Pretória - O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, nomeou hoje um juiz para supervisionar um inquérito sobre as alegações de que o país forneceu armas à Rússia num navio que atracou secretamente numa base naval em Dezembro.
As alegações foram feitas este mês pelo embaixador dos Estados Unidos na África do Sul, que disse ter a certeza de que armas e munições foram carregadas no cargueiro "Lady R", de bandeira russa, quando este atracou na base naval de Simon's Town, perto da Cidade do Cabo, no final do ano passado.
O embaixador Reuben Brigety indicou que os Estados Unidos dispunham de informações que sustentavam a alegação e disse que apostaria a sua vida na exatidão da sua afirmação de que tinham sido carregadas armas no navio.
O navio de transporte de contentores "Lady R" está sujeito a sanções norte-americanas por estar ligado a uma empresa que transportou armas para ajudar o esforço de guerra russo na Ucrânia.
A África do Sul negou que tenha havido qualquer acordo sancionado pelo governo para fornecer armas à Rússia, embora não tenha excluído categoricamente a possibilidade de ter havido uma transação não oficial envolvendo outra entidade.
O juiz P.M.D. Mojapelo, antigo juiz do Supremo Tribunal de Recurso, foi nomeado presidente de um painel de três membros para investigar o incidente, disse o gabinete de Ramaphosa numa declaração no domingo. Foram também nomeados um advogado e um antigo ministro da Justiça.
O painel tem seis semanas para concluir as suas investigações e mais duas semanas para apresentar um relatório a Ramaphosa, disse o gabinete do Presidente.
"O painel foi incumbido de apurar as pessoas que tinham conhecimento da chegada do cargueiro e, se for o caso, do conteúdo a ser descarregado ou carregado, da partida e do destino da carga", disse o gabinete de Ramaphosa.
Ramaphosa ordenou o inquérito devido à gravidade das alegações e "ao impacto deste assunto nas relações internacionais da África do Sul", adiantou ainda a Presidência sul-africana.
O incidente tem vindo a afectar as relações entre os Estados Unidos e a África do Sul, que é a economia mais desenvolvida de África e um dos principais parceiros ocidentais no continente.
A ministra da Defesa sul-africana, Thandi Modise, disse que o "Lady R" estava de visita para entregar um carregamento de munições da Rússia, que foi encomendado pela África do Sul em 2018, mas que foi adiado devido à pandemia de covid-19.
Modise recusou-se a divulgar documentos relacionados com a visita do "Lady R" após pedidos dos partidos da oposição, afirmando que são confidenciais. No entanto, disse que os vai divulgar para o inquérito.
Entretanto, os Estados Unidos expressaram "preocupações" junto do Governo de Moçambique com o facto de o cargueiro ter atracado em Janeiro num porto do país, segundo disse à Lusa a porta-voz da embaixada norte-americana em Maputo.
Moçambique tem assumido uma posição de neutralidade face à invasão russa da Ucrânia, abstendo-se nas votações de condenação à Rússia nas Nações Unidas e apelando ao diálogo para terminar o conflito, a partir do seu lugar de membro não-permanente no Conselho de Segurança da ONU.DSC