Homenagem a “Mestre Kituxi” marcada pela sua ausência

     Cultura           
  • Luanda     Domingo, 23 Julho De 2023    09h52  
Fundaçao Arte e Cultura homenageia Mestre Kituxi
Fundaçao Arte e Cultura homenageia Mestre Kituxi
Francisco Miudo-ANGOP

Luanda – O acto de homenagem, pelos seus feitos, ao músico e compositor “Mestre Kituxi”, realizado na noite de sábado, em Luanda, ficou marcado pela sua ausência, a última hora, por razões de saúde.

Apesar do anúncio da ausência do músico em palco apanhar de surpresa os presentes (fãs e contemporâneos), que estavam ávidos de artista, o programa da actividade foi cumprido na íntegra, como se o homenageado estivesse presente.

Entre os momentos que marcaram as homenagens, a nota de realce recaiu sobre as mais de 50 crianças e alunas da Fundação Arte e Cultura (FAC), que interpretaram as músicas de Kituxi na língua nacional Kimbundo, tocaram instrumentos musicais, dançaram, exibiram peça teatral e declamaram poesias, que retratam a vida e obra do músico.

Em relação à música e dança, as crianças subiram no palco para interpretar os títulos “Santa Maria”, “Ongo” e “Kyamukambe”, que ao som da guitarra, dikanza, do piano e do batuque, com coreografias típicas do Semba, levantaram aplausos de centenas de pessoas que lotaram o recinto da homenagem.

Para apimentar o “prato quente” à dimensão de uma noite em tempo de cacimbo, a homenagem ficou também marcada com actuação do grupo musical “Nguami Maka”, que interpretou os títulos “Manico” e “Minga Kabetula” de Mestre Kituxi, assim como exibiu outras músicas do seu repertório.   

Num clima de demonstração e valorização da cultura angolana, quem também não hesitou em subir ao palco foi o convidado especial da gala de homenagem, o músico Vlademiro Gonga, que foi buscar no repertório de Kituxi o título famoso “Nguitambulé”, levando o público à vibração.

Nesse ambiente, muitas das pessoas da plateia foram obrigadas a levantar e afastar as cadeiras/bancos para participar da festa com um pé de dança e acompanhar a coreografia do palco, ou seja, enquanto uns vibravam em pé, os mais tímidos dançavam sentados, com o gingado do corpo.

Para além da música e dança, que serviu para viajar no tempo e recordar o passado de muitos “kotas”, as crianças da FAC também ofereceram ao músico um quadro com o seu retrato e uma cabaça feito com material reciclado, demonstrando a capacidade cultural e a veia artística dos mais pequenos.

Após várias manifestações de reconhecimento dos feitos de Kituxi, a cerimónia culminou com a subida ao palco dos grupos Nguami Maka, alunos da FAC e do convidado especial, que em uníssono cantaram a música Nguitambolé, demonstrando a essência do quanto vale a cultura angolana, numa miscelânea entre a actual e antiga geração.

No final do evento, o músico Dionísio Rocha, em declarações à ANGOP, enalteceu a iniciativa da organização e considerou o momento como um acto à dimensão de Kituxi.

“Aprendi muita coisa com Kituxi, pois tenho no meu repertório músicas que são da autoria deste Mestre, por isso, me sinto também ovacionado com a homenagem  feita hoje”, revelou.

Por outro lado, o músico Raul Domingas, um dos sobreviventes do grupo Kituxi, reconheceu o acto como um tributo que reconhece, particularmente, o pioneiro do Semba angolano.

Para Jorge Mulumba, vocalista principal do Nguami Maka, o Mestre Kituxi é um “pai ensinador e exemplo a seguir” para formação cultural das novas gerações, tendo apelado o surgimento de mais instituições semelhantes à Fundação Arte e Cultura, para o resgate dos valores da cultura nacional.

Já o director para área social da Fundação Arte e Cultural, Xavier Narciso, afirmou que o evento teve como objectivo reconhecer o valor da música na transmissão de hábitos e costumes do povo angolano, facto que permite trazer o passado ao pressente para se preservar o futuro histórico-cultural do país.

A homenagem promovida pela Fundação Arte e Cultura surge um mês depois de “Kituxi” ser, igualmente, distinguido pela instituição “Cristo Platina”, em Junho último, por ocasião dos seus 83 anos de idade.

Perfil de Mestre Kituxi

Miguel Francisco dos Santos Rodolfo "Mestre" nasceu em Luanda, no bairro Marçal, a 4 de Junho 1940, é um exímio tocador do hungo, quissange e ngoma, instrumentos musicais que dominam o Semba.

O início da sua carreira artística dá-se em 1957, quando faz a sua entrada no agrupamento associativo e cultural "Feitiço Negro”. Em 1962, integrou o "Fogo Negro”, enquanto em 1973 ingressou para a maior agremiação sociocultural de todos os tempos, o "Ngongo”.

O seu maior feito aconteceu em 1980, quando fundou o agrupamento musical com o qual viria a marcar a história da música angolana, Kituxi e Seus Acompanhantes, fundado a 13 de Maio de 1980.

O grupo é o mais internacional de Angola, com actuações na Hungria, Zimbabwe, Suécia, Alemanha, Rússia, Jugoslávia, Noruega, Brasil, Bulgária e Portugal.

Fizeram parte do agrupamento Chico Açucareiro, Inó Gonçalves, “Antóninho Parte os Cornos”, Adãozinho, Manuel Baptista "Manuelito”, Zé Fininho, Gregório Mulato, Manuel Constantino e Nick.

No seu reportório apresentam canções como "Mu Ilumba”, "Dingongenu dia Mona”, "Ngitabulé”, "NzaMundelé”, "Santa Maria”, "Amba”, "Nzala” e outras que constam nos discos "Nguitambulé” (1984), "Dingongenu” (2001), "Kufikissa” (2009) e "Kené Kimoxi” (2016).

Actualmente, o grupo é liderado por Jorge Mulumba, sobrinho e sucessor de “Kituxi”, afastado dos palcos por questões de saúde.

As composições do grupo têm sido interpretadas por outros cantores: "Ngitabulé” interpretada pelo Conjunto os Merengues e a Banda Maravilha, "Ngido dia Henda”, na voz de Eddy Tussa, "Mano Ngiami” interpretação de Dina Santos, "Maniku” por Paulo Flores, "Nza Mundelé” por Yuri da Cunha, "Rosa Rosé” interpretada pelos Kiezos, "Dizuminu” e "Soba” interpretada por Dionísio Rocha, no Conjunto os Negoleiro do Ritmo, "Santa Maria” interpretada por Paulo Flores e Naná Vasconcelos, percussionista. QCB/ART

 





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