Angola "abraça" projectos de empreendedorismo   

     Economia           
  • Luanda     Sábado, 21 Janeiro De 2023    12h58  
Fachada da Academia do Empreendedor de Luanda
Fachada da Academia do Empreendedor de Luanda
Manuel Zamba

Luanda – O mercado angolano tem-se mostrado, nos últimos anos, bastante fértil para os empreendedores, sendo, por isso, considerado uma espécie de "oceano azul", cheio de oportunidades.

Hermenegildo Manuel, jornalista da ANGOP 

De acordo com vários especialistas nacionais e estrangeiros, o país, que trabalha na melhoria do seu ambiente de negócios, proporciona, hoje, enorme margem para o empreendedorismo.

Com uma população estimada em mais de 33 milhões de habitantes, Angola tem uma taxa de desemprego de 30.20 %, conforme dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao II trimestre de 2022, o que leva milhares de cidadãos a investirem no próprio negócio.

Dados oficiais indicam que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acelerou de 2,4%, no último trimestre de 2021, para 2,6%, no primeiro trimestre de 2022, impulsionado pelo sector petrolífero.

Consultoras internacionais, como a Fitch Solutions, estimaram, para 2022, um crescimento da economia angolana  em 3,5%, projecções que sinalizam que a economia angolana retomará a trajectória de crescimento, abrindo maior espaço para o empreendedorismo.

Conforme os analistas, esse segmento de mercado pode passar a notabilizar-se como alavanca da economia nacional, ainda muito dependente do sector petrolífero. 

Um estudo realizado para mapear o empreendedorismo no mundo aponta a população empreendedora “early-stage” (em estágio inicial) em Angola, no período 2020/2021, como tendo rondando os 50%, a maior cifra de 47 economias analisadas, cinco das quais africanas.

A pesquisa, apresentada em Junho de 2022, em Luanda, considera vários critérios e indica que o número de empreendedores em Angola tem crescido de ano para ano.

Avança que o insucesso é relativamente baixo, nos últimos anos, apresentando em 2020 valores próximos dos verificados em 2014 (35% e 37%, respectivamente), tendo havido um aumento de 84% na percepção do risco, de 2018 a 2020.

O relatório refere que a intenção de iniciar um negócio (estimada em 83%) continua a ser mais elevada entre a população angolana do que em qualquer outro dos países analisados pelo Global Entrepreneurship Monitor, GEM Angola (GEM 2020/2021 Global Report).

O estudo realça que a actividade empreendedora na faixa etária 18-24 anos tem registado o maior crescimento, tendo sido, inclusive, a que teve a menor taxa em 2014 (15%) e quase maior em 2020 (54%).

Neste período, a diferença dessa faixa etária foi de apenas um ponto percentual relativamente à faixa dos 25 aos 34 anos de idade (55%).

A pesquisa foi realizada pela Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI) - uma empresa de consultoria criada em 1996, em parceria com o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC-UCAN) e o Banco de Fomento de Angola.  

Envolveu dois mil indivíduos, de 10 províncias, e a auscultação de 37 especialistas nacionais, que avaliaram 11 condições estruturais.  

Entre os países avaliados constam os Estados Unidos da América, Brasil, Togo, Burkina Faso e a Alemanha, que ultrapassam Angola em alguns critérios analisados, como o período de sobrevivência de um negócio. No país, em cada cinco, quatro não sobrevivem.

O GEM reúne informações recolhidas ao longo dos últimos 22 anos, tendo analisado, neste período, mais de 120 economias, contando com a colaboração de mais de 500 especialistas, bem como a contribuição de mais de 300 institutos de investigação e duzentas mil entrevistas.  

A propósito do assunto, o responsável da Bureau Feerie, Amílcar Tchinguelessy, entende que, embora desconheça o referido estudo, Angola é um mercado fértil.

O especialista é de opinião que o empreendedorismo deve ser tratado com seriedade, como um verdadeiro alicerce para alavancar a diversificação económica.

“Se olharmos para as grandes nações, percebemos que o empresariado, na verdade, tem sido um parceiro estratégico para poder gerar empregos. Empreendedores bem consolidados tornam-se empresários que vão criando oportunidades de negócio para depois empregarem mais pessoas”, argumenta.

Considera que o empreendedorismo é um encurtamento daquilo que seria o estilo de vida de uma pessoa, devendo criar negócio, gerar impacto, fomentar a economia e ajudar o país a crescer, “deixando de procurar emprego e acabando por gerar mais empregos”. 

Destaca o facto de existirem várias empresas que, independentemente dos problemas de Angola, empreendem no país, o que demonstra a existência de oportunidades de mercado.   

Já o mestre em Big Date Tecnologic (Grandes Dados)  Euclides Fumo considera fundamental a procura por informação, da dos empreendedores, para tomada de decisão.  

Para si, quanto mais dados o empreendedor obtém do negócio, do conhecimento do cliente, desempenho de entrega, de falhas e erros, melhor consegue decidir sobre como expandir o negócio.   

“Primeiro, precisa-se analisar o mercado e aceder a relatórios públicos de dados sobre o negócio. Se não tiver relatório, a pessoa pode pegar numa lapiseira e caderno para analisar, por exemplo, quantas padarias existem no bairro, as pessoas e a hora que compram”, vinca.

Do seu ponto de vista, trata-se de dados importantes que vão mostrar se, efectivamente, o interessado pode criar uma padaria no sítio onde se está ou não, e se vai vender só pão, bolinho ou outras coisas no seu futuro empreendedorismo.

Euclides Fumo corrobora a ideia de que o empreendedorismo em Angola cresceu muito, mas pensa que as instituições competentes deveriam ajudar mais esse sector.

Para si, existem no país reguladores a fazerem iniciativas de incubação, mas não há um acompanhamento, lamentando, por isso, o facto de, depois de esses empreendedores deixarem a incubadora, a conjuntura económica não ser favorável.

“É preciso definir bem os objectivos, precisamos de fortalecer o foco, para que tenhamos mais empreendedores, com certa sustentabilidade ”, enfatiza. 

O empreendedor defende a necessidade da criação de uma plataforma aberta de dados, em que qualquer empresa possa adicionar as informações e agregar questões como, por exemplo, as zonas que têm mais táxis e o número de padarias.

Com essa informação, explica, o empreendedor pode direcionar melhor o seu negócio. “O país precisa de ter uma plataforma para melhorar os dados que ajudam a tomada de decisão”.

No entanto, o Instituto Nacional de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM) apresentou, em Julho de 2022, a rede digital desenvolvida para capacitar e promover a interação entre os prestadores de serviço, por formas a gerar negócios. 

O INAPEM dispõe igualmente da nova versão da rede digital INAPEM 2.0, que traz inovação em termos de acesso e candidatura para os parceiros das 18 províncias do país. 

A visão, com a rede digital, é disponibilizar mais apoios para os operadores económicos que necessitam de auxílio na formalização, reestruturação dos projectos e planos de negócios. 

Segundo o presidente do Conselho de Administração do INAPEM, João Nkosi, a instituição disponibiliza um conjunto de serviços, para facilitar o acesso ao mercado interno. 

O gestor destaca a consultoria e assistência técnica, formalização da actividade económica, acesso ao financiamento, capacitação e fomento empresarial, certificado e feito em Angola. 

Frisa que em 2022 foram beneficiadas cerca de duas mil 37 empresas em consultoria e assistência, 245 mil micro, pequenas e médias empresas foram formalizadas, sendo que, por via do Ministério da Economia e Planeamento (MEP), mil e 705 projectos foram aprovados para ter acesso ao financiamento, tendo sido desembolsados 994 projectos empresariais. 

Com os financiamentos, cujos valores não revelou, foram capacitados seis mil e 373 empreendedores. O INAPEM conseguiu, igualmente, inscrever 30 empresas no selo feito em Angola, com mais de 200 produtos registados e 10 selos emitidos. 

Relativamente à certificação de empresas, em termos acumulados, o INAPEM regista 35 mil e 818, das quais mil novecentas e sessenta e duas são classificadas como pequenas e duas mil oitocentas e 12 estão na classe das médias empresas.  

Mercado de startups revigorado

Entretanto, o mercado angolano regista o surgimento em massa de startups - empresas inovadoras, que se baseiam em tecnologia para resolver um problema de mercado. 

Em Angola, o universo das startups é crescente e muitas delas já atingiram milhões de kwanzas em valor de mercado.  Há quem diga, inclusive, que empreender numa startup pode ser um desafio extremamente recompensador, em Angola.

Além de possibilitar o crescimento financeiro ao empreendedor (a) e sua equipa, as startups têm grande potencial de crescimento da economia, transformando o mercado e melhorando, sobremaneira, a vida dos consumidores.

Só em Julho de 2022, por exemplo, várias startups apresentaram as suas potencialidades na 37ª edição da Feira Internacional de Luanda (FILDA).  

Na ocasião, o director Executivo da Startup Kwanzas.ao, Kelvin dos Santos, disse que a sua plataforma é de comércio electrónico, desenvolvida para conectar pessoas, empresas e criar comunidades, a fim de propiciar oportunidades de comércio económico para todos.

“Com a Kwanzas.ao, as empresas podem encontrar novos clientes, sendo que proporcionam aos vendedores individuais e empresas a capacidade de expandir o seu negócio, com poucas barreiras à entrada”, frisa.

Explica que a referida plataforma permite que qualquer pessoa, desde que tenha o NIF, possa vender os seus produtos, tendo a capacidade de fomentar o emprego autónomo.

Por seu turno, o director-geral da Agência Wedo Brand, Justo Elizeu, espelha que a agência de marketing apresenta soluções capazes de ajudar as empresas a adaptarem-se ao mundo digital, unindo o marketing, a performance, consultoria e o brand.

“A nossa solução digital é o Metaversa 2 D. Criamos um escritório no metaversa e preparamos uma nova era do 3.0. O escritório funciona como as reuniões via Zoom, sendo um espaço digital onde se cria a secretária, escritório, com uma figura onde o superior controla, se a pessoa está ou não presentes”, acrescenta.

Já o supervisor da área comercial do aplicativo “Aki fica tudo mais fácil”, Leopoldo Calenga, diz ser um aplicativo que está disponível na plataforma android e Ios.  

“A vantagem do aplicativo é fazer pagamentos de serviços. O mesmo existe desde 2018, com mais de 60 mil utilizadores”, reforça.

A Startap Estudante Carneiro apresenta uma solução que procura reduzir os níveis de reprovação, recorrendo às explicações ao domicílio online, consultoria e cursos preparatórios.

Segundo a directora adjunta da Startup, Sara Bastos, o referido projecto consiste em ajudar os estudantes a atingir o sucesso estudantil, para ultrapassarem as dificuldades enfrentadas durante o processo de ensino-aprendizagem, apresentadas na fase académica.

Uma startup é uma empresa que tem o objectivo de crescer de maneira agressiva, sendo que costuma oferecer produtos ou serviços inovadores, visando solucionar um problema, trazendo inovação a mercadorias que já existem.

Dados indicam que quase sempre, as startups baseiam o seu modelo de negócio em tecnologia digital, mas isso não é uma regra.

São empresas que operam em um mercado de alto risco e que buscam continuamente investimentos externos. Assim, elas podem potencializar o seu crescimento e desenvolver as suas soluções de maneira mais rentável.

Segundo a mestre em negócios, Rossana Manjata, os empreendedores angolanos precisam, entretanto, de mudar de atitude e acreditar que todo o negócio pode dar certo, desde que tenham o conhecimento certo e a atitude, porque “empreender é fazer acontecer”.  

Na visão da especialista, os empreendedores devem partir dos pressupostos de que o seu negócio tem de ter um propósito “muito específico” e resolver os problemas das pessoas.  

Chama atenção aos empreendedores de que as dificuldades existem em todo mundo e que o problema não é ter dificuldade, mas a forma como o empreendedor se dispõe para resolver. 

“Todo problema tem solução e o empreendedorismo surge para resolver problemas. Não podemos ter medo do problema, porque resolvê-lo é das maiores competências do século. O diferencial deve ser a capacidade de resolver”, enfatiza.  





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