Libreville - Dois homens foram mortos a tiro na quinta-feira à noite em manifestações contra restrições por causa da covid-19 na capital do Gabão, disse hoje a polícia e o Ministério Público, acusando os manifestantes de violarem o recolher obrigatório.
Nos últimos três dias, os residentes da capital do Gabão e de outras grandes cidades do país têm vindo a protestar contra as medidas, batendo em tachos e panelas na hora do recolher obrigatório, mas, na noite de quinta-feira, estes encontros esporádicos degeneraram em confrontos com a polícia.
Nos bairros populares da capital, Libreville, "as pessoas que montaram as barricadas receberam a polícia com pedras, 'cocktails' Molotov e barras de ferro", disse o general Serge Hervé Ngoma, o chefe da Polícia Nacional, numa declaração filmada.
"Em circunstâncias que permanecem pouco claras, dois dos infractores de Libreville sofreram ferimentos de bala e morreram na sequência disso", acrescentou.
"Foi aberto um inquérito administrativo e, se se verificar que foram cometidos erros, o que ainda falta provar, os responsáveis serão punidos", acrescentou o chefe da polícia.
Os dois homens foram feridos a tiro e não conseguiram salvar-se, "apesar de terem sido levados para o hospital", disse André Patrick Roponat, procurador do Ministério Público de Libreville, acrescentando que a entidade abriu um inquérito judicial para esclarecer as circunstâncias das duas mortes.
Segundo o magistrado, "pessoas encapuçadas, num carro, abriram fogo".
Alguns meios de comunicação social divulgaram que as duas vítimas são homens jovens, um dos quais era estudante na Universidade de Libreville.
O Gabão prorrogou o seu recolher obrigatório há uma semana, passando este a ser a partir das 18h00 em vez das 20h00, e proibiu as pessoas de entrarem e saírem da capital para as províncias, a fim de travar um "aumento preocupante" do número de casos Covid-19.
Os bares e discotecas estão fechados há quase um ano e, apesar de um estrito confinamento durante a primeira vaga de covid-19, ter sido levantado em Maio de 2020, sectores inteiros da economia e, sobretudo, a economia informal, da qual vivem inúmeras famílias, foram afectados, desencadeando estes recentes movimentos de raiva.
Este pequeno país da África Central, com uma população de pouco menos de 2 milhões de habitantes, tem sido relativamente poupado pela pandemia, com 13.553 casos oficialmente registado desde os primeiros há um ano, e 75 mortes até à data.
Mas, "a segunda vaga" que o país "está a atravessar é mais do que terrível", disse hoje o ministro da Saúde, Guy Patrick Obiang Ndong.
"Em menos de dois meses, registámos mais de 4.000 casos positivos de covid-19", o que corresponde a cerca de um terço do total ao longo de um ano, continuou. Um caso de variante britânica foi oficialmente detectado, adiantou.
África registou nas últimas 24 horas mais 454 mortes por covid-19, ultrapassando as cem mil mortes desde o início da pandemia (100.294), e 13.140 novos casos de infecção, segundo os dados oficiais mais recentes no continente.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.441.926 mortos no mundo, resultantes de mais de 110,2 milhões de casos de infecção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
