Íntegra do discurso do PR na abertura do ano judicial 2021

Presidente da República, João Lourenço, discursa na abertura do Ano Judicial
Presidente da República, João Lourenço, discursa na abertura do Ano Judicial
Pedro Parente

Luanda - Íntegra do discurso proferido esta terça-feira pelo Presidente da República, João Lourenço, na abertura do Ano Judicial 2021.

Senhor Vice-Presidente da República, 

Senhor Presidente da Assembleia Nacional, 

Senhor Presidente do Tribunal Supremo, 

Senhores Presidentes dos Tribunais Superiores,

Senhor Procurador-Geral da República, 

Senhor Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, 

Senhor Provedor da Justiça, 

Senhor Bastonário da Ordem dos Advogados de Angola, 

Senhores Presidentes dos Grupos Parlamentares, 

Ilustres Líderes Eclesiásticos, 

Senhores Magistrados Judiciais e do Ministério Público, 

Ilustres Convidados, 

Minhas Senhoras e Meus Senhores, 

Constitui para mim uma honra presidir a cerimónia solene de abertura do Ano Judicial de 2021, aproveitando a oportunidade para saudar todos os presentes. 

Endereço uma saudação especial aos membros da prestigiada família da Justiça espalhados pelo país, com destaque para os magistrados judiciais e do Ministério Público, os oficiais de justiça, os integrantes dos órgãos de investigação criminal, os advogados e demais funcionários da Justiça. 

Esta cerimónia ocorre no contexto da Covid-19, que tem semeado a morte e a dor, pelo que aproveito a ocasião para me solidarizar, mais uma vez, com os afectados, reiterando o meu firme empenhamento no combate a esta pandemia.

Minhas Senhoras e Meus Senhores, 

A cerimónia de abertura do Ano Judicial é, por excelência, o momento em que os diferentes actores judiciários param para analisar o estado do Sistema de Justiça, avaliar o percurso trilhado e reflectir sobre as perspectivas, os reptos e as dificuldades que se colocam no seu caminho. 

No início do actual ciclo de governação, o Executivo estabeleceu como linha central de actuação a elevação orçamental do Sistema de Justiça, dando-lhe o grau de prioridade merecido, no processo de construção e consolidação do Estado Democrático de Direito. Um primeiro passo nesse sentido foi dado com a reforma do Cofre Geral de Justiça e o novo modelo de afectação de receitas. 

Com o mesmo propósito, entrou em vigor muito recentemente o Decreto Presidencial, que aprova o Regime de Comparticipação dos órgãos da Administração da Justiça, em relação aos activos por si recuperados.  

Com a aprovação deste importante instrumento, 10% da receita líquida passa a ser canalizado para os referidos órgãos, o que incrementa a sua capacidade institucional, sobretudo em matéria de combate à corrupção e à impunidade. 

De facto, este processo de construção e consolidação é impensável sem uma Justiça independente, imparcial, eficaz, célere e susceptível de encarnar em toda a sua plenitude a ideia da tutela jurisdicional efectiva. 

O acesso à Justiça e ao Direito constitui um imperativo incontornável, de modo a ser garantida a protecção de todos os cidadãos, independentemente da sua localização ou da sua condição social e económica. 

 É dentro deste quadro que, no Ano Judicial findo, foi instituída uma nova Comissão da Reforma da Justiça e do Direito, para dar sequência ao Programa do Executivo, no domínio das políticas para o Sector da Justiça, com especial ênfase na formação de recursos humanos e melhoria das suas condições de trabalho. 

Como resultado dos trabalhos desta Comissão estão a ser concluídas importantes propostas de diplomas legais, nos domínios da Organização Judiciária, do Direito Civil e Processual Civil, do Direito Administrativo e do Contencioso Administrativo, do Direito Comercial e dos Registos e do Notariado.  

 Um marco importante para a história do país foi a aprovação e entrada em vigor do novo Código Penal e do novo Código do Processo Penal.  

 Tratam-se de dois instrumentos modernos e fundamentais para dar resposta aos desafios actuais no domínio da realização da justiça penal, especialmente em matéria de prevenção e repressão da criminalidade económico-financeira e da gestão pública.  

 No ano judicial ora terminado, foi também promulgada a Lei de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais, do Financiamento do Terrorismo e da Proliferação de Armas de Destruição em Massa, outro diploma legal com importância no combate à corrupção e à impunidade.  

Foi também aprovada a Lei que altera a Lei sobre a Actualização das Custas Judiciais e Alçadas dos Tribunais, que, por um lado, delimita através das alçadas a competência dos tribunais de primeira e de segunda instância e, por outro lado, viabiliza a entrada em funções de um instrumento de concretização da autonomia administrativa e financeira dos Tribunais, ao criar as bases para a implementação do Cofre Geral dos Tribunais, dissociando-o do Cofre Geral de Justiça.  

No domínio da reforma judiciária, foram registados avanços significativos no que respeita à implementação dos Tribunais da Relação de Benguela e do Lubango e de alguns Tribunais de Comarca. O Tribunal da Relação de Luanda conhece algum atraso na entrega da infra-estrutura e respectivo apetrechamento, o que esperamos poder acontecer brevemente. 

Com a abertura do Ano Judicial, os Tribunais da Relação acabados de mencionar entram em funções. 

No domínio do Programa de Melhoria do Ambiente de Negócios, foi criada a Sala do Comércio, Propriedade Intelectual e Industrial, um fórum privilegiado para dirimir litígios que podem emergir da actividade empresarial ou no âmbito da propriedade intelectual e industrial.  

No âmbito da implementação da Sala em apreço, a Assembleia Nacional aprovou a Lei sobre o Regime Jurídico da Recuperação de Empresas e da Insolvência, de modo a conformar o quadro legal à dinâmica do ambiente económico actualmente existente. 

Firmamos também, por via da Carta de Adesão n.º 2/20 de 3 de Março, o nosso compromisso com a observância do Protocolo do Tribunal de Justiça da União Africana, na sequência da aprovação pela Assembleia Nacional da Resolução n.º 50/18, de 31 de Dezembro. 

Em termos de pessoal, há que assinalar que elevamos aproximadamente para o dobro o número de Magistrados Judiciais e do Ministério Público existentes, desde o início desta legislatura. 

Na mesma senda, acaba de ser aberto um concurso de ingresso para a Magistratura, com o objectivo de dotá-la de mais quadros e de preencher o mapa judiciário. 

Regista-se ainda alguma escassez de recursos humanos, a nível dos órgãos de Administração da Justiça e reconhece-se que o capital humano é a pedra de toque do processo de evolução do Sistema de Justiça. 

Em geral, os Magistrados têm demonstrado no exercício das suas funções a reserva necessária, o respeito pelo seu estatuto corporativo e a preservação da sua dignidade pessoal, dando provas de empenho e profissionalismo, discutindo os problemas da magistratura nos órgãos competentes. 

Para o Ano Judicial que ora se inicia, continuaremos a trabalhar na prevenção e combate à corrupção e à impunidade, contra o tráfico de drogas e de seres humanos, a imigração ilegal, o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo e armas de destruição em massa. 

No que concerne ao combate à corrupção e à impunidade, o país vem dando passos corajosos desde finais de 2017, investigando, julgando e condenando servidores ou ex-servidores públicos de todos os escalões, desde os níveis município, província e do próprio Executivo central, da Assembleia Nacional e de empresas públicas de grande dimensão, com a imparcialidade necessária para o sucesso desta causa.  

Os órgãos de Justiça no geral têm sido incansáveis, apesar da exiguidade, de alguma falta de experiência e de condições de trabalho nem sempre as melhores. 

Contudo, forças internas e externas, ligadas aos que mais delapidaram o erário público, organizam campanhas, com vista a denegrir e desacreditar a Justiça angolana e o Estado angolano no geral, mesmo com tantos exemplos concretos de indiciados, arguidos e alguns já condenados, numa demonstração real do comprometimento das instituições do Estado e da Justiça angolana na luta contra a corrupção. 

Na defesa dos interesses dos que vêm o seu castelo a se desmoronar de forma inexorável, procuram reverter a situação fora dos tribunais, como se isso ainda fosse possível. 

Pretendem ser eles a comandar a acção da Justiça angolana envolvendo o Chefe de Estado, a ponto de determinarem quem deve ser indiciado. É evidente que isto está, à partida, condenado ao fracasso. 

Que a Justiça angolana cumpra com o seu papel, o Chefe de Estado não vai interferir na acção da Justiça em violação da Constituição, como pretendem que o faça. 

Numa outra vertente, os órgãos de Justiça devem prestar particular atenção e agir com celeridade e rigor, contra um novo tipo de crime que tende a se alargar e agravar, o vandalismo, destruição e roubo de bens públicos postos ao serviço da comunidade.

Os cidadãos devem tomar conhecimento que os autores deste novo tipo de crime vêm sendo julgados e condenados exemplarmente. Enquanto isso não acontecer com alguma frequência, estaremos a encorajar o crescimento deste tipo de crime.  

Nesta perspectiva, é importante que sejam aprimoradas, nomeadamente, a organização administrativa judiciária; a gestão judiciária; a gestão dos recursos humanos e das infra-estruturas; a implementação da solução informática para os tribunais; o alargamento dos patrocínios judiciários para a população mais desfavorecida; a criação das condições para a inauguração em breve dos outros Tribunais, previstos no âmbito da reforma judiciária em curso.  

Minhas Senhoras e Meus Senhores 

O país está a trabalhar arduamente na criação de um bom ambiente de negócios que atraia o investimento privado. Uma das peças fundamentais desse novo ambiente de negócios é, sem sombra de dúvidas, uma Justiça mais independente, mais credível e mais eficaz e eficiente. 

Para terminar, apelo que encaremos de frente os desafios que continuarão a colocar-se no nosso caminho. Que cada Magistrado, Advogado, agente ou oficial dos Órgãos de Polícia Criminal e da Ordem Pública, oficial de Justiça ou funcionário da Justiça, seja capaz de cumprir com zelo o papel que lhe compete. 

 Muito obrigado pela atenção.

Declaro aberto o Ano Judicial de 2021! 





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