Sonhei dar mais voz e vez às mulheres - Eva Santos

     Entrevistas           
  • Luanda     Sábado, 09 Março De 2024    02h19  
Responsável da organização liderança feminina em Angola, Rosa Santos
Responsável da organização liderança feminina em Angola, Rosa Santos
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Luanda – Eva Santos, criadora da organização Liderança Feminina de Angola, afirmou, esta sexta-feira, que o seu sonho é contribuir na valorização e maximização do potencial das mulheres.

Por António Tavares, Jornalista da ANGOP

Em entrevista à ANGOP, a empreendedora, que desenvolveu o método “INSPIRA”, afirma que quer continuar a construir e a impactar na vida das mulheres, graças à sua experiência adquirida ao longo de 25 anos de trabalho com organizações internacionais e nacionais, em Angola e Portugal.

“Apesar de todas as dificuldades, devo continuar, pois acredito que este é o meu legado e missão, é também o nosso compromisso, em contribuir de forma activa para o 5º Objectivo de Desenvolvimento Sustentável – Igualdade de Género”, disse.

Durante a entrevista, Eva Santos disse acreditar que o mundo ainda é machista, pois o homem é quem ainda dita «as regras do jogo ».

Afirmou que em algumas áreas e mesmo em alguns ambientes familiares,  há algumas mudanças, mas ainda ténues. 

“Aquilo que todos podemos fazer é sermos justos quanto ao tema da igualdade do género. É um compromisso individual, das pessoas que comigo caminham diariamente nesta luta, de quem nos acompanha de longe. Mas acima de tudo, a nossa voz está a ser ouvida”, disse.

Nesta conversa, a mentora fala do papel da sua organização na valorização da mulher, dos programas em curso para vencer este desafio e sobre o papel de todos actores sociais para que o equilíbrio do género seja cada vez mais efectivo.

Eis a entrevista na íntegra: 

ANGOP - O que é a Liderança Feminina?

Eva Santos (ES) - A Liderança Feminina Angola foi criada, a 9 de Fevereiro 2019, por Eva Rosa Santos e tem como missão elevar e valorizar a voz da mulher líder, tendo e dando Voz!

ANGOP - Qual é o objectivo da sua criação?

ES - O objectivo é promover a capacitação e o desenvolvimento das mulheres como líderes. Isso é feito através de várias estratégias tais como:

Elevar a voz das mulheres líderes, dando-lhes uma plataforma para expressar as suas ideias, preocupações e visões.

Facilitar a criação de redes de confiança entre as mulheres líderes, permitindo-lhes colaborar, trocar experiências e apoiar-se mutuamente.

Capacitar as mulheres líderes para alcançarem seu máximo potencial, incentivando-as a construir histórias de sucesso e acreditar em sua capacidade de fazer a diferença.

Promover o cuidado pessoal e o bem-estar das mulheres líderes, reconhecendo a importância do equilíbrio entre trabalho, vida pessoal e saúde.

Inspirar as mulheres líderes a perceberem o valor de sua voz e seu papel na sociedade, encorajando-as a assumirem liderança e contribuírem para o progresso e desenvolvimento de Angola e no Mundo.

Queremos impactar, capacitar as mulheres líderes, fornecendo-lhes os recursos, apoio e plataforma (www.liderancafemininaangola), através da nossa plataforma Comunidade Liderança Feminina – Ondaka)  necessários para alcançarem seu pleno potencial e fazerem uma diferença significativa em suas comunidades e na sociedade em geral.

ANGOP - Como surgiu a ideia?

(ES) - Nasce de um sonho, mas também de uma necessidade em que as Mulheres devem desenvolver o seu máximo potencial enquanto líderes. Devem estabelecer mais relações de confiança, realizar networking saudável, construir as suas histórias de sucesso, cuidar de si e acreditar que podem fazer diferença.

 

 

ANGOP – Com base em que valores a vossa organização se orienta?

ES - Pautamo-nos pelos seguintes valores:

Colaboração:

Comprometemo-nos a fortalecer os laços com a nossa comunidade, promovendo uma cultura de colaboração e solidariedade em todas as nossas iniciativas.

Transformação:

Acreditamos no poder da transformação pessoal e organizacional. Por isso, investimos em coaching e mentoria para desenvolver talentos e competências que sejam verdadeiramente transformadores, impulsionando o crescimento e o sucesso de todas as envolvidas.

Gerações Futuras:

Estamos empenhadas em investir no desenvolvimento das líderes do amanhã, capacitando-as com as ferramentas e os recursos necessários para enfrentarem os desafios do futuro com confiança e determinação.

ANGOP - Ao longo dos seus cinco anos de existência, que balanço pode fazer do vosso trabalho e qual é a sua repercussão na sociedade, sobretudo no meio feminino?

ES - Quando os projectos que nascem de sonhos conseguem tornar-se em realidade e, apesar de todas as dificuldades, continuarem, pois acredito que este é o meu legado e missão, é também nosso compromisso contribuir de forma activa para a realização do 5º Objectivo de Desenvolvimento Sustentável – Igualdade Género.

É um compromisso individual, das pessoas que comigo caminham diariamente nesta luta, de quem nos acompanha de longe. Mas, acima de tudo, que a nossa voz está a ser ouvida. 

Senão, muito provavelmente não estaria hoje aqui a partilhar a minha história convosco. 

E porque os números reflectem as nossas acções: em cinco anos de existência, 35 clientes no Programa Coaching Consigo, actualmente 30 bolsas atribuídas da Bolsa Ermelinda, 103 Conversas sobre Liderança e a preparar o I Livro, a criação, neste ano, do Fórum de Liderança Feminina, Diversidade e Inclusão, a ter lugar, em Maio, aumento orgânico dos seguidores nas nossas redes sociais, estabelecimento de novas parcerias e adesão ao Pacto Global da ONU. 

As acções que se consolidam atestam que afinal será possível impactar 5.000 meninas e mulheres, até 2025, e que demonstra que os sonhos podem ser concretizados com sucesso.

ANGOP - Quantas figuras já foram reconhecidas, por intermédio do vosso trabalho?

ES - O prémio de Reconhecimento Público de Líderes Femininas em Angola foi lançado, em 2023, pelo que as primeiras mulheres reconhecidas foram apresentadas, no dia 9 de Fevereiro de 2024.

O prémio procura destacar e celebrar as conquistas e contribuições das mulheres inspiradoras que estão a moldar positivamente o panorama de liderança em Angola. Esta data coincidiu com a celebração do nosso aniversário e do qual resultou o TOP 5.

Reconhecemos a importância em dar destaque às mulheres que estão a liderar com excelência, a superar barreiras e a criar um impacto significativo nas suas comunidades e além.

Queremos reconhecer e homenagear, as líderes femininas excepcionais que merecem a nossa admiração e gratidão nas mais diversas áreas.

Teve a participação do público e baseou-se na resposta a questionário on-line onde o público livremente escolheu as três mulheres que considera possuírem as características de líder e que também identificámos no questionário, a saber: Integridade, Visão, Auto-consciência, Capacidade de decisão e Colaboração. 

A validação dos resultados foi realizada por parte do Centro de Investigação da Universidade Católica.

ANGOP – Que outros projectos são desenvolvidos pela organização?

ES - Ao nível da Responsabilidade Social já realizamos VI Programas de Coaching Consigo e actualmente no ano lectivo 203/24 foram atribuídas 30 Bolsas Ermelinda. A nível Corporativo, desde o ano passado, estamos orientados para apoiar as organizações nas suas estratégias de Igualdade Género, Diversidade e Inclusão. 

E estamos sempre a investir no desenvolvimento das nossas mulheres líderes, através de mentoria, coaching, palestras, workshops.

ANGOP - Acredita que ainda temos uma sociedade machista?

ES - Sim, acredito que o homem é quem ainda dita as regras do jogo.

Tenho visto em algumas áreas e mesmo em alguns ambientes familiares algumas mudanças, mas ainda ténues. Aquilo que todos podemos fazer é sermos justos quanto ao tema da igualdade do género.

ANGOP - A desigualdade de género é um problema mundial, como é que encara os programas do governo para vencer este desafio?

ES - Com os desafios inerentes ao tema, temos todos de fazer uma mudança construtiva e com resultados, não basta dizer-se que se faz é necessário reduzir as desigualdades salariais, é necessário dar mais oportunidades às mulheres nas diversas áreas de actuação, é necessário investir em projectos, negócios de mulheres, é necessário capacitar e construir uma sociedade mais equitativa.

ANGOP - Hoje, como é que a mulher é vista no mercado de trabalho?

ES - A mulher, na minha opinião, é uma profissional competente, ética, exigente, presente, amiga. Que se esquece demasiadas vezes de cuidar de si, para cuidar apenas dos outros, mas que tem a maioria das vezes melhores resultados.

Quando está à frente de funções de liderança, por vezes fica com medo de assumir essas funções, quer seja porque acha que não tem competências, ou porque não tem a rede de apoio que se lhe é exigido, ou porque receia aceitar a sua vulnerabilidade ou fazer valer a sua voz. 

Quando descobrirem que podem ultrapassar estes medos e serem líderes mais inclusivas, empáticas, orientadas para os resultados, tenho a certeza de que também começaremos a ver mais mudanças.

ANGOP – Nesta luta, as mulheres são também chamadas a se empenhar para disputar os espaços com os homens. Acha que têm feito o suficiente para conquistar mais espaços?

ES - Eu acho que primeiro não deveria haver aqui este sentimento de “luta” com os homens, mas sim de colaboração e desenvolvimento conjunto, onde o que deve prevalecer são as competências. No final do dia se retiramos a variável género o que fica é a importância de ser um líder capacitado, empático, focado nos resultados.

O que estamos a fazer é criar as condições para que esta realidade seja mais justa no momento de decidir e, intencionalmente, encontrarmos o equilíbrio que nesta fase só se consegue alcançar com a equidade, com acções explícitas para atribuirmos as mesmas  condições para essa competição saudável.

ANGOP  - Estamos em Março, ‘Mês da Mulher’. Faça uma avaliação do processo de empoderamento da mulher em Angola?

ES - Se de um lado temos cada vez mais mulheres em funções de liderança, como é o caso do nosso governo, por outro lado também temos uma taxa elevada de abandono escolar no feminino e de gravidez precoce.

Falar da Mulher é falar do que estamos hoje a fazer para continuar a progredir na igualdade do género e simultaneamente preparar a futura geração de líderes. 

Estamos a evoluir ainda muito lentamente neste alcance do 5 Objectivo do Desenvolvimento Sustentável – Igualdade do Género

ANGOP  - Neste quadro, qual deve ser o papel das empresas privadas no apoio ao empoderamento e à igualdade de género?

ES - Este tema remete-me sempre para a importância das quotas e para a forma como as empresas integram esta preocupação nas suas políticas de desenvolvimento. 

Não basta dizer que se quer fazer, é necessário criar as condições para identificar, actuar e avaliar o que se está a fazer. Se ainda são necessárias quotas? Sim, mas só defendo quando acompanhadas com planos de desenvolvimento claro, porque senão não estamos a contribuir e a mudar nada.

E é esse suporte que disponibilizamos, através da Liderança Feminina em Angola para as organizações que estejam de facto comprometidas para essa mudança.

Esta é uma responsabilidade de todos.

 ANGOP - Que significado atribui ao Março/Mulher?

ES - Que não seja apenas em Março que queiramos dar voz, cuidar e homenagear a Mulher, mas que seja a plataforma para a continuidade e para que possamos realmente fazer esta transição necessária. Afinal, com sociedades mais equitativas, ficamos todos a ganhar.

No entretanto, uma mensagem de força para todas as Meninas e Mulheres: acredita em Ti, porque Tu és Única e absolutamente extraordinária desde que Tu acredites em ti! ART

 Sobre Eva Rosa Santos

Com presença forte, voz serena, com foco na concretização dos seus sonhos, Eva Rosa Santos considera-se, por vezes, uma romântica e idealista.

 Contudo, nos seus 25 anos de experiência profissional em Organizações Multinacionais e nacionais, por Portugal e Angola, construiu, transformou e consolidou as áreas de Recursos Humanos por onde passou, sobretudo enquanto sua Directora de Capital Humano. 

Enquanto empreendedora, quer continuar a construir e a impactar na vida dos líderes e potenciais líderes, maximizando para isso o seu potencial, contribuindo para que todos tenham voz. Para o efeito, desenvolveu o método INSPIRA, como resposta para esse desenvolvimento.

É, também, uma forte apaixonada pelos temas de Liderança Feminina e Igualdade do Género, intervindo activamente nestas áreas e pretende trazer um novo olhar sobre a valorização da mulher e o seu papel como Líder. 

Mãe, Filha, Esposa, Amiga leal, adora viajar, conhecer novas culturas, pintar e explorar livros, acreditando que a partilha de conhecimento e a criação de relações de confiança é o seu factor diferenciador de sucesso. ART

 

 





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