Angola busca auto-suficiência na produção de sal

Produção de sal na Baía Farta
Produção de sal na Baía Farta
Frederico Herculano

Luanda – O processo de produção de sal iodado em Angola continua com níveis susceptíveis de catapultar o país para a auto-suficiência, a partir de 2022, apesar da intermitência registada nos últimos sete anos, particularmente por causa da recessão económica.

Actualmente, o mercado nacional tem capacidade estimada de 80 % de produção e colecta do produto, processo suportado, basicamente, pelos operadores inscritos na Associação dos Produtores e Transportadores de Sal de Angola (Aprosal).

Só em 2020, de acordo com dados oficiais, foram produziu pelo menos 140 mil toneladas de sal marinho, um aumento de oito por cento face ao ano de 2019.

A meta das autoridades é atingir, até ao próximo ano, 160 mil toneladas de sal, dez toneladas acima do necessário para a cobertura nacional, no que se refere ao consumo humano, e 90 abaixo do projectado para alimentar as indústrias locais.

Entretanto, segundo especialistas, este mercado, fortemente afectado pela recessão económica e, mais recentemente, pela Covid-19, precisa de uma produção de 250 toneladas para atender essas duas componentes, o que impõe novos desafios aos operadores do sector.

Apesar dos constrangimentos, os indicadores demonstram uma tendência crescente na produção de sal, embora muitas salinas estejam, actualmente, desactivadas, particularmente em Luanda.

Conforme especialistas, o aumento de oito por cento registado em 2020 pode, efectivamente, representar um sinal de que "Angola se aproxima da auto-suficiência".

Todavia, o presidente da Aprosal, Tottas Garrido, afirmou, em Março último, ao jornal Mercado, que "faltam pequenos investimentos para melhorar a capacidade de captação de água do mar, mas Angola poderá ser, a curto prazo, um grande exportador de sal".

Por essa altura, o país tem mais de 20 salinas em funcionamento, distribuídas pelas províncias de Benguela (7 unidades), Namibe (6) e outras operacionais em Luanda, Zaire, Bengo, Cuanza Sul e Cabinda, todas comprometidas com os objectivos do Executivo reflectidos no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN 2017-2022).

Para acelerar o processo, o Governo está a apoiar a indústria transformadora e salineira, com a construção de salinas em zonas de interesse regional, comércio e distribuição de pescado e sal, através do reforço do sistema de interpostos e formação profissional especializada, nos sectores das pescas e aquicultura e áreas associadas.

Isso demonstra a intenção do Executivo, por via do Ministério da Agricultura e Pescas, de cumprir as orientações do PDN, elevar a produção de sal e traçar directrizes para as unidades de produção, empacotamento, transporte e comercialização desse mineral.

Dentre as várias unidades operacionais engajadas na produção de sal em Angola destacam-se Capulo, Natércia e Filhos (Bengo), Alexandre Haus, Calombolo, Chamume, Macaca, Messada, Gengo, Rui Teixeira, Barbas, Ngola Kiluanje, Wenjy, Angosal, Bentiaba, Mucuyo, Sosal e Sal do Sol, para citar apenas estas.

Desafios e investimentos

Com o apoio da Aprosal, estes “players” têm ajudado a melhorado, ano após ano, os níveis de produção e a qualidade do produto, servindo a indústria alimentar, as empresas de produtos de limpeza, os criadores de gado e as Forças Armadas (FAA).

A pretensão da associação, de acordo com o seu presidente, é, num futuro breve, influenciar o sector petrolífero a comprar sal no mercado nacional, facto que marcará, na sua antevisão, um novo ciclo para a dinamização do sector salineiro nacional.

A título de exemplo, no âmbito de uma parceria (ainda tímida) com a indústria petrolífera, a Aprosal vendeu 140 mil toneladas de sal marinho, no valor de 250 milhões de Kwanzas, à Base do Kwanda, no Soyo, província do Zaire, numa primeira fase do fornecimento, que rendeu mais às empresas ligadas à embalagem e transporte.

A Angop apurou que, para dinamizar o sector e aumentar a produção, o Executivo elencou implantar 11 projectos, já aprovados, alguns dos quais em execução efectiva em diferentes pontos do país, onde, além do favorável clima, existe uma extensa e árida faixa costeira de 1 600 Km, temperada pela corrente fria de Benguela.

Fazem parte deste pacote, as salinas Tenda I e II e Pedom Empreendimentos, na província de Benguela; Tropicália, Salgar e Bentiaba II, no Namibe; Quicombo e Omatapalo, na província do Cuanza Sul; Salframar, no Bengo; Nzeto, no Zaire; e, por último, a salina Organizações Muabi, em Cabinda.

“Quando estas unidades entrarem em pleno funcionamento, a produção de sal no país estará acima das 300 mil toneladas/ano. A nossa visão é atingirmos esta meta até 2023”, informou fonte ministerial, salientando que Angola tem clima propício para a produção de sal, pelo que apela para novos investidores no mercado.

Contudo, sublinhou que, para aumentar a produção e melhorar a qualidade, é necessário identificar, avaliar e catalogar, a nível nacional, as áreas privilegiadas para a instalação de salinas, bem como capacitar a força de trabalho, introduzir novas tecnologias, melhorar a rede de distribuição e electrificar as áreas produtivas.

E, para maior sustentabilidade da indústria salineira, o sector está atento ao crescimento das empresas de transporte, porque consomem grandes quantidades de sal.

Por outro lado, está empenhado na recuperação de toda a capacidade instalada dos actuais produtores artesanais e na construção de salinas industriais.

Províncias mantêm tradição

Enquanto Luanda vai abrandando a sua actividade, a província de Benguela cimenta a sua posição de líder do mercado, com uma produção estimada em 123,2 mil toneladas de sal marinho, representando 88 por cento da produção nacional, influenciado pela costa favorável, quer a nível de questões climatéricas, quer em extensões de terra.

Só de Janeiro a Abril deste ano, essa província do Centro produziu 48 mil 466,16 toneladas de sal, consumidos pelo mercado nacional, indiciando vir a superar as 145.516,16 toneladas produzidas em 2020, quase a metade que o país estabeleceu como meta para o consumo interno em 2023, num total 300 mil.

Nesta localidade, a produção é garantida pelas empresas Salinas Calombolo, Chamume, Macaca, APS, Hause e Mbondo e Irmão Limitada, que formam uma força de trabalho de 586 empregados efectivos e milhares de eventuais, de acordo com o chefe do Departamento de Pescas na província, Francisco Jorge Morais.

No Cuanza Sul, apenas a salineira Rui Teixeira evidencia-se nesse processo.

Situada no município de Porto Amboím, produziu, em 2020, três mil toneladas, 975 quilogramas e 915 gramas, tendo como principais mercados os municípios da Gabela, Porto Amboim e Sumbe (Cuanza Sul), Luanda, Huambo e a província do Zaire (Soyo).

Com 60 funcionários, das quais cinco mulheres, ainda não produziu este ano, devido às  fortes chuvas que se abateram na província, de Janeiro até à presente data, embora perspective recolher três milhões e 600 mil toneladas, já nos cristalizadores.

Caso atinja as metas de produção previstas, prevê criar, no presente ano, uma área social para os trabalhadores, balneários e WCs, cozinha e refeitório, área de produção, construção de Eira e armazém para o acondicionamento do sal, assim como construir área para iodização, refinação e empacotamento de sal.

Segundo o seu responsável, de Janeiro à presente data, as vendas caíram em menos de 20 por cento, comparativamente a igual período de 2020, sobretudo por causa da pandemia e o condicionamento do trânsito automóvel inter-provincial.

Por seu turno, o Namibe atingiu, em 2020, a cifra de cinco mil toneladas de sal, produzidos pela empresa “Sal do Sol”, mais uma tonelada em relação a igual período do ano de 2019. Isso representa a maior produção da empresa nos últimos 22 anos.

Em declarações à Angop, o sócio gerente da empresa, Fernando Solinho, justificou o aumento com as medidas de proibição da importação de vários bens já produzidos no país. “Com esta medida foi possível uma produção e comercialização que superou os últimos 22 anos e permitiu manter os salários dos 115 trabalhadores”, sublinhou.

Informou que o produto é comercializado a 200 kwanzas por kg, nas províncias de Luanda, Huíla, Cunene, Cuando Cubando, Huambo, Bié, Uíge, Malange, Lundas Norte e Sul, bem como em Cabinda.

Já o Bengo conta com quatro salineiras em funcionamento, sendo duas no município do Dande (Safomar) e duas no Ambriz (Capulo e Natércia), responsáveis pela produção, em 2020, de 10 mil e 700 toneladas, contra três mil e 507 do ano anterior, explorados entre os cerca de 200 quilómetros lineares da orla marítima da província. 

Nesta circunscrição, a salineira Capulo é a maior, com capacidade para produzir 15 mil toneladas/ano. Localizada no município do Ambriz, esteve desactivada durante 25 anos, tendo retomado a actividade em 2015, com fundos próprios e financiamento do extinto programa “Angola Investe”.

A salineira desenvolve a actividade numa área de 530 hectares, dos quais apenas 180 estão em produção, mas a perspectiva é aumentar, até o final do ano, a área de produção entre 280 a 300 hectares, estimando-se este ano uma produção de quatro mil toneladas.

Em 2017, produziu 500 toneladas, em 2018 aumentou para três mil e 466 toneladas, mas reduziu para mil e 500 toneladas em 2019, devido às fortes chuvas e calemas que inundaram os canteiros de produção de sal.

A “Dixike Indústria”, com capacidade para produzir três mil e 500 toneladas de sal grosso/mês, é outra aposta do Bengo que vai entrar em funcionamento ainda este ano.

Trata-se de um projecto de direito angolano que está a ser erguido na localidade do Sarico, Panguila, município do Dande, capaz de atingir as seis mil toneladas.

O mesmo começou a ser implementado a 9 de Junho de 2020, abarcando 800 canteiros, num terreno de 22 hectares, armazéns e refinaria.

O projecto, orçado em USD três milhões, prevê gerar dois mil e 400 postos de trabalho para angolanos. E como outros, mesmo já em funcionamento, aguarda por financiamento do Programa de Apoio ao Crédito (PAC), adstrito ao de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI).

Exportação é realidade tímida

Embora os investimentos no sector e o crescente resultado da produção enunciam tempos melhores e a auto-dependência de Angola na cadeia do valor do sal, a cifra nacional (140 mil toneladas/ano) ainda não é capaz de dar resposta à necessidade geral do mercado, onde as indústrias e o gado disputam o consumo com o homem.

Isso dá azo à importação “incongruente” de um produto abundante no país, que apenas esporadicamente é exportado para pontos transnacionais, por produtores independentes, na sua maioria sedeados em Benguela – o “celeiro” de Angola nessa matéria.

Dados da Direcção Nacional de Produção e Iodização de Sal indicam que em 2019, Angola absorveu perto de 16 milhões de euros com a importação de sal, a partir de, entre outros países, Portugal, Índia, Namíbia, Paquistão e Egipto, de um total de 60 empresas autorizadas a importar esse composto químico (cloreto de sódio).

Pelo menos 61 por cento das importações foram para o sector industrial e 38% para o consumo humano e animal, sendo que os ramos que mais beneficiaram do sal importado são o petrolífero, o das bebidas e licores e o da limpeza.

A fim de inverter o quadro e dar maior autonomia ao país em reservas de sal, a Associação de Produtores de Sal alerta para a electrificação das zonas de exploração no município da Baía Farta, o que vai ajudar a reduzir os custos com o gasóleo e permitir a redução dos preços no processo de venda na origem.

“Tendo em conta os desafios, salientou presidente da Aprosal, Tottas Garrido, o sector salineiro em Angola está a reorganizar a implementação do sistema de electrificação dos maiores pólos de produção, quer no Cahmume quer no Cabo Negro, no Tômbwa, para a reforma dessa indústria no País.

Importância, história e uso corrente

O sal é, como muitos minerais, um recurso milenar, com longa história com humanos, tendo sido usado desde a antiguidade para preservar e dar sabor aos alimentos.

Aliás, reza a história, civilizações antigas eram frequentemente fundadas perto de depósitos de sal, para melhor aproveitamento do produto.

Dada a sua importância, o comércio global já foi impulsionado pela demanda de sal e, em algumas culturas, chegou a ser usado como moeda.

Hoje, continua a ocupar um lugar de destaque no comércio internacional e muitos países trabalham para extraí-lo, em rochas e em costas marítimas.

Entre outras utilizações, o sal é uma mercadoria valiosa para consumo humano, aplicações industriais e como ferramenta de degelo (fusão do gelo).

A sua extracção obedece a três grandes técnicas, designadamente a evaporação solar, a mineração de rochas e evaporação a vácuo, também já usadas em Angola.

É um dos produtos mais comuns disponíveis para os seres humanos, com milhares de aplicações (mais de 14,000), principalmente na indústria química. Essa necessidade é seguida pela demanda por degelo e uso da cozinha.

Ao exportar um valor estimado de USD 277 913 000 em sal anualmente, a Holanda lidera a lista de países exportadores a nível mundial, o que representa pouco mais de 9% da oferta global do produto. As minas de Hengelo e Delfzijl são algumas das mais antigas da região dos Países Baixos.

Enquanto isso, com o registo de 43 153 000 dólares, o Egipto aparece na 16ª posição do mundo, numa lista referente ao ano de 2015, sem menção a qualquer Estado da África Austral (SADC), PALOP ou CPLP, regiões e/ou organizações internacionais das quais Angola faz parte, mas sem cotação nos Ratings sobre o Sal.





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