Deslocamento infantil no Sudão pode matar mais que a guerra

     África           
  • Luanda     Sexta, 09 Fevereiro De 2024    15h34  
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Joaquina Bento

Amã, Jordânia - A agência das Nações Unidas para a infância (UNICEF) disse hoje que "a guerra brutal" no Sudão causou a maior crise de deslocamento infantil mundial e uma desnutrição generalizada que ameaçam matar "muito mais crianças que o próprio conflito".

"A UNICEF regista níveis recorde de internamentos para tratamento de desnutrição aguda grave (SAM) - a forma mais mortal de desnutrição - nas áreas onde pode chegar a assistência humanitária", afirma a organização num comunicado.

Mas "as condições em zonas inacessíveis devido aos combates - onde as crianças têm necessidades mais urgentes - são sem dúvida piores", sublinha-se na nota.

Por isso "estima-se que 3,5 milhões de crianças sofram de desnutrição aguda este ano, incluindo mais de 700 mil que deverão sofrer de SAM e necessitar de tratamento especializado, ininterrupto e para que se salve vidas", adianta a UNICEF.

Além disto, a organização realça que cerca de três milhões de crianças estão deslocadas internamente no país desde o início do conflito armado que dura há quase 300 dias - para além dos dois milhões de pessoas que já estavam deslocadas desde crises anteriores - sendo assim "o maior número de crianças deslocadas internamente a nível mundial".

Há relatos que apontam para um potencial aumento dramático das mortes entre crianças em locais de deslocamento gravemente superlotados e insalubres, onde a propagação de doenças representa um risco de morte para as crianças que sofrem de SAM, que têm até dez vezes mais probabilidade de sucumbir à doença do que uma população saudável.

A somar a tudo isto, os profissionais de saúde não são pagos há meses no Sudão e mais de 70% das instalações de saúde em zonas afectadas por confrontos já não funcionam e dois terços da população não têm acesso a cuidados de saúde, revela-se na nota.

"Só o número de casos de cólera mais do que duplicou no último mês, com mais de 10 mil casos suspeitos e 300 mortes, 16% entre crianças menores de 5 anos, registadas no final de Janeiro", sublinha-se. Isto além dos surtos de sarampo em áreas que acolhem um grande número de crianças deslocadas.

"Temos um período extremamente curto para evitar uma perda massiva de vidas", afirma a Directora Executiva do UNICEF, Catherine Russell, citada no comunicado, apelando ao acesso seguro às zonas de conflito e à ajuda internacional.

A mais recente análise da segurança alimentar no Sudão revelou "os níveis mais elevados de fome alguma vez registados durante a época de colheita de Outubro a Fevereiro", após a recente propagação da insegurança ao estado de Al Jazira, o celeiro do país.

Perante este cenário, a Unicef considera que "partes de Cartum, Cordofão e Darfur enfrentarão um risco elevado de condições catastróficas de fome na próxima época de escassez, que poderá começar já em Março deste ano", se não houver um aumento significativo da ajuda internacional.

E adianta no comunicado que "é particularmente crítico levar suprimentos humanitários para Darfur", palco de alguns dos piores combates, zona que acolhe mais de um terço da população deslocada e onde se prevê que mais de 200.000 crianças sofram de SAM.

A UNICEF é o único fornecedor de alimentos terapêuticos prontos para serem usados para tratar crianças.

As partes em conflito no Sudão concordaram reunir-se sob a égide das Nações Unidas para discutir a ajuda humanitária, numa data ainda por determinar, anunciou a ONU.

A guerra no Sudão decorre desde 15 de Abril de 2023 entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF, na sigla em inglês) do general Mohammed Hamdane Daglo, o antigo número dois das forças armadas. Os esforços diplomáticos para negociar a paz falharam até agora.

A ONU declarou no mesmo dia que necessitava de 4,1 mil milhões de dólares (3,8 mil milhões de euros) para satisfazer as necessidades humanitárias da população do Sudão e dos sudaneses que fugiram para os países vizinhos. JM



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