“Vida Rural” aposta no fomento da produção de café arábica

     Economia           
  • Benguela     Quarta, 18 Novembro De 2020    21h08  
Proprietário da Fazenda Vida Rural Rui Magalhães
Proprietário da Fazenda Vida Rural Rui Magalhães
Rosário Miranda

Benguela – Trinta mil mudas de café arábica estão a ser produzidas na fazenda da Chimboa, no município da Ganda, província de Benguela, propriedade da empresa Vida Rural, para a revitalização dessa cultura, informou hoje, quarta-feira, o seu proprietário, Rui Magalhães.

Segundo o responsável, que falava à ANGOP, essas plantas serão distribuídas pelas regiões do Casseque, Chicuma e Ebanga, todas do município da Ganda, com tradição na produção de café arábica.      

Até ao momento, disse, foram já entregues, gratuitamente, cinco mil plantas de café a produtores da Ebanga e do Casseque.

O empreendedor explica que a iniciativa é privada, embora seja uma forma de ajudar o governo a arranjar novas fontes de receitas, e conta com a colaboração técnica da Estação Experimental do Café, localizada na Ganda, e do Fundo do Café, que ofereceu sacos de polieteno para as mudas.

“Estamos à procura de produtores interessados em plantar café arábica e nós fornecemos as mudas gratuitamente. Só precisamos que eles aceitem ser cadastrados e acompanhados para que tenhamos uma estatística do número de produtores e das quantidades produzidas no município”, avançou.

Na sua óptica, para o sucesso dessa iniciativa, é fundamental o acompanhamento do crescimento dessas plantas, tendo acrescentado que contam ainda com o apoio da fábrica de adubos orgânicos do Longonjo, no Huambo, que se compromete a fornecer esse produto de forma gratuita aos cafeicultores.

Acredita ser possível revitalizar rapidamente a produção de café no município da Ganda e pensar-se na sua exportação a médio ou longo prazo, por ser uma região com bastante água, de fácil mecanização e que produz o café sem sombreamento.

“Mas isso só pode acontecer se existirem pessoas ligadas às políticas de desenvolvimento (governo) com capacidade de identificar quem está no campo realmente a produzir e apoiá-los”, considera.

Rui Magalhães é de opinião de que os fundos que existem, como o da FAO ou a nível do Ministério da Agricultura, devem vir para a base, para o campo, e apoiar a operacionalização das políticas do Estado.

As políticas do Estado, reconhece, estão bem elaboradas e são exequíveis, mas é necessário que os agentes do Estado trabalhem apenas para a sua operacionalização e deixem os produtores fazerem o resto.

O empreendedor acredita ser viável a aposta na produção de café, embora reconheça que os custos são muito altos. Contudo, enfatiza, se as pessoas trabalharem de forma organizada para optimização dos custos, o que considera não ser muito difícil, vai ser possível alcançar os preços que a bolsa de commodities aplica.

Sobre a realidade da cafeicultura, Rui Magalhães considera que falta ainda alguma organização ao sistema de produção.

“Os agentes do Estado devem juntar-se aos produtores, às universidades, para o desenvolvimento de know how. Esse tipo de produção de café que se faz actualmente, de forma esporádica, sem controlo das pragas, sem base de dados do que se está a fazer, não nos leva a lado nenhum”, disse.

Na mesma senda, adiantou que os acessos para as zonas de produção são terríveis, os carros quase não chegam lá, mas que ainda assim é possível arrancar-se com a produção, porque leva alguns anos a se produzir e é possível que até lá esse problema das vias seja solucionado.

Indagado sobre o projecto de criação de incubadoras agrícolas, referiu que são fundamentais para que se consiga fomentar a produção de café e de outras fileiras, mas mais importante ainda, considera, é esses apoios chegarem ao campo, junto daqueles que de facto estão a lutar para produzir.

Dificuldades no acesso aos programas do governo

Relativamente ao acesso aos vários programas do governo, o empreendedor afirmou que tem mantido contactos com vários operadores do Estado, mas que o grande problema, nos municípios, tem a ver com os recursos humanos e a quantidade de informações que devem ser organizadas para aderir a esses pacotes.

“Nós estamos a correr no campo com problemas de fertilizantes, máquinas e outros, e não temos muito tempo para nos dedicarmos a fazer desenhos técnicos e reunir outras peças para adesão aos programas do governo

. A solução passaria pelo próprio Estado criar as incubadoras, mas devem ser deslocadas para os municípios, para as comunas e aldeias, porque é aqui onde reside o verdadeiro problema”, concluiu.

Vinte e duas toneladas de café mabuba foram colhidas no primeiro semestre deste ano (2020). no município da Ganda, contra as 20 de igual período do ano transacto, segundo dados da representação local do Instituto Nacional do Café (INCA).

 





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