Perdidos no mundo das drogas

Amostra de drogas sintéticas (ilustração)
Amostra de drogas sintéticas (ilustração)
Divulgação

Luanda - A taxa de incidência de cidadãos envolvidos com drogas continua alta em Angola, onde se multiplicam, todos os anos, relatos de pacientes considerados viciados.

Por Francisca Augusto

Um pouco por todo o país, aumentam os casos de famílias que lutam para salvar um membro do mundo do álcool ou das drogas pesadas, como a cocaína, heroína e liamba.

Esta realidade é facilmente constatada, por exemplo, no Centro de Recuperação de Toxicodependentes de Caxito, província do Bengo, onde 60 pacientes lutam dia e noite para vencerem a batalha contra as drogas.

O mesmo cenário ocorre na Organização Não Governamental Remar, município de Viana (Luanda), que trata de 40 doentes, e no centro da Associação Cultural de Jovens Cristo no Coração, com outros 120.

O consumo excessivo de álcool e drogas, principalmente por adolescentes e jovens, é uma constante, situação que preocupa as famílias e as autoridades.

Esta prática está a "arruinar", literalmente,  milhares de famílias angolanas, de todos os grupos sociais, até os mais instruídos.

É comum, nos dias de hoje, particularmente nas ruas de Luanda, observar adolescentes, jovens e crianças menores mergulhados, especificamente, no vício do álcool e da liamba, comprometendo o seu futuro.

Segundo os consumidores, são vários os motivos que os levam a esta prática, entre os quais a busca de prazer e o alívio de dores.

Reconhecem que o preço a pagar pelo "investimento" nas drogas é elevado, devido a sua dependência a estes produtos e as eventuais doenças físicas e mentais, muitas vezes de tratamento difícil.

É o caso de Isabel Dala Lopes, adolescente de 13 anos, que padece deste vício e já  buscou ajuda especializada para se libertar do complexo mundo das drogas.

De olhos claros e estatura média, a adolescente conta que começou a fazer uso de bebidas alcoólicas e de drogas pesadas por influência de uma amiga.

Natural de Luanda, filha única e órfã de mãe, Isabel foi abandonada pelo pai, passando a viver com o avô, de 64 anos, reformado, que nunca poupou esforços para cuidar do bem-estar da neta.

A adolescente diz que já está em fase de recuperação e olha para o futuro com a esperança de um dia tornar-se médica, a fim de ajudar crianças na mesma situação.

Diferente de centenas de menores que deambulam pelas ruas do país, exibindo os mais variados tipos de drogas, como álcool e liamba, Isabel teve ajuda na "hora certa".

A mesma ganhou, recentemente, um lar, depois de ter sido acolhida, como filha, pela deputada angolana Amália Alexandre.

Sensibilizada com a vida de Isabel, aquela parlamentar mostrou-se feliz por ganhar mais uma filha e dar amor a uma menina que tem pela frente um futuro promissor.

Para Marcos Dala, avô de Isabel, trata-se de um passo importante para a recuperação total da neta, depois de dias de angústia.

Com ar cansado, não só pelo peso da idade mas também pelo trabalho em prol do bem-estar da sua neta, Marcos Dala manifesta-se feliz por a adolescente ter conseguido a oportunidade de vida melhor.

"Para mim é o melhor presente que recebo. Foi muito duro passar dias a observar a Isabel naquele estado", lamentou o ancião, que não conseguiu conter as lágrimas.

Entretanto, além da pequena Isabel Dala Lopes, muitos outros adolescentes lutam para fugir do mundo das drogas.

Entre estes está André Anastácio, mais conhecido por "Gasolina", que vive nas ruas de Luanda desde os 13 anos.

Hoje, com 17 anos, tenta, pela segunda vez, buscar a recuperação no centro da Remar, por má conduta e o uso de drogas, depois de percorrer outros lugares sem sucesso.

"Estou numa boa caminhada e quero concluir. A família, que por pouco perdi, está contente. Quando uma pessoa se droga fica no 'banzelo', uma forma de relaxar, levando-a, muitas vezes, a um mundo cheio de alucinações, irreal", conta.

Segundo o adolescente, quando drogados sentem que estão num outro mundo. "Quem te provocar é luta", desabafa.

Na mesma condição de André Anastácio, a ANGOP encontrou Paulo Filipe, conhecido por "Mosta", de 34 anos, que agradece o trabalho de recuperação do centro Remar.

Segundo o paciente, hoje é novo homem, sublinhando que o mundo da delinquência e das drogas só leva à destruição.

O jovem, que se encontra há um ano no centro, conta que no princípio teve dificuldades de adaptação ao novo ambiente, porque sentia a necessidade de consumir álcool e droga "libanga".

"Antes, consumia drogas e álcool e estava envolvido na prostituição. A minha mãe apercebeu-se da existência do centro, por meio de uma amiga que cá esteve e se recuperou", depõe Paulo Filipe.

"Comecei a frequentar a instituição durante um ano e de seguida fui chamado para começar a ajudar os outros que estavam a entrar", explica, afirmando que agora já pode receber visitas e sente-se bem.

Mosta sonha em voltar a ser mecânico, considerando ser a profissão que aprendeu para recuperar a família.

Vigilância redobrada

A propósito desse problema, o psicólogo Armindo João justifica que os jovens tímidos e com dificuldades de se socializar tendem a usar drogas ou ingerir bebidas alcoólicas para se tornarem mais sociáveis.

"Por ser um período marcado por diversas transformações e mudanças internas e externas, a adolescência acaba por gerar sentimento de baixa autoconfiança", refere.

De acordo com o especialista, pelo facto de ainda não se conhecer totalmente, o adolescente torna-se mais vulnerável a situações de risco, como as drogas.

Para conseguir aprovação social, na óptica do médico, muitos cidadãos acabam por se sujeitar ao consumo destas substâncias.

Aconselha os jovens a não enveredarem por este caminho, porque destrói a vida e traz outras consequências nefastas à saúde do indivíduo e da sociedade.

Apela, por outro lado, aos pais e encarregados de educação para prestarem mais atenção aos seus filhos, afirmando que o adolescente envolvido com drogas tende a mudar o seu comportamento.

"Se antes costumava estar perto de familiares e amigos, possivelmente ficará mais isolado e evitará o contacto social. Actividades rotineiras também são deixadas de lado, uma vez que já não trazem mais prazer", adverte.

Em concreto, as drogas podem causar, entre várias consequências, a perda de habilidades e de apetite, descontrolo emocional, doenças cardiovasculares e respiratórias, problemas no fígado e no cérebro, assim como transtornos psiquiátricos (depressão e ansiedade).

Em muitos casos, resultam em morte.

Entender os riscos e as consequências das drogas sobre a saúde mental e física é um dos aspectos mais importantes para conter os efeitos negativos desse problema.

Além dos danos ao organismo do usuário, o uso de substâncias ilícitas gera impactos sociais e económicos em larga escala.

Se uma única vez pode não provocar dependência imediata, a verdade é que fica a tentação. O melhor é não experimentar algo que não acrescenta valor à vida.



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