Nairobi - O continente africano ultrapassou as 100 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus enfrentando neste momento um perigoso aumento dos casos e numa altura em que se verifica uma escassez de equipamentos de oxigénio.
Os dados são do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana.
O continente composto por 54 Estados e habitado por 1,3 mil milhões de pessoas está longe de conseguir lotes de vacinas contra o covid-19 enquanto a variante sul-africana do vírus faz temer o aumento do número de contágios.
De acordo com a Associated Press, as autoridades de saúde dos vários países africanos que no ano passado mostraram algum alívio quanto à expansão da pandemia demonstram agora preocupação devido ao aumento do número de óbitos provocados pela doença.
Comparando com os meses anteriores, em Janeiro as mortes provocadas pelo covid-19 aumentaram 40% em África, de acordo com a responsável da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o continente, Mathsidiso Moeti.
Na semana passada, o responsável disse aos jornalistas que nas últimas quatro semanas tinham morrido mais de 22 mil pessoas de covid-19 em África.
O aumento do número de óbitos foi um "trágico aviso que indica que os profissionais de saúde e os sistemas dos vários países em África estão - perigosamente - em ruptura" disse a mesma responsável.
África atingiu as 100 mil mortes confirmadas de SARS CoV-2 pouco depois de se ter assinalado um ano sobre o primeiro caso de contágio detectado no continente: no Egipto no dia 14 de Fevereiro de 2020.
Por outro lado, os especialistas referem que por todo o continente muitas pessoas têm morrido da doença apesar dos óbitos não constarem das listas oficiais de vítimas mortais.
A África do Sul é o país mais atingido do continente tendo registado um aumento de 125 mil mortes provocadas "por causas naturais" entre os dias 03 de Maio de 2020 e o passado dia 23 de Janeiro.
Apesar de não ser seguro que estas mortes foram provocadas pelo novo coronavírus existe uma "correspondência directa entre o excesso de mortes e o aumento dos casos confirmados por covid-19 em todas as províncias, naquele período de tempo", disse o Conselho de Investigação Médica da África do Sul.
Como a maioria dos países africanos não dispõe de meios para rastrear a mortalidade não é possível ainda apurar o excesso de óbitos em todo o continente desde o início da pandemia.
"Não estamos a contar todas as mortes, especialmente as que ocorreram na segunda vaga", disse John Nkengasong do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana.
O virologista camaronês acrescentou que apesar de "não se ver um aumento massivo de mortes" a maior parte das pessoas no continente conhecem alguém que morreu de covid-19.
"As pessoas estão a morrer devido à falta de cuidados básicos", alertou acrescentando que se verifica uma falência de meios médicos como aparelhos de respiração assistida.
Neste momento, 21 países em África registam um número respeitante à mortalidade muito superior à média dos anos anteriores, disse Nkengasong referindo-se em concreto ao Sudão, Egipto, Libéria, Mali e Zimbabwe.
Os casos de morte por doença são mais elevados do que a média de 2,6% registada nos anos anteriores à pandemia.
"A segunda vaga veio com muita força em parte por causa da nova variante (da África do Sul), e porque se verificaram condições de 'super disseminação'" como o período de férias, disse Salim Abdool Karim, conselheiro do governo sul-africano para as questões relacionadas com a pandemia de covid-19.
No caso da Tanzânia não se conhece o exacto número de mortes por covid-19 e mesmo de infecções porque o país de 60 milhões de habitantes deixou de actualizar os números no passado mês de Abril.