Josefa Sackó defende mais investimento no processamento da mandioca

     Economia           
  • Luanda     Sexta, 25 Junho De 2021    21h27  
Josefa Sacko, comissária da UA para Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável
Josefa Sacko, comissária da UA para Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável
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Luanda - A angolana Josefa Correia Sacko, Comissária da União Africana, considera ser necessária e urgente a atracção de mais investimento privado, para o processamento da mandioca e de outras comodities (matéria-prima) produzidas no continente, incluindo em Angola, que produz anualmente cerca de onze milhões de toneladas.

Falando, por vídeo-conferência, no 1º Congresso Internacional da Mandioca, que decorre na província de Malanje, referiu que com o aumento de 59 milhões de toneladas, no início dos anos 60, para 351 milhões de toneladas desde 2016, também elevou-se a área de colheita de 11 para 42 milhões de hectares.

A Comissária para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável da União Africana (UA) detalhou que dois terços desse aumento consistiram em mandioca e inhame, sendo que só a mandioca representou 138 milhões de toneladas.

Especificou que 67% da produção de mandioca encontra-se na Nigéria, República Democrática do Congo (RDC) e Gana, servindo como principal produto de base ou co-piloto, enquanto Angola, Moçambique, Malawi, Camarões e Costa do Marfim são responsáveis por mais 16% desta cifra.

Disse que as raízes, os tubérculos e as bananas têm potencial de contribuir significativamente para acabar com a fome e a subnutrição no continente devido ao crescimento da produtividade e à diversidade dos ecossistemas sob os quais podem crescer.  

De acordo com a Comissária da UA para o Departamento da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável os sistemas alimentares africanos permanecem limitados em quase todas as suas componentes chaves, a começar pela “produção e produtividade alimentar”.

Para a diplomata, esse eixo da cadeia continua a ser pouco competitivo, muito abaixo do potencial de proporcionar rendimentos decentes aos agricultores e empresários da linha da frente, apesar de a agricultura ser a principal actividade económica e de subsistência para mais de 60 por centos das populações.

Fez saber que a questão da transformação da agricultura africana tem estado no centro dos debates políticos desde 2003 em Maputo, e reconsiderou-se em Malabo, em 2014, quando os Chefes de Estado e de Governo da União Africana adoptaram o CAADP, o Quadro para o Desenvolvimento da Industrialização em África através da Agricultura.

“A Comissão da União Africana, na sequência destes compromissos dos Chefes de Estado, desenvolveu, em consulta com os Estados membros e Comunidades Económicas Regionais, vários quadros políticos e estratégias que deverão permitir África alcançar os objectivos que fixou em 2014 em Malabo”, garantiu a engenheira agrónoma.

Sustentou que a transformação da agricultura em África deve abarcar as novas tecnologias de informação e a digitalização da agricultura, para facilitar o planeamento e gestão dos riscos climáticos e sanitários, e melhorar a gestão agrícola. “E, por conseguinte, reduzirá os custos de produção, facilitará o acesso ao mercado, mas também atrairá os jovens do sector”.

De acordo com Josefa Sacko, há também a necessidade de se investir na reforma agrária, porquanto, o acesso à terra e a segurança da mesma são fundamentais para a transformação da agricultura em África.

“A actual dimensão média da exploração agrícola em África, que é de cerca de dois hectares constitui um verdadeiro constrangimento ao investimento na adopção das inovações e na modernização da agricultura continental em comparação com a Europa, onde a dimensão média é de cerca de 60hectares”, comparou.

Para Josefa Sacko, África deve definir o seu modelo de desenvolvimento agrícola, baseado numa intensificação sustentável que tenha em conta os sistemas de produção tradicionais, e a diversidade das suas estruturas e sistemas agrícolas.

Garantiu que a Zona Continental de Livre Comércio (AFCFTA) oferece uma oportunidade para transformar a agricultura africana, que certamente contribuirá para os quatro principais requisitos de segurança alimentar, acesso, utilização e estabilidade da oferta.

Na sua visão a referida zona encorajará a produção em áreas com vantagens comparativas, facilitando o acesso a factores de produção e serviços de insumos (meios de produção), aumentando a produtividade agrícola, bem como a sustentabilidade, a difusão da tecnologia e estimulação à inovação.

O 1º Congresso Internacional da Mandioca foi aberto, hoje, pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, e conta com a participação de empresários do agro-negócio, agricultores, organizações internacionais e académicos, numa iniciativa do Ministério da Indústria e do Comércio.

Com término marcado para Sábado, o evento reúne os principais intervenientes da cadeia de produção deste tubérculo, com o propósito de ampliar a percepção sobre a importância da mandioca, incentivar a sua industrialização e comercialização, como um produto versátil de múltipla utilização na alimentação humana, ração animal e uso na indústria.





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