Luanda - A capital angolana registou, entre 2008 e 2013, a desactivação de importantes infra-estruturas, em cujos espaços se continua a observar, há vários anos, obras paradas, em ritmo lento ou abandonadas, devido, essencialmente, a factores económicos.
Por Elias Tumba
Trata-se de empreendimentos públicos e privados, alguns dos quais construídos ainda no tempo colonial, que foram encerrados, gradualmente, pelas autoridades de Luanda, no âmbito de um plano de requalificação urbana da cidade e reorganização do comércio informal.
Em alguns desses espaços, onde funcionaram empreendimentos que impulsionavam o comércio informal e geravam muitos empregos, é notório o cenário de abandono e a falta de sinais aparentes de começo de obras e projectos sustentados.
Entre essas infra-estruturas, destacam-se os antigos mercados do Kinaxixi, do Roque Santeiro e da Estalagem, a Fábrica Imperial de Borracha (Macambira), as feiras Popular e Ngoma, cujos projectos de requalificação parecem, em alguns casos, "parados no tempo".
Na base do atraso dos trabalhos, segundo as autoridades de Luanda e alguns dos proprietários dos espaços privatizados, estão questões económicas e litígios de terreno, não sendo, desde já, possível aferir quando terminam os trabalhos.
Quem passe, hoje, por esses espaços, nota um misto de obras paradas, erguidas a meio gás ou até mesmo voltadas ao extremo abandono, que servem de esconderijo de meliantes e para prática de actividades menos recomendadas, como a prostituição.
A título de exemplo, a Feira Ngoma estagnou no tempo e não se regista, há mais de 10 anos, qualquer intervenção dos proprietários para a valorização do local, situado no bairro Combatentes, Avenida Comandante Valódia, distrito do Sambizanga.
Aquele espaço privado, que era frequentado por individualidades de vários estratos sociais, como políticos, empresários, militares e músicos, foi desactivado em 2009, por alegado registo de práticas imorais e ilícitas.
Por sua vez, o antigo Roque Santeiro, considerado o maior espaço comercial a céu aberto de Angola e um dos maiores de África, até à década de 90, também não escapou do "martelo demolidor", que desembocou na sua desactivação, em Setembro de 2010.
A desactivação do "gigante" mercado, que se situava no Sambizanga e servia de fonte de sobrevivência de milhares de famílias, enquadrou-se no programa de urbanização do bairro Boavista, cujas obras se encontram paralisadas até ao momento.
Outro activo histórico que desapareceu com o tempo foi o mercado do Kinaxixi, destruído em 2008, para dar lugar a um centro comercial, ainda inacabado, apesar do estado avançado das obras, iniciadas há mais de 10 anos.
Com vista a retratar a realidade desses e outros espaços simbólicos de Luanda, a Angop produziu uma reportagem especial sobre o que está a ser feito naqueles terrenos, em concreto, e o que se espera ganhar depois da conclusão das obras.
No âmbito desse trabalho, os nossos repórteres ouviram empresários que ganharam os espaços por via de concurso directo, analistas de mercado e outros actores, que debitam subsídios sobre o impacto da desactivação e os ganhos da requalificação.
Através desta série de reportagens, o leitor tomará contacto com informações actuais sobre o estado técnico dos espaços e o grau de execução de cada uma das obras já em curso, além dos constrangimentos que condicionam, até agora, a sua conclusão.
Com esse material jornalístico, pretende-se, essencialmente, elucidar melhor a sociedade sobre os ganhos previstos com as obras de requalificação nesses espaços, que já faziam parte da história e tradição de Luanda, alguns deles cedidos a privados.
Afinal, quais são os projectos elaborados pelas autoridades e pelos novos proprietários de alguns desses espaços, e como se pensa requalificar os mesmos, sem pôr fim, de todo, à história e tradição por eles trazidas durante anos?
Estas e outras respostas, o internauta encontra nesse especial "Espaços Desactivados em Luanda", produzido pelos nossos repórteres, que durante seis meses acompanharam, de perto, o andamento dos trabalhos de requalificação.