Harare - Um dos dois vice-presidentes do Zimbabwe, Kembo Mohadi, recusou hoje demitir-se por causa de um escândalo sexual em que está envolvido, e depois de divulgadas gravações de conversas explícitas com duas pessoas casadas.
Numa declaração em Harare, Mohadi, 71 anos, disse que estava inocente e que o seu telefone tinha sido pirateado e a sua voz clonada.
"As alegações feitas contra mim, não só são falsas como são bem montadas para denegrir, condenar e manchar a minha imagem como líder nacional e patriota", afirmou o vice-presidente.
As conversas telefónicas e os seus detalhes provocaram a indignação de grupos de direitos humanos e de zimbabweanos, que apelaram à acção disciplinar contra Mohadi por alegado abuso de poder.
O escândalo rebentou na semana passada, quando o 'site' de notícias independente ZimLive publicou gravações, alegando ser Mohadi em conversas separadas com duas mulheres casadas, uma delas agente de segurança no seu gabinete.
Uma das mulheres, a agente, é ouvida a discutir o uso de contracetivos e a concordar em encontrar-se com o vice-presidente para ter sexo no seu gabinete.
A agente alerta-o para não ter uma overdose de um líquido que potencia o sexo, depois de o vice-presidente ter confessado beber "duas chávenas" antes de um encontro com ela.
"Continuo a ser um líder, pai (...) e servo empenhado desta grande nação. Portanto, nada vai mudar porque tudo isto é feito para manchar a minha imagem. Se alguma coisa acontecer, será Sua Excelência [o Presidente do Zimbabué] a determinar o meu futuro", disse Mohadi.
Numa alusão aos rumores de pressão para se demitir deixou o seu futuro político nas mãos do Presidente, Emmerson Mnangagwa, que o nomeou como um dos seus dois vice-presidentes em 2017, pouco depois do derrube do então chefe de Estado Robert Mugabe, com a ajuda do Exército.
A Coligação das Mulheres do Zimbabwe apelou na terça-feira a uma comissão estatal para que investigue o vice-presidente por alegado assédio sexual.
"O tratamento deste caso determina a vontade do país de eliminar o assédio sexual no local de trabalho e de dar esperança às vítimas e sobreviventes", afirmou a organização.
O principal partido da oposição, MDC Aliance, disse que o alegado comportamento de Mohadi "está na fronteira do abuso sexual através da utilização de cargos públicos, mantidos pelo dinheiro dos contribuintes".
Mas Mohadi insistiu hoje que foi vítima de "demonização política" por aquilo a que chamou "netizens sem rosto".
O vice-presidente, que já foi ministro do Interior e depois ministro da Segurança dos governos de Mugabe, divorciou-se em 2019 da mulher com quem esteve casado durante quase 40 anos.