Bamako - O primeiro-ministro do Mali, Moctar Ouane, garantiu hoje, ao revelar o seu "plano de ação", que o Governo de transição irá realizar eleições no próximo ano e reiterou a vontade de dialogar com os grupos terroristas, contra a relutância de Paris.
"Todos os meios serão utilizados para organizar eleições livres e transparentes dentro do prazo acordado", disse Moctar Ouane, na apresentação do seu programa de Governo ao Conselho Nacional de Transição (CNT), no parlamento.
Sob pressão internacional, os militares, que fizeram o golpe de Estado no país que levou à queda do Presidente Ibrahim Boubacar Keita, em 18 de Agosto de 2020, criaram órgãos de transição (Presidente, primeiro-ministro e Governo, órgão legislativo) e comprometeram-se a devolver o poder aos líderes civis eleitos no prazo de 18 meses, ou seja, no início de 2022.
No entanto, o facto de os militares se manterem nas estruturas de transição levantam questões sobre se este prazo será cumprido.
A primeira prioridade do executivo continua a ser o "reforço da segurança", que incluirá uma "revisão" do acordo de paz de 2015 entre o Governo e os antigos rebeldes independentistas do norte do país, afirmou hoje o primeiro-ministro.
Num discurso de mais de uma hora, Moctar Ouane prometeu também a "dissolução efectiva" das milícias de autodefesa, que estão a alimentar uma grande violência inter-comunitária no país, o recrutamento de 25 mil soldados e o destacamento do Exército e dos serviços estatais para todo o país.
Tal como tinha feito em Outubro, perante o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, hoje o chefe do executivo de transição no Mali disse também que tinha sido forjado um "consenso" sobre a "necessidade de dialogar com os grupos malianos radicais", referindo-se aos grupos terroristas islâmicos ainda activos no norte e centro do país, no Burkina Faso e no Níger.
O Governo organizará "missões de bons ofícios", adiantou, sublinhando que o seu sucesso será medido "não só por um acordo assinado com os líderes destes grupos", mas também pela sua capacidade de "trazer de volta ao seio da República aqueles que a abandonaram, muitas vezes por razões muito afastadas de qualquer fanatismo".
O Presidente francês, Emmanuel Macron, por seu lado, apelou na terça-feira à "decapitação" de grupos afiliados na Al-Qaida no Sahel, "cuja hierarquia superior continua a alimentar uma agenda 'jihadista'".