Praia - O PAICV, maior partido da oposição cabo-verdiana, criticou hoje a nomeação do ex-autarca da Praia, derrotado na votação de outubro, para governador do banco central, a três meses das eleições legislativas, classificando-a como um exemplo de nepotismo.
A posição foi assumida pela presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, através de uma mensagem colocada na sua conta oficial na rede social Facebook, criticando a nomeação de Óscar Santos para o cargo de governador do Banco de Cabo Verde pelo Governo apoiado pelo Movimento para a Democracia (MpD, maioria desde 2016).
"Será normal fazer-se uma nomeação desta envergadura a, aproximadamente, três meses das próximas eleições? E será normal que esta nomeação seja feita exatamente por quem tenha dito que o seu partido é Cabo Verde e, ainda, por quem havia prometido que iria despartidarizar a 'máquina' pública?", questionou, na mensagem, a líder do PAICV, partido que esteve no poder entre 2001 e 2016.
Óscar Santos, que concorreu e falhou um novo mandato como presidente de Câmara da Praia pela lista do MpD nas eleições de 25 de Outubro, sucede a João Serra, ex-ministro das Finanças do Governo PAICV e nomeado pelo anterior executivo para aquelas funções, que assumiu durante um único mandato, de cinco anos.
Janira Hopffer Almada recordou que a maioria classificou que essa nomeação, em 2014, "punha em causa a 'confiança do Sistema Financeiro'".
"Hoje, a nomeação de um ex-presidente da câmara municipal já não põe em causa a confiança do sistema financeiro? Ontem, a nomeação de um ex-ministro era considerada, por alguns, como um acto de 'nepotismo e clientelismo'! Hoje, a nomeação de um ex-presidente da câmara municipal, mais concretamente da Praia, não é nepotismo, nem clientelismo", questionou, exigindo explicações do Governo sobre esta escolha.
O ex-presidente da Câmara da Praia Óscar Santos, derrotado nas eleições municipais de Outubro, é o novo governador do Banco de Cabo Verde (BCV), nomeado para as funções pelo Governo, conforme resolução do Conselho de Ministros publicada na segunda-feira e que entra hoje em vigor.
De acordo com a resolução do Conselho de Ministros 03/2021, de 04 de Janeiro, que a Lusa noticiou na segunda-feira, ao abrigo da Lei Orgânica do Banco de Cabo Verde, o Governo nomeou Óscar Humberto Évora dos Santos para, em comissão de serviço, exercer o cargo de governador do banco central.
Através da resolução 01/2021, o Governo recorda que o mandato do governador do Banco de Cabo Verde tem a duração de cinco anos, renovável por igual período uma só vez, mas formaliza a saída de João António Pinto Serra, que assim não renova o mandato.
"Impondo formalizar a cessação, por caducidade, do mandato do governador", lê-se na resolução.
João Serra, antigo ministro das Finanças no Governo liderado por José Maria Neves (PAICV) foi empossado no cargo de governador do BCV em Dezembro de 2014, mas em 2019, quando estava no quinto ano em funções, assumiu publicamente que pretendia apenas cumprir um único mandato.
Desde 2008 que a Câmara Municipal da Praia estava nas mãos do MpD, inicialmente liderada por Ulisses Correia e Silva, atual primeiro-ministro, mas já então com Óscar Santos como número dois.
A perda da capital para o PAICV, com a derrota da lista liderada por Óscar Santos, foi a maior surpresa das eleições municipais de outubro no arquipélago.