Lilongwe - Mais de 16 mil doses de vacina atingiram a data de validade e serão destruídas no Malawi, três semanas depois de terem chegado, anunciou hoje Charles Mwansambo, ministro da Saúde do pequeno país da África Austral, vizinho de Moçambique.
Das 102 mil doses de vacinas contra a covid-19 enviadas pela União Africana (UA), cerca de 16.400 não foram utilizadas e expiraram na terça-feira, anunciou Mwansambo, em declarações à agência France-Presse (AFP).
De um total de 530 mil doses recebidas no país através do programa Covax, Governo indiano e UA, todas produzidas pela AstraZeneca, 46% foram ministradas até agora, acrescentou o governante.
"Utilizámos a maior parte das vacinas enviadas pela UA. Na terça-feira, quando expiraram, restavam apenas 16.400, que não tinham sido utilizadas e que agora serão destruídas e deitados fora", afirmou.
Desde o primeiro ciclo de vacinação em Março, o Malawi vacinou 300 mil pessoas de um universo potencial de 11 milhões de pessoas, cerca de 60% da população, ainda de acordo com o ministro.
Chipiliro Chilinjala, um cidadão com 30 anos, admitiu à AFP que não tem "pressa" de ser vacinado. "Circulam muitas histórias estranhas. Quero ver as reacções das primeiras pessoas vacinadas antes de ir", disse.
O sociólogo Innocent Komwa confirmou à agência de notícias que a apatia com que foi recebida a campanha de vacinação se deve provavelmente à força das teorias da conspiração e da desinformação.
"No Malawi, temos muitos adultos que continuam bloqueados na fase contemplativa, que precisariam de um pequeno empurrão para se decidirem", afirmou.
"Infelizmente, o Governo e os oficiais de saúde não têm feito muito para contrariar as notícias falsas, os rumores, especialmente em torno da AstraZeneca na Europa", acrescentou.
O imunologista Gama Bandawe teme o impacto dos atrasos na campanha de vacinação em curso no país, em particular, quando a pandemia recuperar forças, provavelmente em meados do ano, segundo prevê.
"Estamos à espera de picos nas próximas seis a oito semanas. Vamos estar numa situação em que poderíamos realmente ter usado estas vacinas", afirmou o especialista, que preside ao Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Ciência e Tecnologia do Malawi.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.961.387 mortos no mundo, resultantes de mais de 137,4 milhões de casos de infecção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
África totaliza 116.265 vítimas mortais do novo coronavírus e 4.369.844 infectados, segundo os dados oficiais da pandemia na região.
De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número total de recuperados nos 55 Estados-membros da organização é de 3.924.455.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.