Monróvia - O antigo líder rebelde do Movimento Unido de Libertação da Libéria para a Democracia (ULIMO), Joshua Milton Blahyi, anunciou que se tornou um pastor evangelista e que percorre há 15 anos os bairros pobres de Monróvia para tirar ex-crianças-soldados das drogas e do crime, noticiou hoje a AFP.
Mais conhecido por "General Butt Naked" ("traseiro nu", em tradução livre), o ex-chefe de guerra apoiava o presidente Samuel Doe, cujo assassinato desencadeou uma das guerras mais violentas do continente africano, com 250 mil mortos entre 1989 e 2003.
"Na minha opinião, essas crianças são vítimas. Não são criminosos. Nós as fizemos pegar em armas e consumir drogas. Agora quero consertar esse erro", declarou .
Com este objectivo, construiu um complexo cercado por altos muros, 25 km ao norte da capital, onde quase 500 ex-crianças-soldados receberam, segundo ele, aulas de carpintaria, encanamento e pintura.
"Geralmente, conto a eles a minha própria história, depois peço que façam o mesmo, oferecendo a sua vida a Cristo e afastando-se das drogas", explica o pastor.
Uma ex-criança-soldado, Titus Sylvester-Borbor, hoje com 33 anos, afirma que o ex-comandante rebelde o ajudou a abandonar os vícios e a seguir a vida universitária.
"Agora os meus pais estão felizes, aceitaram que eu volte para eles", contou. Muitas crianças foram rejeitadas pelos familiares após a desmobilização.
Actualmente Joshua Milton Blahyi milita para que os ex-chefes de guerra, incluindo ele mesmo, sejam julgados.
"Destruí os filhos de tanta gente", disse. "Se me recuso a responder por isso, a mesma violência que comecei vai alcançar a mim e aos meus filhos", acrescenta.
Autor de atrocidades durante a guerra civil na Libéria, o temido "ex-general Butt Naked" espalhou o terror na liderança de uma tropa de jovens soldados sem roupa e drogados, conhecidos pela crueldade e admiração pela magia durante a primeira guerra civil (1989-1997).
Em 2008, o ex-líder rebelde confessou a uma Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR) o assassinato de milhares de pessoas. Alegou que durante a guerra tinha "poderes mágicos" porque quando tinha 11 anos foi iniciado numa sociedade secreta tradicional.
"Toda vez que tomávamos uma cidade, eu tinha que fazer um sacrifício humano para manter o meu poder. Traziam-me uma criança viva e eu retirava o seu coração e comia", explicou à comissão, depois de calcular que matou pessoalmente "pelo menos 20 mil" pessoas.
Há 15 anos, o ex-chefe rebelde, convertido ao cristianismo, procura ex-crianças combatentes - agora adultos - nos bairros pobres de Monróvia.