Berlim - A Alemanha despede-se neste sábado da energia nuclear, com o encerramento dos seus três últimos reactores, numa decisão marcada até ao último momento por um intenso e aceso debate, ainda mais polarizado pela recente crise energética.
O fim da operação dos três últimos reatores ainda em funcionamento - Isar 2, Neckarwesthiem 2 e Emsland - estava inicialmente previsto para 31 de Dezembro de 2022, mas o executivo presidido pelo social-democrata Olaf Scholz atrasou a sua concretização em três meses após os testes de 'stress' a que foi submetido o sistema eléctrico ter revelado vulnerabilidades, pouco antes do inverno.
Devido a posição, as organizações industriais alemãs alertaram sobre as possíveis consequências para um sector penalizado pelo elevado custo da electricidade, enquanto a oposição democrata-cristã, assim como os parceiros liberais do Governo, propuseram várias fórmulas para adiar a desconexão dos reactores.
Por sua vez, cerca de duas dezenas de cientistas, entre os quais dois prémios Nobel, apelaram, na sexta-feira, à manutenção das três últimas centrais em funcionamento para atingir os objectivos climáticos, dado o aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) provocado pelo maior consumo de carvão no ano passado, enquanto uma sondagem encomendada pela televisão pública ARD revelou que 59 por cento dos alemães rejeitam, actualmente, o abandono da energia nuclear.
A posição da Alemanha em abandonar a energia nuclear se deve a catástrofe de Fukushima (japão) em 2011, que influenciou o então Governo da conservadora Ângela Merkel levar o assunto ao parlamento, onde obteve o apoio de 513 votos a favor e 79 contra, mas a incerteza causada pela guerra na Ucrânia reacendeu o debate sobre uma forma de energia que, até hoje, gerava 05 por cento da electricidade consumida no país.