Mbabane - O Governo de Essuatíni (antiga Suazilândia) reiterou hoje a sua proposta de realizar um diálogo nacional, liderado pelo rei Mswati III, devido a onda de constatação que se assiste nos últimos dias no país.
"A Constituição ainda é eficaz e operacional no reino, pelo que não será suspensa nem descartada mesmo quando o processo de diálogo começar. Se houver alterações, elas serão feitas em total conformidade com as disposições da Constituição", disse o primeiro-ministro, Cleopas Sipho Dlamini, numa conferência de imprensa.
"Estamos desapontados por alguns sectores da sociedade já estarem a expressar desconfianças acerca deste diálogo", acrescentou.
Dlamini deixou claro que "em circunstância alguma" aceitará exigências como a criação de uma autoridade de transição - exigida pelos setores da oposição como condição para dar luz verde ao diálogo proposto pelo rei - e criticou o facto de já estarem a ser planeados novos protestos e greves, como os que são pedidos para quinta-feira.
"Perguntamo-nos qual será o objectivo das marchas se 'Sua Majestade' já se empenhou no diálogo (...) Esperamos que todos os essuatinianos atendam ao apelo ao diálogo e se mantenham afastados das ruas, uma vez que isto levou à violência e à intimidação", afirmou.
A última monarquia absoluta de África mostra-se inflexível face às exigências feitas pela oposição e pelos sectores críticos do regime Mswati III, que estão a liderar as mobilizações sociais pró-democracia atualmente no país.
De acordo com relatórios da polícia transmitidos pela televisão pública local, a repressão destes protestos já causou pelo menos 37 mortes.
Dada a intensidade das manifestações, o monarca confirmou no sábado, através dos seus porta-vozes, a aceitação de um diálogo nacional para apaziguar o descontentamento, mas anunciou que este seria realizado sob a forma de um conselho nacional tradicional, chamado Sibaya e liderado pelo próprio Mswati III.
Os críticos rejeitaram imediatamente esta fórmula e transmitiram as suas próprias condições para aceitarem participar num processo de diálogo, tais como uma mediação internacional imparcial, a legalização dos partidos políticos e a criação de uma autoridade de transição.
Exigem também o regresso dos exilados, a libertação dos presos políticos e que as conversações conduzam a uma nova Constituição democrática e a eleições livres.
Esta nova onda de manifestações pró-democracia em Essuatíni começou há várias semanas, impulsionada principalmente por estudantes, mas intensificou-se a partir de 18 de Outubro, e abrange agora todos os setores, tais como os transportes e a saúde.
Estes protestos foram considerados o movimento de oposição mais sério da história recente contra a última monarquia absoluta remanescente no continente africano.
O reino de Essuatíni, que está sob o domínio de Mswati III desde 1986, tem uma população de 1,2 milhões de pessoas, principalmente do meio rural. Cerca de 60 por cento da sua população vive abaixo do limiar de pobreza, de acordo com dados do Banco Mundial.
A situação social contrasta com a vida luxuosa desfrutada por Mswati III e pela sua família, de acordo com os críticos do regime.