Dar es Salaam - A morte do Presidente tanzaniano, John Magufuli, pode levar a que a sua vice-presidente, Samia Suluhu Hassan, muçulmana de 61 anos, se torne na primeira mulher a ocupar o cargo de chefe de Estado neste país da África Oriental.
De acordo com a Constituição da Tanzânia, a vice-presidente deve ocupar agora a presidência do país até ao final do mandato de Magufuli, que expira em 2025.
Foi precisamente Suluhu Hassan quem anunciou a morte de Magufuli na noite de quarta-feira, num discurso à nação que pôs fim a semanas de especulação sobre a ausência do chefe de Estado, reeleito em Outubro e que não era visto desde final de Fevereiro.
Natural do arquipélago semi-autónomo de Zanzibar, cujas relações com a Tanzânia continental são historicamente tensas, Suluhu Hassan era já a primeira vice-presidente da história do seu país, tendo concorrido ao lado de Magufuli quando este chegou ao poder, em 2015.
"Posso parecer educada e posso não gritar quando falo, mas o mais importante é que todos compreendam o que estou a dizer e que as coisas sejam feitas como eu digo", afirmou Suluhu Hassan em 2020.
Nascida em 27 de Janeiro de 1960 em Zanzibar no seio de um pai professor e de uma mãe dona de casa, Suluhu Hassan é mestre em Desenvolvimento Económico Comunitário pela Universidade Livre da Tanzânia e pela Universidade do Sul de New Hampshire, nos Estados Unidos da América.
Iniciou a sua carreira profissional no Governo de Zanzibar, onde trabalhou entre 1977 e 1987, desempenhando funções administrativas e, mais tarde, como responsável pelo desenvolvimento.
Ainda no arquipélago semi-autónomo, juntou-se ao Programa Alimentar Mundial e, mais tarde, dirigiu a associação de organizações não-governamentais (ONG) locais durante dois anos.
A sua carreira política teve início em 2000, com a nomeação para deputada no parlamento de Zanzibar pelo partido presidencial Chama Cha Mapinduzi (CCM), partido que ainda hoje se mantém no poder. Por este partido viria a ser eleita para a Assembleia Nacional tanzaniana.
Ao longo da carreira política, Suluhu Hassan desempenhou por várias vezes o cargo de ministra. Primeiro em Zanzibar, entre 2000 e 2010, como ministra das Mulheres e Juventude, depois do Turismo e Comércio, e, a nível nacional, foi ministra dos Assuntos Sindicais sob o antigo Presidente Jakaya Kikwete.
Depois das eleições de 2015 e com a conquista do lugar de vice-presidente, um papel que normalmente fica em segundo plano, Suluhu Hassan era o rosto da Tanzânia no estrangeiro, representando regularmente Magufuli.
Caso Suluhu Hassan chegue mesmo a chefe de Estado da Tanzânia, esta juntar-se-á a Sahle-Work Zewde, Presidente da Etiópia, embora esta última desempenhe um papel mais cerimonial.
O CCM, partido de Magufuli e Suluhu Hassan, anunciou hoje que o seu comité central irá reunir-se no sábado.
Magufuli morreu na quarta-feira aos 61 anos devido a doença cardíaca em Dar es Salaam, capital económica da Tanzânia.
De acordo com as autoridades, o Presidente estava internado num hospital desde a semana passada por doença e "tinha um problema cardíaco há vários anos".
Há semanas que circulavam rumores sobre a saúde de Magufuli, que davam conta de que teria procurado ajuda médica no estrangeiro, depois de ter sido infectado com o novo coronavírus, de acordo com a oposição no país.
Magufuli era um dos mais proeminentes negacionistas africanos da gravidade do novo coronavírus, tendo afirmado que a Tanzânia estava "livre" de covid-19, em virtude das orações dos tanzanianos.
Reeleito em Outubro, Magufuli, apelidado de "bulldozer", chegou ao poder em 2015, prometendo combater a corrupção.
O seu primeiro mandato foi marcado, segundo muitas organizações de direitos humanos, por uma deriva autoritária, repetidos ataques à oposição e o recuo das liberdades fundamentais.