Diplomata cubano espera que Angola seja exemplo para África

     Entrevistas           
  • Luanda     Domingo, 27 Junho De 2021    09h15  
1 / 2
Primeiro embaixador de Cuba em Angola, Oscar Oramas-Oliva
Primeiro embaixador de Cuba em Angola, Oscar Oramas-Oliva
Cedida
2 / 2
Primeiro embaixador de Cuba em Angola, Oscar Oramas-Oliva
Primeiro embaixador de Cuba em Angola, Oscar Oramas-Oliva
Cedida

Luanda – O primeiro embaixador de Cuba em Angola, Oscar Oramas-Oliva expressou, em entrevista à ANGOP, o desejo de que os angolanos continuem a construir uma nação chamada a ser um farol e guia dos povos africanos.

 

(Por Fernando Tati, jornalista da ANGOP)

Primeiro embaixador de Cuba em Angola, Oscar Oramas respondeu a um questionário que lhe foi enviado pela Angop, no quadro da comemoração dos 45 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de Novembro de 1975.

Nascido em Cienfuegos, Cuba, a 12 de Novembro de 1936, Oscar Oramas espera, ainda, que os angolanos “nunca esqueçam as experiências da luta pela independência”, a sua maior conquista política.

Quanto ao relacionamento entre Angola e Cuba, o antigo diplomata diz que os dois países devem alargar cada vez mais as suas relações em todas as áreas.

Na sua perspectiva, esse será o caminho para angolanos e cubanos beneficiarem das suas respectivas experiências e possibilidades e construírem sobre a sua história comum de luta, a fim de continuarem a reforçar os laços bilaterais.
 
Leia a versão integral da entrevista do antigo diplomata cubano, que também representou o seu país na República da Guiné, no Malí, em São Tomé e Príncipe, e nas Nações Unidas, assim como foi director de África e vice-ministro das Relações Exteriores do seu país.

Senhor embaixador Oscar Oramas, Angola comemora, a 11 de Novembro do ano em curso, 45 anos de independência. O que representa para si ter sido o primeiro representante diplomático de Cuba nesse país?

Foi uma honra muito elevada e uma prova de confiança do Comandante em Chefe da Revolução, Fidel Castro Ruz. Tratava-se de representar a minha Pátria junto de um povo heroico e artífice de uma independência com uma vocação transcendental.

Em que data o Senhor desembarcou em Luanda, para assumir o cargo de primeiro embaixador de Cuba em Angola e quais foram as suas primeiras impressões?

Cheguei a Luanda a 5 de Dezembro de 1975 e apresentei as minhas cartas credenciais em Janeiro de 1976. Fui o segundo a ser acreditado, já que o primeiro foi o embaixador do Congo-Brazzaville, Benjamin Boumkulu.

Na sua mensagem da proclamação da independência de Angola, lida às zero horas de 11 de Novembro de 1975, o então Presidente do MPLA, que seria o primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, dizia: “A República Popular de Angola, país empenhado na luta anti-imperialista, terá por aliados naturais os países africanos, os países socialistas e todos as forças progressistas do Mundo”. Cuba era, sem sombra para dúvidas, um país cimeiro nesse relacionamento. Quer falar do processo da preparação da vinda dos internacionalistas cubanos a Angola, em vésperas da proclamação da independência do país africano?

Devo dizer que desde a chamada Revolução dos Cravos em Portugal (a 25 de Abril de 1974), nós vínhamos a estudar, de forma pontual, o que se estava a passar em Angola, porque a liderança do MPLA tinha relações históricas com Cuba. Vínhamos acompanhando os movimentos das potências imperialistas e dos países seus aliados, para tentar bloquear a independência de Angola,  sob a liderança do MPLA. Em várias ocasiões, Agostinho Neto tinha-nos pedido apoio e, nessas circunstâncias, estudámos os pedidos e as formas de ajuda, tendo em consideração a distância geográfica entre ambos os países.

A História regista que uma delegação do MPLA deslocou-se a Havana, em Julho de 1974, por ocasião das comemorações de mais um aniversário do Assalto ao Quartel de Moncada. A delegação era portadora de uma mensagem de Agostinho Neto a Fidel Castro, a solicitar ajuda em instrutores militares, armas e apoio financeiro. A missão abriria o caminho para contactos posteriores, que levariam Cuba a ajudar Angola. Que comentários tem a fazer sobre essas diligências?

Devo dizer que a 26 de Junho de 1975, em Maputo, Agostinho Neto encontrou-se com a delegação cubana, presidida pelo Comandante Armando Acosta e composta pelo oficial do Comité Central Carlos Cadelo e Oscar Oramas, o então director de África no Ministério dos Negócios Estrangeiros cubano, que se deslocou aos acontecimentos para a independência daquela República irmã. Nessa ocasião, Angola voltou a reforçar o pedido, mais detalhadamente. A partir daquele  momento, a mais alta liderança da Revolução Cubana decidiu materializar o apoio ao MPLA.

Depois de vários contactos, o mês de Agosto de 1975 marca, de facto, o início da presença efectiva e real dos internacionalistas cubanos em Angola, com a chegada, a Luanda, do comandante Raúl Díaz Arguelles. Nessa altura, o senhor já tinha sido contactado no sentido de se preparar para tornar-se primeiro embaixador cubano em Angola?

Quando cheguei a Luanda, em Dezembro de 1975, fui como conselheiro do membro do Secretariado do Comité Central do Partido Comunista de Cuba, Jorge Risquet, que era o chefe dos colaboradores civis. Já em Luanda, fui informado da minha nomeação como embaixador.

A presença dos internacionalistas cubanos em Angola viria a ter o seu teste de resistência no dia 10 de Novembro de 1975, quando forças da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), coligadas com o exército zairense, sob as ordens do então presidente Mobutu Sese Seko, foram derrotadas e humilhadas em Kifangondo, no município de Cacuaco, bem às portas da cidade de Luanda. O que representou, para Cuba, a Batalha de Quifangondo?

Essa batalha representou a realização de muitos esforços e ousadia, ultrapassando obstáculos, mas a vitória de Quifangondo permitiu-nos medir a justeza das nossas convicções e a alegria de lutar ao lado de um povo corajoso, determinado a dar tudo pela sua liberdade, sob a orientação do MPLA e do seu líder, António Agostinho Neto. Para os revolucionários cubanos, era uma confirmação do que Fidel havia dito: “desafiar forças dominantes poderosas dentro e fora da esfera social e nacional; e defender valores em que se acredita ao preço de qualquer sacrifício”.

Está mais que claro que Cuba desempenhou um papel fulcral na conquista e na preservação da independência de Angola. O que tem a dizer sobre isso?

Cuba, liderada pelo nosso líder histórico Fidel Castro Ruz, cumpriu em Angola o sagrado dever internacionalista de apoiar aquele povo digno na luta épica para conquistar e preservar a sua independência. Fizemo-lo seguindo o princípio de que a solidariedade deve reger as relações entre povos e países, como demonstrado pela experiência histórica e como evidenciado hoje pela luta contra o Covid-19.

Como foi, para si, viver e acompanhar  “in situ” aqueles primeiros dois anos da independência de Angola?

Como tenho escrito, esses momentos épicos estavam cheios de ensinamentos. Angola estava a sofrer as consequências de uma longa noite colonial, as constantes agressões do inimigo, o fervor de construir o Estado, o aparelho administrativo e uma nova vida pelo e para o povo angolano. Foi uma experiência única, porque cada povo escreve a sua própria história e, na sua singularidade, contribui para o património universal.

Certamente que esteve algumas vezes com o Presidente Agostinho Neto. Como foi a sua relação com o Fundador da Nação angolana e como poderia caracterizá-lo, como homem e como político?

No exercício destas funções, tive a sorte de várias vezes dialogar com o Presidente António Agostinho Neto, com quem já me havia encontrado, na Argélia, em 1964. Um homem sereno, culto, pensativo, digno, firme nas suas convicções e decisões, e com um amor muito forte por Angola, pelo seu povo e pela liberdade. Ele impressionou-me com a sua determinação estoica de lutar, sem hesitação, pela independência total de Angola. Ele era muito estudioso, analítico e eu percebi que ele conhecia as questões que estávamos a abordar. Os obstáculos a ultrapassar eram muito grandes, mas Neto não tinha medo deles, eu diria que ele estava a crescer nessas circunstâncias. Era um homem de grande silêncio, com um olhar profundo e muito humano. Tenho uma profunda admiração pelo seu grande trabalho de conduzir o país à independência, no meio de uma luta tenaz.

Das recordações que certamente tem da sua missão, como embaixador em Angola, que episódio ou circunstância inusitada ou extraordinária poderá o senhor destacar agora dos momentos que viveu nesse país?

A decisão de ajudar outros povos africanos na luta pela emancipação. Neto foi muito forte no apoio à SWAPO, na Namíbia, ao ANC, na África do Sul, e à Frente Patriótica, no Zimbabwe. Agostinho Neto sofreu muito com isso, mas nunca desistiu, o que tornou possível o amanhecer da África Austral. Neto estava bem ciente de que a garantia da independência de Angola estava no reino da liberdade no resto da região.

O embaixador Oscar Oramas também foi representou o seu país na Guiné-Conakri, no Mali, São Tomé e Príncipe e Organização das Nações Unidas, além de exercer outras funções no Ministério das Relações Exteriores do seu país. Que importância considera que teve a sua experiência em Angola para o curso que teve depois a sua carreira diplomática?

Angola permitiu-me consolidar o meu conhecimento de África e dos seus povos. Eu diria que a minha estadia no país me enriqueceu espiritual e culturalmente, e isto permitiu-me assumir as funções que mencionou. Da minha estadia em Angola, surgiu a minha tese de doutoramento sobre África, a descolonização e os seus líderes.

Passados 45 anos, como vê Angola, hoje?

Os processos históricos e sociais são longos e complexos, e Angola está inexoravelmente em busca de si mesma, para o que tem uma história bela e impressionante, antes da colonização e, mais tarde, na construção de uma nação moderna, na qual os seus filhos gozam de plena liberdade, que conquistaram ao preço de muitos sacrifícios, permitindo-lhes avançar em todas as áreas e assim contribuir para a civilização universal.

Certamente que continua a acompanhar o desenvolvimento das relações políticas e diplomáticas entre Angola e Cuba. Como vê o estado dessas relações e o que considera ser necessário fazer para que sejam mais benéficas para os respectivos povos?

No mundo de hoje, repito, a solidariedade deve reger as relações entre os povos, os governos, especialmente os do chamado Terceiro Mundo. Cuba e Angola devem alargar cada vez mais as suas relações em todas as áreas, beneficiar das suas respectivas experiências e possibilidades e construir sobre a sua história comum de luta, a fim de continuarem a reforçar os laços bilaterais.

Que mensagem deixaria para o povo angolano por ocasião da festa dos 45 anos de independência da República de Angola?

Que nunca esqueçam as experiências da luta pela independência e que continuem incessantemente a construir uma nação chamada a ser um farol e guia dos povos africanos e, portanto, do Terceiro Mundo.





Fotos em destaque

Mais de três mil famílias na massificação da produção de trigo no Bié

Mais de três mil famílias na massificação da produção de trigo no Bié

Quinta, 14 Março De 2024   22h43

Administração da Ganda (Benguela) entrega gado aos criadores afectados por descarga eléctrica

Administração da Ganda (Benguela) entrega gado aos criadores afectados por descarga eléctrica

Quinta, 14 Março De 2024   22h35

INAC denuncia exploração de crianças em pedreiras do Lubango

INAC denuncia exploração de crianças em pedreiras do Lubango

Quinta, 14 Março De 2024   21h55

Novas vias desafogam tráfego no Zango (Luanda)

Novas vias desafogam tráfego no Zango (Luanda)

Quinta, 14 Março De 2024   21h48

Aumento de crimes provoca superlotação na cadeia de Cacanda na Lunda-Norte

Aumento de crimes provoca superlotação na cadeia de Cacanda na Lunda-Norte

Quinta, 14 Março De 2024   21h43

Província do Bengo quer reactivar produção do café robusta

Província do Bengo quer reactivar produção do café robusta

Quinta, 14 Março De 2024   21h38

Lunda-Sul tem 17 zonas turísticas catalogadas

Lunda-Sul tem 17 zonas turísticas catalogadas

Quinta, 14 Março De 2024   21h33

Serviço de estomatologia volta a funcionar 14 anos depois em Cangandala (Malanje)

Serviço de estomatologia volta a funcionar 14 anos depois em Cangandala (Malanje)

Quinta, 14 Março De 2024   21h29

Afrobasket poderá colocar Angola na rota do turismo continental

Afrobasket poderá colocar Angola na rota do turismo continental

Quinta, 14 Março De 2024   21h26

Cadeia do Nkiende em Mbanza Kongo produz cerca de quatro toneladas de milho

Cadeia do Nkiende em Mbanza Kongo produz cerca de quatro toneladas de milho

Quinta, 14 Março De 2024   21h19


+