Dundo - A primeira edição do “Festival de música e dança folclórica”, marcado para sábado, 25, representa um ponto de partida para o resgate das danças tradicionais, em risco de extinção, que para o povo Tchokwe são veículos culturais criados para trazer equilíbrio, cura, felicidade e alegria à comunidade, ao mesmo tempo que os liga aos poderes sobrenaturais.
Este será o primeiro evento do género nesta dimensão, na região leste, reunindo 108 artistas da nova e velha geração das três províncias do leste do país (Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico), que se exibirão ao ritmo dos instrumentos tradicionais (Ngoma e Tchinguvo) e danças como tchianda, Mitingui, txissela, kandowa, entre outras.
O festival a ser prestigiado pelo ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Filipe Nzau, será igualmente, um espaço de demonstração dos principais rituais tchoke em risco de extinção, como o Mukanda (circuncisão) e Kafundeji (iniciação feminina e/ou fase de puberdade).
Na cultura Cokwe, esta arte (dança) é o espelho da vida comunitária e do além, pois permite o diálogo com os espíritos sobre sentimentos e reflexões, bem como joga papel crucial na protecção dos descendentes desta etnia, quando abordada de forma apropriada, através de máscaras e pintura.
Ngoma, Ndjimba, Txissaji, Txikuvu (tambores/batuque), Puita e Calialia são os principais instrumentos musicais utilizados pelos grupos tradicionais de dança, usados para as cerimónias religiosas, fúnebres, recreativas e comemorativas.
Os tocadores destes instrumentos, que são aquecidos periodicamente ao fogo para retesar a pele, imprimem um ritmo frenético que resulta num som contagiante, arrastando os bailarinos, sobretudo as mulheres, para os maiores excessos de sensualidade, desdobrando em formas corporais provocantes de movimentos circulares.
Os Akixi/Muquixi (palhaços), também indispensáveis, são as figuras mais importantes para qualquer cerimónia ritual ou manifestação cultural.
Estas manifestações culturais, com recurso aos instrumentos tradicionais, há anos que não se realizam na região, o que contribuiu para o desaparecimento de alguns grupos tradicionais.
Por forma a evitar uma possível extinção total de alguns instrumentos tradicionais, como o Tchinguvo, os governos das três províncias do leste de Angola, em parceria com a Sociedade Mineira de Catoca, implementaram o “Festival da música e dança folclórica”, que terá periodicidade anual.
O festival, com financiamento da Sociedade Mineira de Catoca, terá a coordenação artística do músico Gabriel Tchiema e visa a divulgação, preservação e valorização da cultura, servindo igualmente de incentivo e promoção do trabalho dos fazedores de arte da região.
Visa promover o diálogo cultural entre diferentes gerações, com o objectivo de se encontrar soluções para o resgate de alguns hábitos e costumes do povo Tchokwe, em risco de extinção, bem como atrair artistas de outros pontos do país e da África Subsaariana, principalmente dos países fronteiriços.
Para esta primeira edição, estão confirmados os grupos Komokenu, Hatchilimwene, Habiude Mãe Grande (Moxico), TchakoTchyetu, Komokenu e Makopo (Lunda Sul), Akishi Tchyanda, Sehawesseke e Tchako Tchyetu tcha Utchokwe (Lunda Norte).