Lubango - Um livro intitulado “Serpentes venenosas de Angola - Guia de identificação e primeiros socorros” foi lançado hoje, sexta-feira, na cidade do Lubango para a comunidade académica huilana.
A obra dos investigadores Luís Miguel Pires Ceríaco e de Mariana Pimentel Marques é o primeiro guia de campo inteiramente dedicado às serpentes venenosas de Angola, básico para qualquer amante da natureza e para quem vive e trabalha nas zonas mais remotas do país.
O guia apresenta fichas detalhadas e ilustradas que permitem identificar todas as espécies de serpentes venenosas que ocorrem em Angola, registo acompanhado por um mapa de distribuição, recomendações e primeiros socorros para mordidas e acidentes envolvendo estes animais.
Em Angola, um dos países mais biodiversos do continente africano são conhecidas 140 espécies de serpentes, das quais 34 possuem venenos potencialmente nefastos para o ser humano.
O livro editado em Dezembro de 2021, pela Arte e Ciência, possui 216 páginas e só agora é lançado, devido às restrições da pandemia da covid-19 que impediu as viagens dos autores para o país angolano.
Ao falar da obra, o co-autor Luís Ceríaco, afirmou que a ideia do livro surgiu após vários anos de trabalho com os referidos animais em Angola e reconheceram a necessidade de existir a informação na língua portuguesa actualizada e que fosse de utilidade para as populações.
Declarou tratar-se de um estudo iniciado há 10 anos, numa parceria com o Ministério do Ambiente de Angola, com objectivo de fazer um levantamento da fauna, anfíbios e répteis do país e neste caso, providenciar uma lista mais completa possível das espécies que ocorrem no seu território.
“Na altura quando fizemos o trabalho, faziam sempre as perguntas onde estão as serpentes venenosas, espécies existentes, sua perigosidade e onde estão, como investigadores a missão social era transformar isso numa linguagem mais acessível para que todo o público que lida com esses animais pudesse aceder a informação", disse.
Muitas dessas mordeduras, segundo a fonte, acontecem nos campos fora dos centros populacionais e muitas vezes a comunidade recorre a medicina tradicional, não chegando ao hospital, o que dá uma estatística ineficiente neste aspecto.
Detalhou que como para a OMS, a picada de cobra venenosa é uma doença tropical negligenciada que deve ter a máxima atenção por parte das autoridades de saúde era importante saber a dimensão do problema.
"Desde fazer levantamentos a nível de todas as províncias para saber quantas pessoas são mordidas e quando, em que condições, o que fazem para termos pelo menos uma noção real do problema", continuou.
Salientou que têm a previsão de chegar até o fim do ano em Luanda e depois com o apoio de alguns parceiros fazer a apresentação em outras províncias do país, desde as autoridades e instituições de saúde para passar o conhecimento.
Fez saber que o livro ainda não está a venda em Angola e que tiveram oportunidade poderá fazer aquisição através de lojas on-line, mas a disponibilidade nas livrarias está para os próximos meses.
Académicos destacam utilidade da obra para pesquisas nas instituições
A decana da Faculdade de Medicina da Universidade Mandume ya Ndemufayo (UMN), Ana Gerardo, afirmou que a obra constitui um guia prático para os estudantes e investigadores que fazem actividades de campo constantes para poderem actuar na eventualidade de acontecer algum acidente com o animal.
Referiu ser uma utilidade que só é sentida se tiverem a dimensão de um trabalho em parceria com a comunidade local, as instituições de saúde e ter o levantamento dos potenciais soros anti-veneno existentes nas unidades de saúde para ter a noção para onde evacuar o paciente.
Já o presidente do ISCED-Huíla, Hélder Bahu, destacou ser uma obra que ajuda naquilo que é a saúde pública, a disseminar muitas práticas locais que foram passadas por familiares e são negativas para lidar com um veneno de cobra.
Referiu que poderá ajudar a discorrer sobre as questões metodológicas a nível de estudos das serpentes, para se ter uma noção mais ampla da diversidade das serpentes, suas características morfológicas e toda a cadeia que circunda em torno desses animais, nos cursos de licenciatura de Ensino da Biologia e mestrado em Ecologia.
Vice-reitor para os Assuntos Científicos e Pós-graduação da UMN, Francisco Maiato Pedro Gonçalves, afirmou ser uma obra que contribui muito para a ciência, principalmente nos estudantes da área de Biologia e Ecologia, porque trás uma contribuição em termos de número e ocorrências a nível do país.
Luís Ceríaco é curador-chefe do Museu de Historia Natural e da Ciência da Universidde do Porto. Nos últimos 10 anos tem-se dedicado ao estudo dos anfíbios e répteis africanos. Foi recentemente distinguido com uma bolsa de explorador da National Geografiphic.
Já Mariana Marques é autora do primeiro atlas de anfibios e répteis de Angola, publicado em 2018 e dedica-se ao estudo da diversidade de anfíbios e répteis africanos e à gestão de coleccões de história natural. Já particupou em mais de 10 expedições científicas em Angola e São Tomé e Príncipe.