Genebra - A crise climática terá sérios impactos em África, onde o aumento das temperaturas, a subida do nível do mar e fenómenos climáticos extremos frequentes ameaçam a saúde e a segurança de milhões de pessoas, segundo um estudo da ONU.
O relatório anual sobre o estado do clima em África, publicado hoje pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas, revela, por exemplo, que a subida do nível do mar nas costas orientais de África é superior a cinco milímetros por ano, ou seja, acima da média global, de três e quatro milímetros.
Além disso, 56 por cento das costas de vários países da África Ocidental, como Senegal e Costa do Marfim, estão a sofrer uma rápida erosão, adverte o estudo, que prevê também "efeitos devastadores na produção de culturas e na segurança alimentar".
Secas, pragas e inundações irão afectar 13 por cento dos rendimentos agrícolas na África Ocidental e Central, 11 por cento no norte do continente e oito por cento no leste, refere o estudo, que prevê efeitos particularmente adversos nas culturas de arroz e trigo.
O documento também aponta para um aumento de doenças como resultado do aquecimento global, entre elas a malária, porque os mosquitos portadores são cada vez mais capazes de viver em áreas mais altas da África Oriental.
A OMM estima no mesmo relatório os efeitos económicos adversos que o aquecimento global poderia ter em África.
Pelas contas daquela agência da ONU, os efeitos do aquecimento global poderão significar um corte entre 2,2 e 12,1 por cento do PIB do continente, se a temperatura média subir entre um e quatro graus, com efeitos mais severos na zona equatorial.
O documento aponta que, em 2019, o continente sofreu catástrofes climáticas, como o ciclone Idai, que causou centenas de milhares de deslocados nos países do sudeste (Moçambique, Zimbabué, Maláui e Madagáscar), enquanto que o Corno de África e o Sahel sofreram várias cheias.
"As alterações climáticas estão a afectar cada vez mais o continente africano, e cada vez mais os mais vulneráveis e contribuindo para a insegurança alimentar e o deslocamento de populações", concluiu o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, ao apresentar o relatório.
O finlandês recordou que nos últimos meses África também foi afectada por pragas de gafanhotos do deserto, podendo agora sofrer secas devido à influência do fenómeno La Niña, e o custo humano e económico destas e outras catástrofes foi agravado pela pandemia da covid-19.