Temos interesse na área de Petróleo e Gás – Diplomata queniano

     Entrevistas           
  • Luanda     Quinta, 19 Outubro De 2023    09h08  
Encarregado de negócios do kenia, Andrew Mijuvane
Encarregado de negócios do kenia, Andrew Mijuvane
Manuel Zamba-ANGOP

Luanda – O encarregado de negócios da Embaixada do Quénia em Angola, Andrew  Mujivane, reafirmou, recentemente, o interesse do seu país em apoiar o programa de diversificação económica e de reforço da segurança alimentar em Angola.

Por António Tavares, Jornalista da ANGOP

O sector agrícola, considerado a “espinha dorsal” da economia queniana, emprega 70% da população rural e representa cerca de 65% das receitas de exportação, com uma quota de 35% no PIB, experiência que o diplomata acredita ser útil para Angola.

Segundo a fonte, que falava em entrevista à ANGOP, este será um dos principais assuntos que estará à mesa durante a I reunião da Comissão Mista Angola/Quénia, agendada para o dia 17 deste mês, em Nairobi, que vai analisar o quadro da cooperação e definir estratégias para alargar a parceria no domínio económico. 

Conforme o diplomata, o seu país tem feito da agricultura um motor de desenvolvimento da economia, que lhe permitiu acumular experiência no cultivo de vários produtos de exportação, como o chá, café, flores, cereais e outros.

Nesta perspectiva, Adrew Agufana afirmou que o governo do seu país quer transferir o “Know-how” para impulsionar o crescimento deste sector em Angola.

Para o efeito, referiu, empresários quenianos do ramo agrícola visitaram, recentemente, o país, onde constataram potencial suficiente para alavancar a produção agrícola, tendo, inclusive, identificado áreas de investimento nas províncias de Malanje e do Moxico.

Nesta entrevista, o encarregado de negócios, que é o responsável principal da missão diplomática do Quénia em Angola, apontou os sectores do turismo, tecnologia de comunicação, dos petróleos e recursos minerais como áreas estratégicas da cooperação.

Eis na íntegra a entrevista:

ANGOP – Antes de entrarmos para os aspectos essenciais desta parceria, pode fazer um resumo histórico desta cooperação?

Andrew Mujivane (AM) - Agradecemos a oportunidade, porquanto são poucos os momentos que falamos sobre a nossa cooperação, apesar de serem históricas. As relações entre o Quénia e Angola foram estabelecidas ainda na era colonial, muito antes da independência de Angola. Lembro que o pai da nossa independência, Jomo Kenyatta, já visitou Angola e tentou fazer com que os três movimentos de libertação de Angola se unissem em torno de um objectivo comum, a independência.

Neste quadro, houve encontros em Nakuru e Mombassa, Quénia, em 1974, promovidos pelo fundador da Nação Queniana, com objectivo de juntar os três movimentos de libertação de Angola à volta de uma visão comum. De lá para cá, as relações começaram a melhorar e foram movidas mais no domínio político. Na medida que estas relações crescem, estamos a tentar mover para as esferas económica e do comércio. Portanto, para mostrar que Angola é um parceiro estratégico para o Quénia, em 2015 abriu-se a Embaixada em Angola e, dentro da reciprocidade, abriu-se também a embaixada em Nairobi. Esse relacionamento é muito importante, mas queremos elevar a outro nível. Portanto, de forma a mostrar que este relacionamento é muito importante, o Presidente de Angola, João Lourenço, é convidado pelo seu homólogo William Ruto a visitar o Quénia nestes dias, uma demonstração de quão Angola é importante para o Quénia. Na verdade, será a segunda visita de um Chefe de Estado Angolano ao Quénia, para solidificar essas relações, na medida em que olhamos para outras áreas.

ANGOP – Falou que as relações são históricas, qual é a avaliação actualmente, há acordos entre as partes nos quais se pode basear esta cooperação?

AM -  No que toca aos instrumentos de cooperação, temos alguns acordos. Falo do acordo de Concertação Política entre o Ministério da Relações Exteriores de Angola e Ministério dos Negócios Estrangeiros e Diáspora do Quénia, e o Acordo de Serviços de Transportes Aéreos  Bilaterais, que permitiu à Kenya  Airways voar para Angola.

Outro instrumento que se estabeleceu, em 2014, é a Comissão Conjunta de Cooperação, um importante acordo, porque através dele podemos discutir a nossa cooperação. Estou feliz em anunciar que, dentro deste acordo, vamos organizar o primeiro encontro desta comissão, que vai definir novas áreas de cooperação, proposta que será submetida aos dois estadistas durante a visita do Chefe de Estado angolano. Isto será a nível ministerial. O que se concordar nesta reunião será apresentado aos presidentes no dia 21. São estes os três instrumentos que temos, mas estamos a olhar para a assinatura de outros acordos durante a visita do Presidente João Lourenço.

ANGOP – Nesta redefinição da estratégia de cooperação, em que áreas os dois países podem estabelecer parcerias?

AM - A cooperação engloba vários sectores, mas há alguns que são chaves na condução das nossas relações. Na medida em que melhoramos para as nossas relações, vamos identificar áreas que tragam benefícios para ambas as partes. Uma das áreas é a agricultura. Queremos ajudar no programa de diversificação económica levado pelo Governo de Angola. A agricultura é um motor no desenvolvimento da economia. Esta área é fulcral para o desenvolvimento e melhoria das condições de vida das nossas populações e queremos que o mesmo aconteça em Angola. O sector agrícola é a “espinha dorsal” da economia queniana, empregando 70% da população rural e representando cerca de 65% das receitas de exportação, com uma quota de 35% no PIB. Temos experiência no cultivo de vários produtos de exportação, tornando o Quénia líder a nível do continente, como o chá, café, flores, cereais, entre outros. O nosso governo quer transferir o “Know-how” para impulsionar o crescimento deste sector em Angola.

Neste quadro, empresários quenianos do ramo agrícola visitaram recentemente várias províncias do país, onde constataram haver potencial suficiente para alavancar a produção agrícola, tendo, inclusive, identificado áreas de investimento nas províncias de Malange e Moxico. Eu já visitei várias províncias de Angola e vi um potencial muito alto para agricultura, e estamos a ver como trazer investidores quenianos e, porque o Quénia é uma potência a nível do continente, acreditamos que podemos transferir algum conhecimento que Angola pode beneficiar.

Outro sector é o do comércio e o investimento, que pode galvanizar e ajudar as relações entre os países. Temos de adoptar a diplomacia política para a diplomacia económica. Este é um sector muito importante e queremos construir este elo. Portanto, acreditamos que o potencial está lá e lamentamos que as relações neste sector estejam muito baixas. Esperamos que esta visita seja um catalisador para elevar a cooperação a este nível.

ANGOP – O Quénia é também uma potência africana a nível do turismo. Há contactos para cooperação nesta vertente?

AM – Há sim. Temos também a intenção de oferecer mais experiência para Angola neste sector. Nesta área, estamos a olhar em como podemos transferir a nossa perícia através do investimento, capacitação de quadros. Queremos treinar angolanos nas instalações ligadas ao turismo no Quénia. Neste momento, temos cinco angolanos bolseiros a estudar numa das escolas líderes do turismo, cujos custos são totalmente suportados pelo Governo queniano. Estamos a esperar que mais angolanos vão para treinamento e capacitação, sobretudo em matéria do turismo interno.

O turismo é a maior moeda. Apesar do choque da Covid-19, o país já está a recuperar o número de turistas que detinha antes da pandemia, que era de cerca de dois milhões de turistas por ano. A pandemia obrigou-nos a olhar mais para o turismo interno. Às vezes temos a sensação de que os turistas são só as pessoas que vêm de fora, mas na verdade o turismo interno ou local é muito importante, e queremos apelar Angola a investir no turismo interno. Outra área em que estamos muito interessados em estabelecer cooperação é a da tecnologia de informação e comunicação, em que somos um dos melhores a nível do continente. É um dos sectores em que os negócios mais prosperam, apresentando o país das mais altas taxas de acesso à internet da África Subsariana. O desenvolvimento das tecnologias 4G e 4G LTE e o crescente alargamento do uso de smartphones têm tido um impacto muito positivo no crescimento em muitos outros serviços de base digital. Por isso, acreditamos que podemos trocar ideias, especialmente da área de tecnologia de finanças, sobretudo no sistema de transferência de dinheiro por telefone, porque o Quénia desenvolveu um sistema que foi adoptado a nível global. Vimos que Angola tem vácuo neste sector e acreditamos que podemos transferir esta tecnologia para cá.

ANGOP – Avançou as vantagens que Angola pode tirar com o Quénia. No sentido inverso, que vantagens espera o vosso país?  

AM – Temos interesse na área de Petróleo e Gás e Minerais. Sabemos que Angola desenvolveu muita experiência neste sector, porquanto é um dos maiores produtores de petróleo do continente e o Quénia pode aprender com Angola. Descobrimos recentemente petróleo no nosso país, mas não temos a capacidade de Angola. Acreditamos que, com a perícia de Angola, podemos desenvolver este sector.

No nosso espírito de desenvolvimento de África, nos questionamos porque que importamos o petróleo e derivados distante, ao invés de irmos buscar em Angola.

ANGOP – Qual é o nível da circulação de pessoas entre os dois países?

AM- Ia já falar disso. Realmente, outra coisa que vamos equacionar em Nairobi é como podemos melhorar a circulação de pessoas entre os dois países, porque somos todos africanos não vemos a razão de necessitar vistos para visitar um e o outro país. O Presidente William Ruto entende que os cidadãos africanos que querem visitar o Quénia o possam fazer sem vistos  e defende que o continente deve ser aberto aos africanos e, portanto, este é um dos aspectos que se discutirá durante esta reunião da Comissão Conjunta. Queremos abertura entre os dois países sem restrições de vistos.

ANGOP – Qual é a importância desta facilitação na mobilidade?

AM - Há importância neste sentido, porque os homens de negócios precisam de conhecer ambos países, por isso esperamos que haja boas notícias neste sentido, de modo que os quenianos possam vir para Angola sem restrições. Temos empresários interessados em visitar Angola e explorar as oportunidades, pois alguns já cá estiveram e fizeram o seu estudo de mercado, como na província de Malange, onde querem investir na área da agricultura. Estão na fase de concluir a documentação para começar com o investimento, mas acreditamos que existem muitos empresários interessados em investir cá. Também estamos interessados em ver angolanos a investir no mercado queniano, pois o investimento é um caminho de dois sentidos. Os homens de negócios  precisam de parcerias. Conforme eu disse, as oportunidades estão lá. Estamos gratos pelos esforços que o Governo angolano leva a cabo para melhorar o ambiente de negócios, à medida que a situação vai melhorando esperamos que haja mais investidores interessados em Angola.

ANGOP – Um dos aspectos que facilitava esta mobilidade era a ligação directa que a Kenya Airways estabelecia entre Nairobi e Luanda, no entanto, suspensa devido à Covid-19. Há sinais das partes reatarem esta ligação aérea?

AM - Voar directo para Luanda para nós os quenianos foi o nosso orgulho, mas a pandemia atingiu a companhia aérea que teve de suspender várias rotas em 2020. Mas recomeçou algumas destas rotas e outras estão em processo, e Angola é uma das linhas que estamos a negociar com a Kenya Airways para que recomece com os voos para Angola. Mas nós também nos perguntamos por que a TAAG não voa para Nairobi, pois é igualmente uma oportunidade. Vi que recentemente a TAAG adquiriu novas aeronaves, seria benéfico para as pessoas que a TAAG voasse para Nairobi e a Kenya Airways retomasse os voos para acabar com esta lacuna. Certamente, este é um dos assuntos que estarão na agenda das discussões em Nairobi.

ANGOP – Há uma comunidade de quenianos em Angola?

AM - Temos cerca de 450 quenianos em Angola. Este número aumentou no último ano, o que representa o interesse dos quenianos em vir para com Angola. Grande parte destes quenianos estão a trabalhar em Angola no sector da indústria em Viana, outros na área das telecomunicações, há também negociantes.

Perfil

Nação africana banhada pelo Oceano Índico, o Quénia possui fronteiras com a Somália (a leste), Etiópia (ao norte), Sudão (a noroeste), Uganda (a oeste) e Tanzânia (a oeste e ao sul). A linha do Equador “corta” o país na porção central, fazendo com que uma parte pertença ao Hemisfério Setentrional e a outra, ao Hemisfério Meridional.

O Quénia apresenta belas paisagens naturais: praias, reservas naturais com grande variedade de animais (gnus, hienas, zebras, leões, elefantes, hipopótamos, etc.), savanas, o monte Quénia (com cerca de 5.199 metros de altitude) e o deserto Chalbi, que traem milhares de turistas.

Localizado na costa oriental de África, é considerado uma das principais portas de entrada na África Oriental e Central. A capital, Nairobi, é a maior cidade entre o Cairo e Joanesburgo, e o porto de Mombaça o maior e mais importante porto de águas profundas da região, respondendo às necessidades de navegação de dezenas de países.

 Com uma extensão territorial de  580.367 km², possui cerca de mais 52 milhões de habitantes distribuídos em oito províncias. ART/VM





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