Genebra – As obras da artista angolana, Ana Silva, estiveram expostas, desde segunda-feira, (11) até esta sexta-feira (15), na Mabe Gallery localizada na Grand Rue 25, de Genebra, Suíça, onde um misto de memórias foi dado a ver num único espaço partilhado com o suíço-uruguaio, Daniel Orson Ybarra, subordinada ao tema “interdependência poética”.
De acordo com a curadora da exposição, Charlotte Diez-Bento, Ana Silva criou as obras expostas durante o mês de Junho, em sistema de residência artistica em Genebra, e foi durante essa temporada que conheceu o homólogo Daniel Ybarra, um explorador da luz dos processos orgânicos que incorpora nos seus trabalhos.
“Há nos dois artistas um processo de construção polissêmica por fragmento e desvelamentos sucessivos, revelando uma poesia de interdependência inspirada nas plantas em Ybarra e na filiação em Ana Silva”, refere a curadora.
Por outro lado, esclarece que, “a investigação formal difere, mas o tema encontra eco numa abordagem poética que se refere aos nossos laços profundos num universo holístico onde todos os seres vivos e a natureza estão ligados por interdependências visíveis numa memória comum”.
Destaca a criatividade e originalidade do trabalho de Ana Silva, referindo que ela exprime-se na pluralidade dos materiais que recolhe durante os seus passeios pelos mercados de Luanda, desvirtuando o uso primário dos sacos de ráfia ou de outros objectos abandonados que ela volta a dar vida em trabalho de memória.
Ana Silva, que vive entre Portugal e Angola não presenciou a abertura da exposição porque estava em viagem a Luanda e deixou apenas as suas impressões digitais nos materiais como o tecido, a madeira ou sacos plásticos, entre outros, que adopta e os utiliza aplicando no percurso da criação diversos métodos como a colagem, costura ou a oxidação do metal.
Perfil da artista Ana Silva
Ana Silva nasceu em 1979 em Calulo, Angola. Actualmente vive e trabalha em Lisboa, Portugal.
De acordo com a curadora Charlotte Diez-Bento, em criança, Ana Silva manifestou uma grande apetência para a criação, enquanto isolada a vinte quilómetros da primeira aldeia, na quinta onde o pai cultivava café, utilizava o material que a rodeava para construir aquilo a que chama "coisas estranhas".
“Distorcia objectos, o que deixou o pai preocupado e decidiu levá-la a um psicólogo. Mais tarde, estudou na Escola Superior ArCo, em Lisboa, e em Paris, revelando a sua sensibilidade artística.
A criatividade de Ana Silva exprime-se na pluralidade dos seus materiais. Durante os seus passeios pelos mercados de Luanda, desvirtua o uso primário dos sacos de ráfia ou de outros objectos abandonados que ela volta a dar vida em trabalho de memória.
Por outro lado, refere que a experiência de viver em Angola e de ter acesso limitado a materiais durante a guerra civil moldou a sua forma de trabalhar com o seu ambiente imediato. Das suas várias técnicas, retém a costura, combinando-a com rendas, tecidos africanos ou redes. As formas da artista são subtilmente femininas.
Os seus bordados e retalhos de materiais contam a história pessoal de mestiçagens e o papel da mulher na filiação e transmissão de memórias familiares.
Ana Silva também escreve poemas, como fragmentos da sua alma que fazem mergulhar os leitores no seu universo íntimo.
Até hoje, as obras de Ana Silva são adquiridas por prestigiadas colecções institucionais e privadas, incluindo a Colecção Louis Vuitton, a Colecção Gandur em Genebra, entre outras.
O Palais de Tokyo, em Paris, encomendou recentemente uma instalação. Em 2022, Ana Silva participou na exposição oficial da prestigiada Bienal de Arte Africana Contemporânea de Dakar e o seu trabalho foi um destaque na edição da Feira de Arte Africana Contemporânea 1:54, em Marraquexe, em fevereiro de 2023. ART