Camacupa transforma-se em referência industrial

     Entrevistas           
  • Bié     Sábado, 13 Abril De 2024    17h20  
Vista parcial da vila de Camacupa
Vista parcial da vila de Camacupa
Leonardo Castro-ANGOP

Camacupa – O município de Camacupa, na província do Bié, está a posicionar-se para se tornar, a partir deste ano, numa referência no domínio da indústria, com a conclusão das obras de reabilitação da Barragem Hidroeléctrica do Cunje 1.

Por Leonardo Castro, jornalista da ANGOP

Orçado em 16 milhões de euros (um euro vale cerca de 900 kwanzas), o novo empreendimentojá funciona em regime experimental,  beneficiando, numa primeira fase, mil e 500 consumidores, dos sete mil previstos.

Em entrevista exclusiva à ANGOP, no âmbito das festividades dos 55 anos, desde que a vila foi elevada à categoria de cidade, a 14 de Abril de 1969, a administradora municipal, Deolinda Belvina Gonçalves, disse que, em termos concretos, Cunje 1representa o “grande salto” que se esperava para reacender o sector da indústria, um factor decisivo para o município.

Quando atingir a sua capacidade total de 4,3 megawatts, a infra-estrutura bastará para satisfazer as necessidades não só dos habitantes de Camacupa como também dos seus vizinhos de Catabola, explicou.

Deolinda Gonçalves precisou que se trata de uma obra de reconstrução no âmbito do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM),  num projecto do Executivo sobre a electrificação dos municípios do Bié.

Eis a entrevista na íntegra:

ANGOP- Há um ano e meio no cargo, que município de Camacupa encontrou?

Deolinda Gonçalves (DG) – Relativamente a Camacupa de ontem e de hoje, posso dizer que está em franco desenvolvimento. Nós não encontrámos um município estagnado, naturalmente. Encontrámos um Camacupa com visão e perspectiva de desenvolvimento sociopolítico e económico.

O que fizemos foi dar continuidade nesse desenvolvimento em todos os domínios.    

A entrada em funcionamento em regime experimental da Hidroeléctrica do Cunje 1, depois de reabilitada e ampliada, permitiu o aumento da capacidade de produção de energia nessa circunscrição, dos actuais 1,3 para 1,8 megawatts.

A infra-estrutura terá uma capacidade total de 4,3 megawatts, suficientes para acabar, paulatinamente, com uma das maiores dores-de-cabeça dos munícipes, e uma boa parte do vizinho município de Catabola.

Esta empreitada foi reconstruída no âmbito PIIM, que se enquadrou num projecto do Executivo sobre electrificação dos municípios da província do Bié, que visou fazer chegar a energia eléctrica aos munícipes, e posso dizer aqui que a população de Camacupa foi feliz.

Avaliadas em 16 milhões de euros, construiu-se também redes de média e baixa tensões e iluminação pública, com uma linha de transportação de 60 quilowatts.

ANGOP Qual é o cartão postal do município?

DG – Eu poderia dizer sem (medo de) errar que o cartão postal do nosso município é o Centro Geodésico de Angola, no âmbito turístico, porque aqui é o “ponto zero do país”. Ele continua a ser um marco histórico, cujo processo para a sua elevação a património cultural nacional está em curso.

A nível da província, existe um plano para a sua reestruturação, que prevê uma requalificação total para continuar a atrair turistas para a vila.

Porém, vem acoplado a ele o sector da agricultura, com o surgimento das duas grandes fazendas de produção do arroz e do milho. São as nossas grandes indústrias que temos aqui com maior visibilidade.

Por outra, afirmo que o maior cartão postal do município é a beleza da sua cidade, que, junto com o seu povo, lutam para que esta vila seja um lugar melhor para se viver.

ANGOP – A educação é o principal factor de desenvolvimento que o sector nos apresenta?

DG – O município de Camacupa diferencia-se dos demais pela sua caracterização económica e social. Nós somos felizardos por sermos um dos poucos no Bié que detêm quatro escolas do segundo ciclo, e isto para nós é um indicador de desenvolvimento bastante grande.

O homem formado, como se diz, vale por dois!

Temo-nos valido destas instituições de ensino de tal sorte que o Instituto Médio Politécnico é o principal fornecedor de quadros que estão a assegurar o funcionamento da Barragem Hidroeléctrica do Cunje 1.

Conscientes de que ainda há muito por se fazer, em termos de educação, Camacupa tem dado passos significativos se compararmos com os últimos cinco anos, onde aproximadamente se registava uma taxa de inscrição de 33 mil alunos matriculados, mas hoje temos uma estatística de inserção que ronda os 57 mil alunos a estudarem.

Neste capítulo, temos hoje 96 escolas que são asseguradas por 1.437 professores que ministram aulas para mais de 57 mil alunos, da iniciação à 13ª classe, nas comunas Sede, Ringoma, Umpulo, Cuanza e São António da Muinha.

Apesar desses esforços, vamos continuar engajados para a construção de mais escolas, nos próximos anos. A nossa meta é inserir mais crianças no sistema normal de ensino, estando agora o sector a controlar cerca de 14 mil crianças que ainda não estudam.

A distribuição da merenda escolar, no quadro do Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PDLCP), tem motivado sobremaneira as crianças a permanecer nas salas de aula e absorver de maneira satisfatória os conteúdos.

Até ao momento, a administração municipal assiste duas mil 593 crianças de quatro escolas, nas aldeias, e o grupo Carrinho 11 mil 894 crianças de 21 escolas, a nível do município.   

Estamos a falar em perto de 25 escolas primárias a nível do município ligadas ao programa de distribuição de merenda escolar, que abrangeu no total 25 mil petizes.

O nosso desafio para o sector da educação passa também por acomodar as crianças que já estão dentro do sistema normal de ensino, mas que estudam em condições precárias, através da construção de mais escolas e admissão de novos professores.

Actualmente, estamos a precisar de quase o mesmo número de professores que já se tem.

ANGOP – Outro sector crucial é a saúde. O município só cresce se as pessoas estiverem saudáveis. Como estamos?

DG - O município trabalha principalmente na saúde preventiva, por ser menos oneroso e mais sustentável.

Então temos estado a realizar várias acções, que passam pela sensibilização das pessoas aos aspectos higiénicos nas comunidades, ao reforço do saneamento básico, tratamento de água e fumigação.

Esta é a grande aposta do nosso município para controlar as doenças.

Contamos com uma rede sanitária de 14 unidades, sendo um hospital, cinco centros comunais, um centro materno infantil e oito postos de saúde, que oferecem um total de 268 camas para internamento.

Estes dados ainda não satisfazem a demanda. O nosso município é o terceiro mais populoso da província, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística referentes ao Censo Piloto realizado, este ano. Estamos em 206 mil habitantes, distribuídos por 806 aldeias.

Temos um total de 188 técnicos de saúde, destes apenas sete médicos. O que se quer é elevar o número de profissionais de saúde para corresponder com o rácio médico-paciente.

Precisa-se mais, há uma grande necessidade quer de unidades quer de profissionais, uma vez que Camacupa faz fronteira com as províncias do Moxico, Malange e Cuando Cubango.

Com isso, tem estado a crescer no município o número de Doenças Transmissíveis Sexualmente, com realce para a tuberculose e o HIV/sida, que, apesar de não serem alarmantes, é importante que tenhamos atenção aos casos.

Além destas, infelizmente temos registado também alguns casos de doenças negligenciadas, como a lepra, onde as autoridades sanitárias notificaram já mais de 10 casos e outros seis de oncocercose. 

ANGOP – A agricultura em Camacupa ainda continua o celeiro da província?

DG – Com certeza! Continuamos o celeiro da província e, fruto disso, somos o detentor do título da última edição da Feira Provincial da Batata e do Milho, realizado, em 2023, na cidade do Cuito.

Camacupa, com solos férteis e uma rica fauna e flora, não tem como perder esse galardão a nível da província do Bié.

Além das duas grandes indústrias (fazendas Arrozal e das FAA), a agricultura familiar é responsável por 90 por cento da comida que chega às nossas mesas.

Significa que também há uma grande revolução agrícola, associada à aposta do Executivo de diversificação da economia, um apelo que esta população entendeu e acolheu com satisfação.

Temos resultados satisfatórios nisso. As ajudas técnicas também têm estado a acontecer nas famílias para novas técnicas de cultivo e a introdução de novas culturas.

Para a presente campanha agrícola, a nível do nosso município, foram preparados 200 hectares, com a previsão de colheita de duas toneladas por hectare, perfazendo, assim, 400 toneladas de diferentes produtos só nesta primeira época.

Outro aspecto que temos a realçar prende-se com o pequeno projecto denominado “Minha horta – minha planta”, que está a dar resultados em termos de horticultura, com a distribuição de sementes e fertilizantes nas comunas do Umpulo, Ringoma e Cuanza, para a melhoria da dieta das famílias.

Nós temos, aqui no município, cerca de 254 escolas de campo, sete cooperativas devidamente legalizadas e produtores individuais, cuja produção é digna de realce, atingindo mesmo os níveis de produção até 60 hectares, que estão com uma previsão de colher mais de 50 toneladas só de milho.

Cultiva-se ainda, em grande escala, o arroz, o feijão, a soja e o amendoim.

Estamos agora a fazer o relançamento do cultivo do trigo, com a preparação, este ano, de sete hectares.

ANGOP - No capítulo das pescas, para onde vai o peixe capturado nos diversos rios?

DG – O bagre e o cacusso, capturados nos rios Kwanza, Cuquema, Cunje e Cuiva, para além de comercializados no mercado interno, chegam também aos ao mercado do 30, em Luanda.  

Fruto disso, na ausência de uma cooperativa, controlamos aqui três produtores individuais, detentores de tanques de criação. Os mesmos comercializam o pescado de forma regular, no nosso mercado, cuja quantidade e tamanho são aceitáveis.

Agregando a isso, falo também da questão da madeira. Somos um município com florestas densas, sobretudo nas comunas do Umpulo e Cuanza, que oferecem bastante mel, carvão e a exploração mesmo da própria madeira.

Lamentavelmente, temos estado a acompanhar alguns prejuízos com a exploração ilegal de madeira, que, numa actividade coordenada com os órgãos de Defesa e Segurança, tem levado vários garimpeiros às barras do tribunal para a sua responsabilização.

ANGOP – No que ao comércio diz respeito, a população aqui despertou?

DG – Sim, sobretudo a juventude.

Fruto do Programa de Apoio e Promoção da Empregabilidade (PAPE), com a entrega de kits de auto-emprego, regista-se agora uma proliferação de cantinas e outras lojas, simbolizando a existência de pequenos empreendedores, para além daqueles empresários já conceituados.

Nos últimos dois anos, o programa apoiou mais de 100 jovens com kits profissionais que actualmente estão a dar bons resultados, com a abertura de salões de beleza, corte e costura, pastelaria, carpintaria, serralharia e outros empreendimentos, que juntos conseguem contribuir para os cofres do Estado, através do pagamento de impostos, com um valor que ronda os dois milhões de kwanzas mensais.

ANGOP - Que resultados o PIIM trouxe para Camacupa?

DG – Apesar de ter beneficiado mais os sectores das infra-estruturas, os seus ganhos são visíveis para todos, onde o nosso município inscreveu e concluiu uma carteira de oito projectos e duas acções, que estão a impactar positivamente na vida dos munícipes, desde a melhoria do ensino, da saúde e das vias de comunicação, que possibilitou a terraplanagem de 120 quilómetros de estradas secundárias.

Na verdade, o grande salto mesmo que o PIIM trouxe para nós é sem sombra de dúvida o processo de asfaltagem dos primeiros cinco quilómetros que cobriu de forma parcial a malha rodoviária da vila. Esta realidade orgulha a todos os que aqui vivem e passam. Já é possível circular muito mais à vontade nas nossas artérias.

A aquisição de meios de saneamento básico também está a possibilitar manter a cidade sempre limpa.   

Permita-me também reforçar aqui, senhor jornalista, ainda com o PIIM, o município construiu um novo Comando Municipal da Policia Nacional assim como adquiriu duas ambulâncias que estão a permitir a evacuação dos doentes das comunas para a sede do município ou mesmo para o hospital Dr. Walter Stranguay, na cidade do Cuito.

Neste momento, temos toda a carteira de projectos executados, faltando apenas a entrega aos beneficiários de 100 quilómetros de estrada terraplanada, que liga as comunas do Umpulo e do Ringoma.

ANGOP – Caso o Executivo implemente o PIIM 2, quais serão as prioridades?

DG - Caso aconteça, em primeiro lugar poderemos inscrever a construção de um sistema de captação e distribuição de água e um novo hospital municipal, porque o actual já não corresponde às necessidades.

Há, em termos de expectativas, a necessidade de alargar a nossa rede sanitária bem como a abertura de novos serviços, como bloco operatório, sala de esterilização, estomatologia e outras especialidades que fazem falta no município.

ANGOP – Como olha para a retomada, em breve, das obras de asfaltagem da EN250 Cuito/Catabola/Camacupa/Cuemba?

DG – Terá um efeito multiplicador. O estado actual desta estrada constitui um ponto fraco.

Sua excelência Presidente da República, João Lourenço, reacendeu a esperança da população do Leste (do país), já que a estrada liga a nossa província com a do Moxico.

O que se espera é muito fluxo, onde há pessoas e mercadorias a circularem há desenvolvimento com certeza, acreditamos que o sector do comércio poderá expandir-se, por exemplo, com o surgimento de bombas de combustíveis, restauração, hotelaria, entre outros.

ANGOP – É verdade que o Kwenda deixou as populações preguiçosas, aqui no município?

DG – Havia este cepticismo no princípio de que o programa deixaria as populações dependentes. Nos dias de hoje, a realidade é totalmente diferente. Vislumbra-se aqui resiliência por parte dos beneficiários.

Ressalto, portanto, o trabalho dos agentes comunitários, vulgo Adecos, que antes sensibilizaram a população à melhor forma de aplicar o dinheiro.

Temos agora mais de 50 mil agregados inscritos que já começaram a receber os apoios e o que nós estamos a ver é que muitos estão a melhorar as suas condições de habitabilidade, a criação de pequenos negócios e outros.

O município

O município de Camacupa situa-se a 82 quilómetros a Leste da cidade do Cuito, capital da província do Bié. Tem nove mil e 469 quilómetros quadrados. É constituído pelas comunas Sede, Ringoma, Muinha, Umpulo e Cuanza.

Até 1975, designou-se General Machado.  É limitado a norte pelos municípios de Nharea e Luquembo; a leste pelos municípios do Cuemba, do Moxico e dos Luchazes; a sul pelo município de Chitembo e a oeste pelos municípios de Catabola e Cuito.

Perfil da administradora

Administradora de Camacupa desde Outubro de 2022, Deolinda Belvina Gonçalves é licenciada em Psicologia. Já exerceu os cargos de presidente do Conselho Provincial da Juventude, directora provincial do GEPE, vice-governadora do Bié para a área económica, consultora do governador e directora provincial da Acção Social, Família e Igualdade do Género.LB/PLB/IZ





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