BNA aumenta taxas de juro para ajustar mercado monetário

     Economia           
  • Luanda     Terça, 21 Novembro De 2023    20h14  
Banco Nacional de Angola
Banco Nacional de Angola
Pedro Parente

Luanda – A taxa BNA subiu de 17 para 18%, enquanto as taxas de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez aumentou de 17,5 para 18,5% e da facilidade permanente de absorção de liquidez de 13,5 para 17,5%, com vista a alterar o actual cenário do mercado monetário ou interbancário no país.

De acordo com o Banco Nacional de Angola (BNA), a medida contempla também o aumento do coeficiente das reservas obrigatórias em moeda nacional para 18%, bem como a eliminação da taxa de custódia sobre o excesso de reservas livres das instituições financeiras bancárias depositadas no BNA.

Segundo o governador do BNA, Manuel Tiago Dias, o aumento das taxas de juro justifica-se pela trajectória crescente da inflação sobre os bens e serviços, facto que pode comprometer o objectivo de se atingir uma taxa de inflação de um dígito, no médio prazo.

Quanto à eliminação da taxa de custódia aplicável sobre o excesso de reservas livres depositadas pelos bancos comerciais no BNA, o gestor do Banco Central justificou esta medida pelo facto de se ter cumprido com o objectivo de mobilização de recursos ociosos no sistema financeiro bancário, para o reforço da intermediação financeira.

Em conferência de imprensa, que visou apresentar as decisões saídas da 114.ª reunião do Comité de Política Monetária (CPM), realizada nos dias 20 e 21 deste mês, em Luanda, Manuel Tiago Dias esclareceu que, de forma indirecta, se pretendem alterar o actual cenário do mercado monetário ou interbancário.

Ou seja, clarificou, o aumento das taxas de juro é uma sinalização clara que o BNA faz ao mercado, em geral, e aos bancos comerciais, em particular, sobre o novo rumo da política monetária.

Quanto à crescente trajectória da inflação sobre os principais bens e serviços, Manuel Tiago Dias recordou que existe um conjunto de medidas tomadas pelo Executivo angolano no sentido de aumentar a oferta de produtos mais consumidos no país.

Apontou os incentivos à produção nacional e a redução do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) de 14 para 5% sobre os bens de amplo consumo como duas das medidas que poderão atenuar a crescente subida dos preços na economia angolana.

A propósito do aumento das referidas taxas de juro, o economista angolano José Lumbo considera que, com essa decisão do BNA, espera-se uma redução dos investimentos na economia, porque os empresários vão sentir-se desconfortáveis em solicitar empréstimos nos bancos comerciais, em função do encarecimento do aluguer do capital a ser concedido.

“Sendo a taxa de juro o valor que se paga pelo empréstimo do dinheiro, as pessoas poderão desistir de recorrer ao crédito para investimento, tendo em conta a alta das taxas, pois inibir-se dos custos, normalmente, é uma prática racional de cada agente económico”, esclareceu.

De acordo com José Lumbo, o mesmo cenário também abrange o cidadão comum, que tem uma relação directa com os bancos comerciais. Ou seja, o aumento das taxas de juro tem um impacto negativo no crédito ao consumo, porque o devedor pagará, igualmente, um custo mais alto ao credor.

Para o economista, esse impacto, que não afecta as pessoas que têm crédito a decorrer, poderá ser sentido entre um a três meses, período em que se registará a retracção de empréstimos para o investimento e o consumo.

Porém, o aumento das taxas de juro será benéfico para as pessoas que pretendam aplicar/investir o seu dinheiro nos bancos comerciais, que poderão ter um retorno apetecível, segundo José Lumbo.

Por outro lado, o economista apontou a possibilidade do BNA verificar o excesso de liquidez no mercado nacional, facto que tem provocado a crescente inflação sobre os bens essenciais para o consumo, como uma das razões que estiram na base do Comité de Política Monetária aumenta as taxas de juro.

“Normalmente, a inflação também pode ser vista como um fenómeno monetarista, ou seja, quando se verifica excesso de dinheiro no mercado também gera o aumento dos preços sobre os bens e serviços”, concluiu.

Segundo o BNA, a actual trajectória da inflação recomenda a manutenção do sentido restritivo da política monetária, com vista ao seu alinhamento com o objectivo de médio prazo, uma situação que continuará a ser monitorada pelo Banco Central.

A próxima reunião do Comité de Política Monetária (CPM) está agendada para os dias 18 e 19 de Janeiro de 2024. QCB





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