Somos os americanos de Malanje em termos agrícolas – Administrador de Cacuso

     Entrevistas           
  • Luanda     Domingo, 17 Dezembro De 2023    08h19  
Administrador municipal de Cacusu, Manuel Van-Dúnem
Administrador municipal de Cacusu, Manuel Van-Dúnem
Clemente dos Santos - ANGOP

Malanje – O administrador municipal de Cacuso, Manuel Van-Dúnem, afirmou recentemente, na província de Malanje, que a localidade apresenta bons indicadores de produção agrícola e poderá tornar-se, com mais investimentos, no maior celeiro do país.

Por Aurélio Cua, José Gomes e Venceslau Mateus, jornalistas da ANGOP

Com cerca de 100 mil habitantes, o município regista forte aposta produtiva das famílias e de 32 fazendeiros, que colheram (fazendas), na campanha agrícola 2022/2023, um total de 142 mil toneladas de milho, 97 mil de feijão e 47 mil de soja.

Conforme o gestor, no cargo desde Março último, as previsões apontavam para uma produção de cerca de 200 mil toneladas de milho, 63 mil de soja e 182 mil de feijão.

Nesta entrevista, o administrador afirma que o município também cresce em relação ao sector da avicultura, abrindo portas para o surgimento de novos investidores.

“Estamos a crescer. É visível a presença de mais investidores nestas áreas. Estão igualmente a ser criadas condições para que os jovens possam emergir nestas áreas, sobretudo na avicultura”, exprimiu.

Conforme o gestor, já existem alguns jovens em fase de iniciação na avicultura, enquanto na pecuária, alguns despontam na criação de gado bovino, caprino e suíno.

Manuel Van-Dúnem reconhece, entretanto, que o maior desafio da sua gestão será melhorar o fornecimento de água potável e construir novas infra-estruturas sociais e económicas, sobretudo escolas, além de consciencializar os jovens sobre a ética.

Eis a íntegra da entrevista:

ANGOP – Senhor administrador, está no cargo há pouco menos de seis meses e, certamente, já terá feito um diagnóstico real e profundo sobre as potencialidades e vulnerabilidades de Cacuso. Qual é, em concreto, o seu maior desafio?

Manuel Van-Dúnem (MV) - O nosso maior desafio tem sido a falta de água na casa dos munícipes, de infra-estruturas, sobretudo escolas, assim como a consciencialização dos jovens sobre matérias relacionadas com a ética.

ANGOP – A vossa população não dispõe de água potável?

MV - Temos pequenos sistemas de água elevados, manivelas e poços em algumas localidades, mas os sistemas de abastecimento do produto ainda são reduzidos e não satisfazem os anseios da população.

ANGOP – E como pensa resolver esse problema específico das comunidades?

MV- Encontra-se em fase de concurso o projecto para a construção de um sistema de tratamento de água para o município de Cacuso, que será abastecido pelo rio Lucala. Temos a plena certeza de que até 2024 o município terá água canalizada.

ANGOP – Vivem a mesma realidade com a energia eléctrica, ou estão melhor servidos nesse quesito, até porque contam com as barragens de Capanda e Laúca?

MV - Temos energia eléctrica nas quatro comunas, mas ainda há vários sectores e bairros sem electricidade. Não diríamos que estamos mal, porém, não estamos satisfeitos com o nível de distribuição de energia, pelo que estamos trabalhar para podermos estender cada vez mais a rede eléctrica e satisfazer os anseios das populações.

ANGOP - Quantas famílias beneficiam-se, actualmente, da energia eléctrica?

MV - Não conseguiríamos precisar o número de famílias, mas podemos dizer que a maioria dos munícipes beneficia do produto.

ANGOP – Por aquilo que observamos, os problemas não se limitam apenas à questão da energia e águas. Há, também, carências no sector da educação. Qual é o quadro real desse sector que nos pode apresentar?

MV - A educação no município de Cacuso ainda não nos satisfaz, na medida em que temos muitos alunos fora do sistema de ensino, devido o número reduzido de escolas. Neste momento, estamos a criar políticas para implementar o projecto TUPPI (Todos Unidos pela Primeira Infância), virado para a criação de salas de aula dentro das comunidades, para facilitar a inserção das crianças no sistema de ensino, mesmo sem estruturas propriamente ditas. Já se provou que é um sistema eficaz e vamos optar por esta via, enquanto esperamos construir mais escolas.

A educação não pressupõe apenas paredes. Estamos também com um projecto para melhorar a qualidade do aprendizado dos números. Cacuso está numa zona industrial e entendemos que a questão do conhecimento dos números poderá dar um conforto aos alunos de vir integrar estas empresas. O projecto denomina-se “Candengue do Número”. É um projecto de Matemática para o ensino primário. No quadro desta iniciativa, os alunos já tiveram as primeiras aulas no período de férias. Também estamos a trabalhar na formação metodológica e moral dos professores. Entendemos que o professor, sendo ele instrutor, deve estar fortemente munido de ferramentas morais e científicas para que ensine com rigor e corrija com amor. No entanto, a educação em Cacuso, como um sistema, não está mal, mas inspira ainda cuidados, razão pela qual este ano estaremos afincados na criação de políticas para mudar o quadro.

ANGOP - Quantas crianças estão fora do sistema de ensino?

MV - Temos pelo menos quatro mil crianças.

ANGOP - Quantas escolas existem e quantas estão a ser executadas no âmbito do PIIM (Plano Integrado de Intervenção nos Municípios)?

MV - Com recurso ao PIIM, foram concluídas três escolas de seis salas de aula cada, nas comunas do Soqueco, Kizenga e Pungo-a-Ndongo. Estão em construção outras duas de 12 salas de aula cada, sendo uma na sede municipal e outra na comuna do Lombe.

Em funcionamento estão sete escolas do ensino primário, no município sede, três do I ciclo e uma escola do II ciclo, no entanto numa estrutura do ensino primário, por falta de infra-estrutura própria. A nível das comunas, temos três escolas no Lombe e igual número no Kizenga, duas no Soqueco e uma no Pungo-a-Ndongo.

ANGOP – E no domínio da saúde, também registam um quadro animador?

MV - No domínio da saúde, não temos um hospital propriamente dito, mas sim uma unidade funcional, com deficiência de fluxograma. Entretanto, está em construção um centro de saúde do Tipo A, na sede, e outro do Tipo B, na comuna do Lombe. Em termos de medicamentos não estamos muito mal, embora não dê resposta a toda a demanda. Está a atender a população a um nível aceitável.

ANGOP - Quais são as patologias mais frequentes em Cacuso?

MV - Malária e tosse, sobretudo em crianças.

ANGOP – Vimos em Cacuso um grande movimento das famílias e dos fazendeiros, que investem forte no campo. Qual é o quadro real do sector agrícola?

MV - O sector agrícola em Cacuso é muito forte. Somos os americanos de Malanje em termos agrícolas, porque temos concentrado o maior número de fazendas agrícolas a nível da província. Nesta altura, controlamos 32 fazendas e outras estão em fase de constituição. Até ao fim do deste ano, o número de fazendas poderá situar-se nas 39.

ANGOP – Quais são as culturas predominantes nestas fazendas?

MV - As fazendas dedicam-se, essencialmente, à cultura do feijão, milho, soja, melancia e outros produtos em pequena escala. O município é o maior produtor de batata-doce do país, embora este segmento seja controlado pelos produtores familiares.

ANGOP - Em termos de cereais, quais são as quantidades produzidas na campanha agrícola 2022/2023 e qual é a perspectiva para a época que se avizinha?

MV - Na campanha agrícola 2022/2023, as fazendas produziram, no global, 142 mil toneladas de milho, 97 mil toneladas de feijão, 47 mil toneladas de soja. Para o ano agrícola 2023/2024, conforme garantias dos proprietários das fazendas, esta cifra será aumentada, contando, obviamente, com o clima, que tem influenciado nos resultados.

Para o caso do milho, perspectiva-se uma produção de cerca de 200 mil toneladas, 63 mil toneladas para a soja e 182 mil toneladas de feijão.

ANGOP - E qual tem sido o destino da produção local?

MV - A maior parte da produção é adquirida pelo Grupo Carrinho. Quanto à batata- doce, é escoada para o nosso maior mercado: Luanda.

ANGOP - Ao longo da Estrada Nacional 230 há várias famílias a comercializar produtos do campo, com ênfase na batata-doce. Que assistência tem sido prestada aos agricultores do sector familiar?

MV - Temos trabalhado com a Estação de Desenvolvimento Agrário (EDA), que é a instituição encarregue de dar sustentabilidade à criação de políticas exequíveis para alavancar a agricultura familiar. Tem vindo a surtir efeitos positivos no município.

Temos também o suporte do Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PIDLCP). Dentro de dias daremos os apoios necessários às famílias, para estimular a produção no ano agrícola 2023/2024. Temos vindo a seguir as políticas que visam estimular a agricultura e melhorar a renda das famílias.

ANGOP - Há um controlo efectivo das famílias camponesas no município?

MV - Não temos um controlo, mas estamos a trabalhar com a EDA, ADRA (Acção de Desenvolvimento Rural e Ambiente) e a Direcção Municipal da Agricultura de Cacuso, de modo a cadastrarmos e catalogarmos as famílias.

ANGOP – O Senhor administrador afirmou que Cacuso é o maior produtor de batata-doce do país. Em que pressupostos se baseou para chegar a essa conclusão?

MV - Cacuso conta com uma média de produção anual de 18 mil toneladas do referido tubérculo. Este ano foi mais, atingimos uma média de 25 mil toneladas, só no sector do Cambunzi. No geral, o município alcançou uma produção de 280 mil toneladas do tubérculo. Este ano crescemos muito e queremos crescer mais. Apenas temos cultivado a batata-doce na época chuvosa, no entanto, a intenção é produzi-la durante todo ano.

Por isso, o Programa de Combate à Pobreza está virado para a distribuição de máquinas de rega para dar suporte à produção deste produto.

ANGOP - Voltando à questão das fazendas, que acções têm desenvolvido em prol dos agricultores mais desfavorecidos?

MV - Uma ou outra fazenda tem realizado tais acções. A nossa empatia, enquanto administração, também tem feito que os empresários se sintam um pouco confortáveis.

Às vezes ninguém quer sair do conforto, gastar mais se não for pedido. Diante disso, a administração municipal está a bater a porta destas instituições para que cumpram com as suas responsabilidades sociais. Pensamos que a falta de políticas de apoio social, por parte dos empresários locais, deve-se, em grande medida, à nossa falta de motivação.

ANGOP - Fala-nos um pouco sobre o sector pecuário e avícola.

MV - Estamos a crescer. É visível a presença de mais investidores nestas áreas. Estão igualmente a ser criadas condições para que os jovens possam emergir nestas áreas, sobretudo na avicultura. Já temos alguns jovens em fase inicial na avicultura. Na pecuária, temos também alguns a despontar na criação de gado bovino, caprino e suíno.

Cacuso detém três aviários em plena operação, que fornecem frangos e ovos.

ANGOP – Tem alguma estimativa da população animal do município?

MV- Em termos precisos, podemos apenas avançar com as aves e os caprinos. Nos três aviários, temos mais de 20 mil aves, sem contar com as dos projectos juvenis. Temos ainda entre 12 a 14 mil caprinos.

ANGOP- Culturalmente, o município é rico. O que existe nesse domínio e que acções são desenvolvidas para promover, valorizar e preservar os locais históricos?

MV - Somos ricos culturalmente. Estamos a trabalhar com a Direcção Municipal da Educação, porque entendemos que a cultura também passa pela valorização da língua.

Queremos que o Kimbundo tenha mais falantes. Também temos a questão da música tradicional do município (mbuenze), que está a perder terreno para o kuduro - de que não temos nada contra, mas gostaríamos de resgatar também o ritmo local. Já temos muitos grupos, um total de 12, registados pela Direcção Municipal da Juventude e Desportos, Tempos Livres e Cultura. Temos também os lugares históricos, que fazem parte da nossa cultura, com destaque para as Pedras Negras de Pungo-a-Ndongo.

Estamos a trabalhar para criar políticas que possam melhor aproveitar e rentabilizar aquele lugar, criando condições de higienização e acomodação dos visitantes. É um processo e esperamos que, dentro de algum tempo, venhamos a ter este ganhos.

ANGOP - Falando em rentabilização, como estão a gerir os espaços turísticos?

MV - O turismo em Cacuso está a crescer. Até então não fazia parte da nossa cultura. Estávamos habituados a aceder aos espaços de graça. Com o investimento privado, o município está a registar uma evolução gradativa. Repare que os melhores resorts da província de Malanje estão no município de Cacuso. Já tivemos mais resorts, mas nesta altura alguns estão fechados e esperamos que reabram, com destaque para o Chitogo e Tchaúnda, que davam um outro impulso ao turismo local. A hotelaria também está a crescer a nível do município e temos mais investimentos. Vamos crescer e sonhar com a dinamização deste sector, para garantir receitas e gerar emprego aos jovens.

ANGOP - Quantas unidades hoteleiras e similares controlam?

MV - Temos um hotel, três hospedarias e dois resorts, com um total de 320 camas. Existem outras unidades em construção, que vão elevar, dentro de um ano, o número de camas para 500. Queremos albergar grandes fóruns, por isso estamos sempre a apelar aos empresários para investirem em Cacuso.

Geografia

O município de Cacuso tem 6 859 km² e cerca de 101 mil habitantes. É limitado a norte pelos municípios de Lucala e Samba Caju (província do Cuanza Norte) e Calandula, a leste pelo município de Malanje, a sul pelos municípios de Mussende e Libolo (província do Cuanza Sul), e a oeste pelos municípios de Cambambe e Cazengo (Cuanza Norte).

É constituído pela comuna-sede, correspondente à cidade de Cacuso, e pelas comunas de Lombe, Quizenga, Pungo-a-Ndongo e Soqueco.

O grande referencial territorial do município é a extensa e imponente formação rochosa denominada de Pedras Negras de Pungo-a-Ndongo, que molda a paisagem do curso médio da bacia do Cuanza, sendo também responsável pela criação das condições geográficas e geológicas favoráveis à Central Hidroeléctrica de Capanda.

A existência da formação rochosa das Pedras Negras foi factor crucial para a construção da Fortaleza de Pungo-a-Ndongo, marco da colonização das terras cacusenses.

Economia

Desde 2014, a cidade passou a contar com uma fábrica de açúcar, álcool e energia eléctrica, sendo a primeira a ser instalada em Angola. De propriedade da empresa Biocom, a tecnologia usada foi toda brasileira.

Cacuso conta também com alguns hotéis situados às margens da rodovia, que a corta ao meio, além de agências bancárias com caixas ligadas às redes de cartões internacionais.

Infra-estrutura

No município estão instaladas duas Centrais Hidroeléctricas: de Capanda, nas proximidades da Vila Permanente de Capanda, na comuna de Pungo-a- Ndongo, sendo uma das principais plantas energéticas do país, e a barragem de Laúca, essa a maior.

Recentemente, foi inaugurada uma fábrica de batatas fritas denominada Palanca.

A cidade de Cacuso é servida pelo Caminho de Ferro de Luanda, dispondo de uma estação de cargas e passageiros. Outras localidades do município também possuem estações ou paradas, como a de Quizenga, Cambunze, Matete, Zanga e a de Lombe.

Outras facilidades logísticas vitais são as rodoviárias, sendo a mais importante a EN- 230, que a liga a Malanje (leste) e Ndalatndo (oeste). Outra via importante é a EN-230, que liga à comuna de Pungo-a-Ndongo e à vila de Capanda.

Perfil do administrador municipal

Manuel Sampaio Faria Van-Dúnem nasceu a 16 de Setembro de 1983 em Kimbala, comuna de Soqueco, município de Cacuso, província de Malanje.

É licenciado em Pedagogia, pelo Instituto Superior Nelson Mandela, Luanda, e mestre em Psicologia Social, pela Universidade Metropolitana de Assuncion, Paraguai.

Tem pós-graduação em Psicologia e Câncer, pelo Centro de Estudos Avançados Psicocare, São Paulo, na República Federativa do Brasil.

Também é Bacharel em Ciências Biomédicas, pela Universidade de Montemorellos, México.

Foi docente universitário, director da escola do ensino primário, I e II ciclos do ensino secundário de Capanda-Cacuso, entre 2012-2014, director do Liceu Ngola Kiluanje,  em Cacuso (2015-2020), director do Liceu Serra Van-Dúnem n°45 do município de Malanje (2015-2022), do Instituto Politécnico Adventista de Malanje, de 2021 a 2023.

Para além do Português, fala kimbundo e espanhol.





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