Luanda – O embaixador da Argélia em Angola, Abdelhakim Mihoubi, disse hoje que a retirada do Mali do acordo de paz de Argel de 2015, mediado pelo seu país, vai provocar inevitavelmente perda de confiança entre as partes signatárias, tornando mais difícil alcançar-se a reconciliação.
As autoridades da transição no Mali anunciaram, em Janeiro deste ano, o “fim com efeito imediato” do acordo de paz de Argel, assinado em 2015 com grupos de tuaregues do norte do país e que era considerado essencial para estabilizar o país.
Em declarações à ANGOP, em Luanda, sobre as consequências da saída do Mali do acordo de paz, o diplomata argelino afirmou que a retirada ameaça a segurança nacional da Argélia que partilha uma fronteira de 1.300 quilómetros, bem como provoca a deslocação em massa da população e aumenta a imigração ilegal.
“As populações civis do norte do Mali têm laços étnicos, linguísticos e socioculturais com a Argélia, pois, serão as primeiras a sofrer as consequências desta decisão unilateral”, frisou.
Para se evitar os riscos acima referidos, prosseguiu, a Argélia e parceiros são chamados a trabalhar e a coordenar esforços e acções das instâncias regionais e da ONU, com o objectivo de promover uma solução política capaz de inverter esta nova dinâmica, susceptível de agravar a situação económica do Mali e do Sahel.
Abdelhakim Mihoubi referiu que logo após a adopção do Acordo, criou-se uma Comissão de acompanhamento presidida pela Argélia relacionada a quatro áreas temáticas: Defesa e Segurança, Política e Instituições, Desenvolvimento, Reconciliação e Justiça de Transição.
Nesta comissão, segundo o diplomata, o papel da Argélia foi sempre o de trabalhar arduamente para a implementação do acordo de paz e reconciliação no Mali.
“A Argélia interveio, pela quarta vez, numa mediação no Mali, sempre a pedido das autoridades malianas. Devido ao seu papel e aos seus esforços, a Argélia foi designada como o país líder da mediação internacional para a implementação do Acordo de Paz e Reconciliação, sob a autoridade das Nações Unidas.
Para o embaixador, o recomeço das hostilidades entre grupos de tuaregues do norte do país e forças armadas malianas é também susceptível de transformar o Mali e a região do Sahel numa zona de instabilidade e insegurança, assim como num campo de batalha para a concorrência e influência de potências extra-regionais.
Abdelhakim Mihoubi citou o exemplo do ataque terrorista no complexo argelino de gás «Tiguentourine» em 2013, que causou muitas perdas humanas e materiais e consequências comprovadas da deterioração da situação de segurança no Norte do Mali.
Entretanto, após o anúncio da retirada do Mali dos acordos de Paz, o Governo argelino, promotor do acordo, havia expressado a sua “profunda preocupação”, cuja gravidade afecta essencialmente o Mali e toda a região que aspira à paz e à segurança. JM