Addis Abeba - As autoridades etíopes admitiram hoje que forças leais ao Governo de Abiy abriram fogo no domingo contra uma equipa da ONU que tentava alcançar parte da região de Tigray, no norte do país.
De acordo com a mesma fonte, o acesso humanitário àquela região, privada de abastecimento há mais de um mês devido a um conflito, está sujeito ao sinal verde do Governo.
Um alto funcionário confirmou esta terça-feira que as forças de segurança da Etiópia atacaram e detiveram funcionários das Nações Unidas, culpando os funcionários da ONU por tentarem alcançar áreas onde "não deveriam ir".
O tiroteio ocorreu num momento de frustração crescente entre as forças humanitários, uma vez que a ajuda desesperadamente necessária ainda não está a chegar livremente a Tigray, mais de uma semana depois de a ONU e o Governo da Etiópia terem assinado um acordo para terem acesso livre àquela região.
O porta-voz do governo etíope, RedwanHussein, disse aos jornalistas que os funcionários da ONU "quebraram" dois postos de controlo e estavam a tentar passar por um terceiro quando foram alvejados. Ele disse que os funcionários já foram libertados.
Os responsáveis da ONU ainda não fizeram qualquer comentário.
O Governo da Etiópia está a deixar claro que pretende administrar o acesso humanitário à região, mas a ONU pretende um acesso "sem impedimentos". O acordo permite ajuda apenas em áreas controladas pelas forças federais.
Em Novembro, o Governo da Etiópia reivindicou vitória no conflito contra a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês), afirmando que os combates pararam.
No entanto, a TPLF disse que os combates continuam em várias zonas, colocando em risco o fornecimento de alimentos, remédios e outras ajudas para cerca de seis milhões de pessoas - cerca de um milhão delas deslocadas.
"Recuperar o acesso aos refugiados e outras pessoas necessitadas é urgente e crítico", twitou o alto-comissario da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, numa altura em que crescem temores de cerca de 100.000 refugiados da Eritreia presos no conflito.
Numa outra declaração, o secretário-geral do Conselho Norueguês dos Refugiados, Jan Egeland, disse que a sua organização está "profundamente preocupada" em descobrir que o acesso humanitário à região ainda é significativamente restrito.
"Essas pessoas não podem mais ser obrigadas a esperar. A ajuda não deve ser paralisada. Há semanas que estamos prontos para entregar comida, abrigos de emergência e outros materiais essenciais, e esperamos que este acordo abra o caminho", afirmou.
A ONU anunciou o acordo com o Governo da Etiópia na última quarta-feira, dizendo que foi assinado em 29 de Novembro.
Os combates na região entre o Governo e o TPLF eclodiram a 04 de Novembro, após meses de tensões crescentes. Desde então, camiões carregados de ajuda aguardam nas fronteiras de Tigray, mesmo com os avisos a tornarem-se cada vez mais terríveis sobre a falta de comida, combustível, água potável, dinheiro e outras necessidades.