Maputo - O ministro da Defesa Nacional moçambicano, Cristóvão Chume, confirmou hoje ataques de insurgentes em quatro distritos da província de Cabo Delgado, mas garantiu que não se trata do "recrudescimento" das actividades terroristas no norte.
"Eu quero dizer que não é isso que está a acontecer, porque se fosse efectivamente isso, estaríamos a dizer que há distritos ou sedes distritais que estão ocupadas, sem acesso das populações. O que aconteceu é que há grupos pequenos de terroristas que saíram dos seus quartéis, lá na zona de Namarussia - que temos dito que é a base deles -, foram mais a sul, atacaram algumas aldeias e criaram pânico", disse Cristóvão Chume, após um encontro com uma missão de alto nível da União Europeia, em Maputo.
A presidente do Comité Político e de Segurança da União Europeia (UE), embaixadora Delphine Pronk, termina hoje uma visita a Moçambique, durante a qual estão a ser recolhidos elementos com vista à decisão sobre a continuidade da Missão de Treino da União Europeia em Moçambique (EUTM-MOZ), liderada por Portugal e cujo mandato termina este ano.
Esta missão em Maputo surge numa altura em que milhares de pessoas fugiram das suas aldeias no sul de Cabo Delgado nas últimas semanas, após vários ataques por grupos terroristas - que se registam desde 2017 -, procurando segurança noutros distritos daquela província e na vizinha província de Nampula.
"A situação na província de Cabo Delgado continua estável, não obstante as últimas ocorrências no sul da província de Cabo Delgado. Como se sabe, algumas aldeias nos distritos de Quissanga, Metuge, Ancuabe, Chiùre, sofreram alguns ataques, que originaram um deslocamento da população mais a sul, para a província de Nampula, e também para outros distritos de Cabo Delgado", reconheceu o ministro, sobre a informação prestada à delegação da UE.
O ministro acrescentou que "continua o comprometimento por parte das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e seus parceiros em combater e aniquilar o terrorismo na província de Cabo Delgado".
"Quero aqui dizer que dois ou três terroristas armados que chegam numa aldeia, em que não está lá a Polícia ou as Forças Armadas, disparam para o ar, queimam duas ou três casas, na era das comunicações que temos ao nosso dispor, a mensagem é difundida muito rapidamente e cria não só o pânico naquelas aldeias, mas, claro, pânico nacional e internacional", reconheceu Chume.
Também explicou que Moçambique voltou a sublinhar nesta reunião que "o combate ao terrorismo, não só em Moçambique, mas em todas partes do mundo", é "difícil, que precisa de coragem, de unidade de esforços e, principalmente, que não haja muita ansiedade por parte da comunidade nacional para ouvir resultados imediatos".
"O processo de radicalização que acontece onde há terrorismo, significa muitas das vezes compra de mentes, compra de pessoas, enraizamento do terrorismo também nas comunidades. Então, é um combate em que não só temos uma frente militar, isso realçamos, que a frente militar é a face mais visível", disse.
Se acordo com o governante, é preciso apostar em programas de desenvolvimento para "minimizar o risco de radicalização" e "prevenir a reemergência do terrorismo".
Ainda assim, alertou: "Não queremos dizer com isso que não há ocorrências de terrorismo, há sim. E nós vamos continuar a combater, mas não há de voltar a acontecer o que aconteceu no passado. Nós estamos firmes nisso, mas vamos assistir a situações como estas que aconteceram em Chiùre, em Metuge, e outras zonas, de haver alguns ataques que não poderemos evitar".
Chume disse ainda que já há deslocados, desta nova vaga de ataques, a voltar às aldeia de origem.
"Também ouvimos da parte da União Europeia o comprometimento em continuar os esforços de apoio a Moçambique, não só nesta missão de treino, mas em outros vectores necessários para prevenir e combater o extremismo violento, como seja o caso, por exemplo, no desenvolvimento económico-social ou na província de Cabo Delgado e não só", concluiu. JM