Futebol: Fracasso na Liga africana

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  • Luanda     Domingo, 11 Abril De 2021    20h42  
Pormenor do jogo entre Petro de Luanda e Akomangui FC da Guiné Equatorial
Pormenor do jogo entre Petro de Luanda e Akomangui FC da Guiné Equatorial
Cortesia de Kindala Manuel/Edições Novembro

Luanda - Quando, a 13 de Fevereiro último, entrou em cena na Liga dos campeões o único representante angolano nas competições sob a égide da Confederação Africana de Futebol (CAF), edição 2020/21, nada fazia crer que viesse ter bastantes dissabores.

(Por Valentim de Carvalho)

A meritória qualificação do Petro de Luanda à fase de grupos da presente edição foi encarada, por muitos, com grande expectativa, uma vez que se tratou da segunda participação consecutiva nesta importante prova continental.

Na verdade, Angola já atingiu às meias-finais da prova em duas ocasiões, com o Petro de Luanda, em 2001, e o 1º de Agosto, em 2018, pelo que a participação dos petrolíferos, na presente edição, adivinhava-se de sucesso. O objectivo dos "tricolores" era, certamente, fazer melhor em relação à época anterior (2019/20), em que teve participação modesta e não foi para além da etapa inicial.

Para a prova deste ano, os amantes da modalidade, em geral, e os adeptos do clube, em particular, esperavam por uma participação exitosa, mas, a julgar pelos resultados obtidos, não restam dúvidas de que a “fasquia” foi demasiadamente alta.

Antes do começo da prova, pairava a ideia de que o "clube tricolor" tinha potencial para tornar-se, nos próximos tempos, num dos maiores conjuntos de futebol em África, traçando como meta alcançar o "estatuto de melhor do continente em 2028".

No entanto, o fracasso na presente edição da Liga contrasta com esta pretensão de grandeza, uma vez que o clube obteve o pior registo entre os 16 participantes.

Com escasso 1 ponto e sem qualquer golo marcado, ao cabo de seis jornadas, o Petro  não teve arte nem engenho para, ao menos, fazer sentir o nome e respeito conquistado por esta agremiação no passado. Foi um total fracasso.

A sua "odisseia" começou a 13 de Fevereiro transacto, no Estádio General Lasana Conté, ao perder por 0-2, diante do "modesto" Horoya da Guiné Conacry, seguindo-se outros quatro desaires num espaço de quase dois meses (13 de Fevereiro a 10 de Abril).

Pelo meio, empatou (0-0) frente ao Kaizer Chiefs da África do Sul, resultado que em nada ajudou nas pretensões do clube do “Catetão”.

Em termos globais, o Petro sofreu oito golos, numa prova em que a equipa mais batida  foi o El Merreik do Sudão, com 15 tentos consentidos. A mais concretizadora foi o Al Ahly do Egipto (11 golos), enquanto o Wydad Casablanca do Marrocos revelou-se como a defesa menos sofrida da prova (1 golo).

O maior número de pontos (13) foi alcançado pelas formações do Simba da Tanzânia, Mamelodi Sundowns da África do Sul e Wydad Casablanca do Marrocos.

Na participação anterior, na época 2019/20, o Petro de Luanda quedou-se igualmente na fase de grupos, mas na terceira e penúltima posição da série, com quatro pontos resultantes de igual número de empates em seis partidas.

No entanto, o dissabor do futebol nacional a nível de provas africanas nos últimos anos não se resume apenas a esta campanha petrolífera, porquanto o outro "embaixador" nestas lides não se consegue fazer presente com regularidade. 

Depois do "brilharete" em 2018, ano em que atingiu de forma convincente às meias-finais, o 1º de Agosto fracassou nas eliminatórias de acesso aos grupos em 2018/19, e participou em 2019/20, ficando na primeira fase. Voltou a falhar esta época 2020/21. 

Na verdade, quer o fraco desempenho do Petro de Luanda, quer dos outros representantes de Angola nas afrotaças, este ano, abre espaço para uma verdadeira reflexão à volta do estado organizativo do futebol angolano.

Se é certo que Angola é um país fértil em jogadores talentosos, não é menos verdade que os seus clubes, regra geral, quase não justificam essa mais-valia nas competições  continentais, deixando antever uma fraca capacidade competitiva das suas equipas.

Diante da fraca prestação do Petro, há que repensar, seriamente, nos modelos de preparação dos clubes para “atacar” as afrotaças, provas para as quais se exige muito mais do que vontade de participar. É preciso maiores investimentos.

Para tal, os clubes e as autoridades precisam de investir em jogadores de qualidade, trazidos do exterior ou formados nos escalões de formação, bem como treinadores mais experimentados, a fim de se atacar em força as provas africanas.

É, também, fundamental, redefinir o calendário das provas internas, por forma a permitir que os clubes cheguem às afrotaças com maior ritmo competitivo.

Impõe-se, de igual modo, que os clubes invistam mais na sua preparação para disputar as provas da CAF, mediante estágios internos ou externos capazes de dar maior entrosamento às equipas, tal como ocorre em outras realidades.

Doutro modo, muito dificilmente as equipas angolanas voltarão a sorrir nas provas continentais, ficando-se apenas com a saudade das duas qualificações às meias-finais, feitos que devem e podem, com um investimento certo, ser superados a longo prazo.

 





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