Angola celebra Dia Mundial do Turismo com foco nas infra-estruturas

     Economia           
  • Luanda     Segunda, 27 Setembro De 2021    16h17  
Hotel Intercontinental, em Luanda, que alberga Mini-Cimeira regional (Arquivo)
Hotel Intercontinental, em Luanda, que alberga Mini-Cimeira regional (Arquivo)
Francisco Miúdo

Luanda - A modernização das infra-estruturas existentes e a construção de novas em zonas potencialmente turísticas são apostas prementes do Executivo angolano, que pretende tornar o país mais atractivo para a prática do turismo nas suas várias “modalidades”.

Esse notório engajamento, tendente também a dar maior visibilidade e autonomia a esse sector, coincide, curiosamente, com o lema deste ano, do Dia Internacional do Turismo, que se comemora há 41 anos, desde a sua institucionalização a 27 de Setembro de 1980, pela Organização Mundial do Turismo (OMT), da qual Angola é membro efectivo desde 1989.

A data foi estabelecida em comemoração ao aniversário de uma década do Estatuto da referida organização internacional, e tem como principal objectivo ressaltar a importância económica, social e cultural dessa actividade, actualmente meio “adormecida” mundialmente devido à pandemia da Covid-19.

Reza a história que no dia 27 de Setembro de 1970 entraram em vigor as directivas consideradas como mais marcantes para o turismo global, promovendo a tomada de consciência sobre o valor desse segmento e a contribuição desta actividade para serem alcançados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

​Infelizmente, o turismo é dos sectores económicos mais penalizados nesse período pandémico, mas aos poucos vai-se recuperando do seu impacto directo quer nas economias desenvolvidas quer nas em desenvolvimento, como é o caso de Angola, que até hoje vive restrições, mormente nas viagens turísticas.

Entretanto, a OMT, enquanto agência especializada das Nações Unidas para o turismo responsável e sustentável, “está a orientar o sector no sentido de uma recuperação e crescimento inclusivos, visando garantir que o mesmo venha a ter uma palavra a dizer no seu futuro - incluindo as comunidades locais e as minorias”.

O turismo, na sua transversalidade, é um pilar reconhecido de muitos dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial dos Objectivos 1 (combate à ​pobreza), 5 (igualdade de género), 8 (trabalho digno e crescimento económico) e 10 (redução das desigualdades).

“Foi neste enquadramento que a OMT designou o Dia Mundial do Turismo 2021 como um dia centrado no Turismo para um crescimento inclusivo”, refere uma mensagem a propósito da efeméride, e reforçada no último sábado (dia 25) pelo consultor sénior da Organização, Marcello Nutariani.

Durante uma visita a Malanje, o responsável defendeu a criação de infra-estruturas e serviços nos pontos turísticos dessa província, através do reforço da parceria público-privada. “Aliado às potencialidades, é necessário criar-se roteiros turísticos, agências de viagens e serviços de restauração para atrair turistas e gerar rendas”, frisou.

Políticas do Executivo

Ao discursar, esta segunda-feira, o ministro da Cultura, Ambiente e Turismo, Jomo Fortunato, considerou fundamental a formação de quadros na área do turismo e dotar os guias turísticos de informações relevantes sobre os povos, cultura e história do país, dado o deficit existente na área formativa.

Garantiu que o Executivo vai continuar a apostar em acções de formação pedagógicas para ajudar a alavancar o sector quer a nível interno quer externo. Segundo o ministro, o país conta com unidades hoteleiras que podem ser transformadas em escolas de formação pedagógica de turismo.

Jomo Fortunato adiantou que, em breve, será lançado um projecto sobre o roteiro turístico dos museus de Luanda, que vai associar as belezas culturais e naturais, com o apoio de vários hotéis, com destaque para os estabelecimentos da cidade de Luanda.

"Cabe ao sector do turismo concretizar acções que visam a criação de infra-estruturas e fomento do turismo. Neste projecto teremos como atractivo a nossa história e cultura",  salientou.

O ministro reafirmou o compromisso com a indústria turística, relativamente ao fomento da actividade e o seu desenvolvimento sustentável e inclusivo, na perspectiva de beneficiar todos os intervenientes, desde as grandes empresas multinacionais até as pequenas operadoras.

Na óptica do governante, a pandemia constituiu um golpe para o turismo internacional, crise que já é a pior da história do turismo e levou a uma queda de 86 por cento das receitas internacionais.

A exemplo do que acontece em todo mundo, Angola, de acordo com o ministro, também ressente o impacto negativo provocado pela pandemia, sendo que muitas empresas paralisaram as suas actividades.

Jomo Fortunato adiantou que o  Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente  tem evidenciado esforços para promover a recuperação da actividade turística com o apoio financeiro às empresas, redução da carga fiscal e manutenção ou recuperação dos postos de trabalho.

Infra-estruturas e empregos

Tendo em conta a conjuntura económica e social que o país atravessa nos últimos seis anos, o sector empregou, até 2019 – ano do início do novo coronavírus, pelo menos 215 mil trabalhadores, representando uma variação positiva de 0,94% ou seja mais 2003 novos empregos comparativamente ao ano de 2018. 

Os restaurantes e similares, com 25,7%, e os hotéis (24,9%) apresentaram as maiores proporções do emprego em 2019.  

Segundo dados do INFOTUR, durante o período 2019 funcionaram mais de sete mil unidades hoteleiras, bem como restaurantes, similares e agências de viagens de interesse turístico, o que corresponde a um decréscimo de 7,8%, ou seja, menos 604 unidades em comparação ao ano de 2018.

Este decréscimo, deveu-se à redução em 14,4% do segmento de restauração e similar, que mudaram de actividades, por tipo de unidades, os restaurantes e similares com 68,9% e outros meios de alojamento 21,5%, representaram as maiores proporções em termos da rede hoteleira e similar no ano de 2019.  

Entretanto, as províncias de Luanda com 39,5%, Benguela 21,6% e Huíla 10,6% representaram as maiores proporções da rede hoteleira do país no ano de 2019, numa altura em que o país contou com mais de 27 mil quartos, uma variação positiva de oito por cento em comparação com o ano de 2018.  

De acordo com o Instituto Nacional de Fomento do Turismo, Afonso Vita, esses indicadores são igualmente estratégicos para as economias, tanto pela importante contribuição para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), como pela contribuição para as exportações e para a Balança de Pagamento.

Referiu que o turismo favorece as trocas interculturais e o fortalecimento das amizades, facto que reveste de uma importância extraordinária como contributo para melhorar a concorrência internacional e para reforçar a paz entre as nações.  

Na sua óptica, não obstante a volatilidade que a economia nacional vai apresentando nos últimos anos, o sector do turismo consolida-se como importante actividade económica para a geração de emprego, o desenvolvimento social, investimentos em infra-estruturas, sustentabilidade e modelagem do ambiente competitivo.  

Os empreendimentos turísticos do país alojaram mais 2,9 milhões de hóspedes no biénio 2018 - 2019. O número de dormidas associadas às deslocações turísticas atingiu a cifra de mais 5,2 milhões de dormidas.  

Nesses dois anos em referência, o peso dos hóspedes nacionais em todos empreendimentos turísticos do país, no quadro do turismo interno, proporcionou ao sector privado mais de 340 mil milhões de kwanzas (Kz). Os hotéis, com 39,3%, e os restaurantes e similares (com 27,2%) geraram mais receitas.

Em 2019 registou-se uma variação positiva de 41,9, ou seja mais de Kz 58 mil milhões comparativamente ao ano de 2018. A repartição de gastos turísticos por unidade de alojamento, durante o referido ano, situou-se em mais de Kz 176 mil milhões, representando um peso de 51,9% do total das receitas do biénio 2018-2019.  

“Angola dispõe de oportunidades claras de crescimento, principalmente no que toca aos recursos naturais disponíveis e associados a uma exploração consciente e adequada dos mesmos”, diz Afonso Vita, incentivando o desenvolvimento do turismo rural, por vir a constituir-se num instrumento valioso de combate à fome e à pobreza.





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