Huambo – A velha geração da província do Huambo lamentou, esta terça-feira, a fraca participação popular nos desfiles do Carnaval, enquanto maior manifestação cultural de Angola, comparativamente as décadas de 1970, 1980 e 1990.
Ouvidos pela ANGOP, por ocasião do Carnaval 2023, lembram que, entre 1970 e 1990, a mobilização para o Entrudo era feita, tanto nas aldeias, como nas cidades, ou seja, da base ao topo, com a participação de todos e sem excepção na festa de rua ou popular, como era designado o Carnaval naquela altura.
O historiador João Baptista Tombo, de 84 anos de idade, disse que o Entrudo juntava, à época, camponeses, operários e intelectuais, pobres e ricos, para dançar e cantar nas ruas, com a exibição do que de melhor tinham em termos de indumentária e canções com termas que versavam sobre o patriotismo e afirmação da identidade cultural.
Naquela altura, disse, as pessoas eram mobilizadas sem qualquer desprimor, sejam elas das aldeias ou das cidades, com a criação de todas as condições logísticas possíveis, para a participação na maior manifestação cultural do povo angolano, designado de Carnaval popular.
Apontou o primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, como o principal mobilizador da população para a participação no Entrudo, sobretudo, depois da proclamação da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975.
"Vamos preparar o Carnaval não da forma como os tugas (colonizador português) organizavam, mas sim o nosso Carnaval de rua, livre e popular", citou o historiador, ao lembrar do Fundador da Nação angolana, António Agostinho Neto.
João Baptista Tomba recorda, igualmente, o som do batuque, as danças de lamentações e outros ritmos que se faziam sentir em todos os cantos das aldeias de cidades, facto que não acontece nos dias de hoje.
Por sua vez, o Rei do Huambo, Artur Moço, disse que, antes da Independência, a 11 de Novembro de 1975, o Carnaval era agressivo, com actos de violência aos nacionais nas ruas e em casa, praticados pelo colonialismo português.
Passada esta fase de turbulência, disse, o Fundador da Nação angolana, António Agostinho Neto, tomou a iniciativa de resgatar a cultura nacional, com a realização do Carnaval, apelando para a participação efusiva da população e da figura do Otchingandji, símbolo do poder local, para além do batuque e da exibição de danças tradicionais.
Ao comparar o Carnaval de ontem com o de hoje, Rei Artur Moço, de 64 anos de idade, disse que o Entrudo está cada vez mais actualizado e contextualizado com a realidade, com inovações culturais nos hinos e nas indumentárias dos foliões.
O ancião Clemente Epalanga, de 82 anos, encorajou as autoridades governamentais a esforçarem-se na mobilização da população, para participar activamente no Entrudo, tanto de forma individual, como colectiva, tal como no passado, para manifestar, através da dança e das indumentárias, a essencial da identidade cultural angolana.
Pediu a recuperação das danças e hinos carnavalescos do passado e não a imitação do Carnaval do Ocidente, que representam outras culturas, com trajes que em nada representam a realidade cultural angolana.
O desfile do Carnaval do Huambo prevê contar, este ano, 44 grupos, subdivididos em 13 de adultos, 12 infantis, igual número de dança tradicional, para além de seis blocos de animação e um convidado, proveniente da província do Zaire.
Com palco na avenida Alioune Blond Beye, no bairro Académico, no interior da cidade do Huambo, a fase provincial do Entrudo acontece, entre 18 (infantil) e 20 (adultos), sob o lema “Com o Carnaval massifiquemos e fortaleçamos a nossa cultura”.
Dos 44 grupos, 37 vão ser seleccionados a partir dos desfiles municipais, previstos para 11 e 12 do corrente mês.