Lubango - Personalidades da cultura huilana admitiram, na sexta-feira, no Lubango, que a vasta riqueza de manifestações culturais locais precisa de mais apoio institucional para ser estudada e documentada, sob o risco de se perder.
Ao dissertar na primeira “Roda de Conversas” sobre a cultura do sul de Angola, promovida pela Academia dos Autores da Huíla (ASA), com o tema "Ondyelwa", o investigador Jorge Arrimar afirmou que existe muitas coisas que passam despercebidas, povos que ainda têm uma vida tradicional, mas que o mundo não conhece e pode desaparecer.
Disse ser importante estudar esses aspectos, guardar em livros ou em documentários para que as pessoas percebam, mais tarde, como os seus antepassados viviam, desde as suas experiências, rituais e cerimónias feitas, pois há uma riqueza "enorme" que está a desaparecer sem vestígios, daí a importância de documentá-la.
Natural do município da Chibia, na Huíla, o também escritor exemplificou o Ondyelwa, "A festa da chuva", um ritual importante dos Nyaneka que se fazia a partir de três aldeias das comunas da Huíla (município do Lubango), Jau (Chibia) e no município dos Gambos, mas só uma delas se mantém.
"Só ficou o Jau e, mesmo assim, nesta já se nota um abrandamento do costume, o próprio cerimonial já sofreu modificações e há modernização. Se não existir apoio, estudos e se as pessoas não sentirem que estes seus cerimoniais são vistos, ouvidos, cuidados e queridos pelas próprias instituições vamos perdê-los", sustentou.
Por sua vez, o cineasta Óscar Gil afirmou que não é possível divulgar a cultura local sem apoios institucionais, alertando que existe, na província, muitas manifestações culturais que com a globalização estão a desaparecer aos poucos.
Manifestou interesse em ajudar, através da realização de documentários, preservação e participação na recolha dessas manifestações culturais, para se ter um acervo “forte” para que as gerações vindouras percebam de onde vieram.
Defendeu a concretização prática da Lei do Mecenato para que os empresários invistam na cultura, com benefícios fiscais, a fim de incentivá-los a apostar na cultura.
Apelou às autoridades governamentais da província e empresários a darem maior dignidade à embala do Jau e ao seu rei, criando no local um polo turístico cultural, para que todos os anos possa se assistir a grande festa da Ondyelwa.
A vice-governadora para o sector Político, Social e Económico da Huíla, Maria João Chipalavela, reconheceu que a província tem um potencial cultural rico, afirmando que o governo está a envidar esforços para divulgar a música, a comida, a cultura, para tê-la com um elemento de coesão para a construção da nação.
Disse existir na legislação actual uma área de benefícios ficais de que os empresários podem usufruir, e que é preciso apenas ter um plano para partilhar com as empresas e essas incorporar a dimensão do apoio.
A Ondyelwa é um ritual que só acontece na Huíla. Inspirou a nova longa-metragem documental que está a ser produzida por uma equipa de profissionais do cinema liderada pelo cineasta Óscar Gil.
O documentário está a ser filmado desde 20 de Junho do ano em curso, data em que iniciou o ritual, que termina a 20 de Agosto próximo. A equipa de trabalho prevê colocar o filme nas plataformas digitais ainda este ano.
