março do ano passado, colocando em prática algumas das medidas de contenção mais rigorosas do mundo.
No domingo, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, assinalou que o país está "claramente fora da segunda vaga", destacando a queda acentuada do número de novas infecções desde o pico registado no início de janeiro.
Todavia, os especialistas sul-africanos em saúde pública consideram que a pandemia de covid-19 "veio para ficar" e, um ano depois, os sul-africanos procuram encontrar uma "nova normalidade" perante o agravamento das desigualdades sociais e da situação orçamental do país, que era frágil antes da crise sanitária e que se deteriorou acentuadamente no ano passado.
"A situação é preocupante tanto a nível global como aqui na África do Sul, perdemos imensos postos de trabalho e negócios, há empresas que encerraram de vez, a recuperação está a ser mais lenta do que se antecipava no ano passado", disse a ministra do Turismo, Mmamoloko Kubayi-Ngubane.
O desemprego atingiu um nível recorde histórico no país no final de 2020, com mais de 11 milhões de desempregados, ou seja, 32,5% da população, principalmente a faixa de trabalhadores entre os 25 e 34 anos.
"Este ano estamos confrontados com um exercício de equilíbrio excecionalmente difícil", reconheceu o ministro das Finanças, Tito Mboweni, na apresentação do Orçamento de Estado, apresentado em 24 de fevereiro ao parlamento sul-africano.
"De um lado, há uma pandemia muito agressiva (...), do outro, uma economia fraca, com uma taxa de desemprego maciça", frisou.
A África do Sul, a economia mais industrializada do continente, foi fortemente afectada pela covid-19 e fez da vacinação uma prioridade, destinando 568 milhões de euros a este programa no Orçamento do Estado.
A campanha de vacinação, ainda lenta, só começou em Fevereiro, e os cientistas locais temem a chegada da terceira vaga com a aproximação do inverno, entre Maio e Junho.
Pelo menos 83.570 funcionários da saúde foram vacinados desde 17 de Fevereiro, na primeira fase do programa de vacinação, com o primeiro lote de vacinas da farmacêutica Johnson & Johnson, segundo as autoridades da saúde.
A meta do Governo sul-africano é vacinar dois terços da população de 59 milhões de habitantes até ao final do ano.