Sagrada Esperança no trilho do segundo título do Girabola 16 anos depois

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  • Lunda Norte     Sexta, 16 Julho De 2021    13h06  
Envolto em tumultos, Petro de Luanda vence Sagrada Esperança no Dundo-Arquivo
Envolto em tumultos, Petro de Luanda vence Sagrada Esperança no Dundo-Arquivo
ANGOP

Dundo – Numa época atípica e com uma realidade fora do comum, devido a um longo período de proibição da entrada de adeptos nos estádios, face às restrições impostas pelo novo coronavírus, o Sagrada Esperança pode voltar a ser campeão nacional de futebol, após 16 anos de "travessia no deserto”.

Por Hélder Dias

A três jornadas do fim do Campeonato Nacional (Girabola´2021), os adeptos do futebol presenciam uma luta cerrada em que são protagonistas o 1.º de Agosto, Petro de Luanda e o Sagrada, como que um “gigante” disfarçado, perseguindo o feito de 2005.  

Na verdade, a formação da Lunda Norte, contra todas as expectativas, tem sido resiliente entre os 16 participantes da prova maior do futebol nacional, de tal modo que lidera com 64 pontos, seguida bem de perto pelo Petro, com 63 pts.

O arranque “demolidor” da formação verde e branca já fazia prever um desempenho melhor relativamente às últimas 15 edições. Desde o início da prova fixou-se sempre entre os três primeiros da tabela classificativa, alternando a liderança com o 1º de Agosto, Petro de Luanda e Interclube.

Até ao momento tem a defesa menos batida do campeonato, com apenas nove golos sofridos, uma derrota, sete empates, 19 vitórias e já marcou 39 golos em 27 partidas disputadas, dependendo apenas de si para voltar a ser campeão nacional e regressar à Liga dos Campeões Africanos.

Percurso de altos e baixos  

Apesar do excelente trajecto, nem tudo tem sido um mar de rosas para o emblema da Lunda Norte.

Em Novembro de 2019, o clube viveu um dos mais turbulentos episódios tendo supostamente como protagonista o então técnico Português Paulo Torres, que colocou a equipa na 12ª posição, ou seja, à beira da despromoção.

Fruto do mau clima que se instalava no balneário, um grupo de jogadores decidiu denunciar o treinador luso à direcção da colectividade, na altura liderada por Osvaldo Van-Dúnem. O argumennto foi de que alguns atletas eram “super” protegidos e outros “super” prejudicados.  

Na sequência, realizou-se uma reunião de emergência no fim da qual o técnico colocou o cargo à disposição. Enquanto se procurava por um substituto, o preparador físico, Rui Oliveira, assumiu o comando, coadjuvado pelo antigo defesa do grémio, Lebo Lebo e ainda por Jonny Matumona e Hidrox Estanislau.

Ainda em momento de crise, no dia 17 de Janeiro de 2020, no de decurso de uma Assembleia de balanço e renovação de mandato, os co-fundadores do Sagrada Esperança assumiram a direcção do Clube.

José Muacabalo ocupou o cargo de presidente, Leão Chimin e José Alberto dos Santos "Zeca Rosa" vice-presidentes, e oito dias depois, contra todas as expectativas, Roque Sapiri foi indicado técnico principal, sob aplausos de uns e contestação de outros, estes últimos alegando falta de experiência.

Em contraste, o sinal inicial de sucesso desta decisão “arriscada” registou-se na época 2019/2020, em que tirou a equipa na zona de despromoção, da 12ª posição para a 5ª da classificação. Mas Roque Sapiri viu esse percurso de sucesso prematuramente interrompido pela Covid-19, que obrigou o cancelamento da temporada.

Reconstrução do plantel

Para a época 2020-2021, o treinador, que recebeu voto de confiança, decidiu reconstruir a equipa começando por dispensar oito jogadores, nomeadamente Guedes, Jiresse, Francis, Higino, História, Almeida, Cabibi e Titi.

Trouxe para o clube Karanga (médio ala), Jó Paciência (avançado), Reginó (médio trinco), Sozito (lateral), Matengó (médio ala), Celso (médio), Victoriano (médio trinco), Lima (avançado) e Leonardo (guarda-redes).

Com estas contratações, Roque Sapiri montou uma equipa com média de idade de 28 anos, constituída por Langanga (guarda-redes), JB (guarda-redes), Leonardo (guarda-redes), Gaspar, Reginó, Lulas, Simão e Djó (defesas), Luís Tati, Cachi, Celso, Femy, Muenho (médios), Lépua, Matengó, Karanga (médios ala), Victoriano, Água Doce (médios trinco), Chico, Jó Paciência, Valente e Lima (avançados).

Objectivos preconizados

Na presente época a conquista do Campeonato Nacional não fazia parte dos planos da direcção. Apenas interessava ao conjunto diamantífero estar no top cinco e garantir o apuramento numa competição africana (Liga dos Campeões ou Taça da Confederação), além da conquista da Taça de Angola.

Mas os resultados da primeira volta, 2º na tabela com 32 pontos, galvanizaram os “diamantíferos” que passaram a assumir-se, embora de forma dissimulada, como candidatos ao título.

No balanço, o primeiro objectivo da temporada, que era a conquista da Taça de Angola, não foi concretizado. O “sonho” foi adiado por conta da eliminação pelo Kabuscorp do Palanca, nos quartos-de-final, com derrota no Dundo de 4-5, nos penáltes, após igualdade a uma bola no tempo regulamentar.  

Possibilidades de chegar ao segundo título

O Sagrada Esperança depende de si para ser campeão nacional. Para o efeito, basta vencer os jogos com o Progresso Sambizanga e Recreativo da Caála, por sinal adversários ao seu alcance, e empatar na última jornada com o Petro de Luanda.

Na primeira volta, o Sagrada venceu o Petro, por 1-0, no Dundo. Em caso de empate no jogo da última jornada e terminarem com os mesmos pontos na tabela classificativa, a equipa diamantífera será campeã devido a vantagem no confronto directo, o primeiro item de desempate.

Os Lundas também podem arrebatar o troféu de outro modo, caso o opositor perca um jogo, o principal deles na deslocação ao reduto do Desportivo da Huíla, antes do embate entre si, no Estádio 11 de Novembro, no fecho do campeonato.

Nas próximas três últimas jornadas, o líder defronta o Recreativo da Caála, no Huambo (19 de Julho), recebe o Progresso Sambizanga (24 de Julho) e termina com o Petro de Luanda, na capital angolana (31 de Julho).

Sagrada Esperança e Petro de Luanda reeditam a história do Girabola de 2005, em que a primeira foi campeão pela primeira vez ao vencer, no Dundo, por 1-0.

Nos últimos quatro anos, os dois conjuntos defrontaram-se oito vezes, com um registo de três empates, quatro vitórias para o Petro de Luanda e uma para o Sagrada Esperança.

Quem é Roque Sapiri

Natural do Dundo, província da Lunda Norte, nasceu a 21 de Janeiro de 1976 (45 anos).

Iniciou a sua carreira desportiva em 1988 neste mesmo Sagrada Esperança de que hoje é treinador, tendo conquistado a Taça de Angola em 1999.

Foi campeão nacional do Girabola em 2005.

Enquanto jogador participou em várias competições africanas, com realce para a Taça CAF em 1992 e 1998, e na Taça dos Clubes Campeões de África, em 2006.

Concluiu a sua carreira como atleta em 2008 num jogo que serviu de inauguração do Estádio Sagrada Esperança, e no mesmo ano passou a desempenhar a função de treinador - adjunto do conjunto até 2019.

Roque Sapiri assumiu o cargo de técnico principal do Sagrada Esperança no quadro de uma aposta na prata da casa, após rescisão da colectividade com o português Paulo Torres, por maus resultados.

Patrocinadores e orçamento anual

Patrocinam a colectividade, as empresas diamantíferas que operam na província da Lunda Norte, nomeadamente Chitotolo, Lunhinga, Lulo, Sociedade Mineira de Catoca, Luminas, Cuango, para além da ENDIAMA, ENDITRADE, Clínica Sagrada Esperança e a SODIAM.

Estas empresas disponibilizam, através da ENDIAMA, mais de USD dois milhões norte-americanos, equivalentes em kwanzas, para suportar todas as competições da época.

História da agremiação

Fundada no dia 22 de Dezembro de 1976, no Dundo, foi campeã nacional em 2005 e vencedor da Taça de Angola em 1988 e 1999.

O clube marcou várias presenças nas competições africanas, disputando a Taça dos Vencedores das Taças, em 1989 e 2000.

Participou na Taça CAF em 1992, 1998 e 2020 e também da Taça dos Clubes Campeões de África em 2005 e 2006.





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