Niamey - Na primeira volta das eleições presidenciais, o Níger provou mais uma vez que pode realizar uma votação de forma transparente, um exemplo para os seus vizinhos, apesar da crescente insegurança que assola o país.
Nenhum dos dois candidatos presidenciais do Níger conseguiu vencer na primeira volta. Mohamed Bazoum, que chegou em primeiro lugar a 02 de Janeiro, enfrentará o ex-presidente Mahamane Ousmane numa segunda volta prevista para 20 de Fevereiro. Mas a essa altura, pode-se dizer que o grande vencedor é a democracia.
O Níger organizou uma série de eleições em Dezembro, inicialmente com as municipais e regionais no dia 13, depois as presidenciais e legislativas no dia 27.
"Essas eleições ocorreram em boas condições", disse o jornalista e ensaísta Seidik Abba ao canal televisivo France 24, especialista em grupos terroristas na zona do Sahel.
"Não houve questionamento sobre a votação nem recurso aos tribunais eleitorais. Nem da parte do Governo nem da oposição. Neste ponto, o Níger consolida a sua experiência democrática", sublinhou.
O Níger não está na sua primeira eleição bem-sucedida. Esta jovem democracia africana, cuja constituição só foi aprovada por referendo em 1992, nunca teve resultados eleitorais perturbadores. “O facto de que o presidente cessante, Mahamadou Issoufou, possa entregar o poder a um presidente eleito faz do Níger um modelo para os países vizinhos da região que deve ser aplaudido”, prossegue o autor do livro “Voyage au cœur de Boko Haram".
Porém, a situação da segurança no país está longe de ser exemplar. No momento da proclamação dos resultados da primeira volta das eleições presidenciais, ataques terroristas simultâneos, perpetrados em plena luz do dia, deixaram pelo menos 100 mortos em duas aldeias próximas à fronteira com o Mali. Esses ataques são os mais mortíferos cometidos por jihadistas contra civis no Sahel, de acordo com a ONG ACLED, que reporta os ataques na região. As autoridades do Níger declararam três dias de luto nacional.
Nenhuma reivindicação oficial foi emitida após este ataque ocorrido entre as duas voltas das eleições presidenciais no Níger, nem sobre a explosão de uma mina artesanal que matou dois soldados franceses no mesmo dia em Ménaka, no nordeste do Mali, a algumas centenas de quilómetros mais ao norte, do outro lado de uma fronteira muito porosa.
Mais cedo, a 21 de Dezembro, seis dias antes da eleição presidencial, sete soldados nigerianos já haviam sido mortos numa emboscada na mesma região.
Vítimas dos ataques do grupo jihadista nigeriano Boko Haram e de grupos do Sahel afiliados à Al-Qaeda e à organização do Estado Islâmico, as autoridades lutaram durante 10 anos para pacificar esta zona que se estende do oeste do país - até a fronteira com o Mali e o Burkina Faso - ao sudeste - na fronteira com a Nigéria.