Nova Iorque - O humorista Bill Cosby deixou a prisão nesta quarta-feira pouco depois de um tribunal americano anular a sua condenação por drogar e agredir sexualmente uma mulher há 15 anos.
O actor, de 83 anos, deixou a prisão estadual SCI Phoenix, localizada 56 km a noroeste da Filadélfia, pouco antes das 14h30 locais, informou à AFP um funcionário da penitenciária.
A sua libertação ocorre horas depois de a Suprema Corte da Pensilvânia determinar que Cosby teve negado um julgamento justo em 2018, quando foi condenado por agredir Andrea Constand na sua mansão da Filadélfia em 2004.
"Anulam-se as condenações e a sentença de Cosby, que fica em liberdade", escreveu o tribunal numa sentença de 79 páginas.
Cosby rompeu as barreiras raciais com o seu papel em "I Spy", da década de 1960, premiado com um galardão Emmy, e depois como pai e médico na bem sucedida série de televisão "The Cosby Show", duas décadas depois.
Até que surgiram dezenas de acusações de conduta sexual inapropriada contra si.
A condenação foi o primeiro veredicto de cumplicidade por agressão sexual contra uma celebridade desde que surgiu o movimento mundial contra a violência sexual e o abuso de poder, denominado #MeToo.
Cosby, que sempre alegou inocência, cumpriu mais de dois anos de uma sentença de três a dez anos por agressão indecente com agravante.
O advogado de Cosby não respondeu de imediato à solicitação de comentários da AFP.
Embora mais de 60 mulheres tenham feito denúncias de agressão sexual contra Cosby, o actor foi julgado criminalmente pela agressão à Constand, pois os outros casos tinham prescrito.
O humorista insistiu em que o encontro com Constand, que então trabalhava na Universidade de Temple, foi consensual.
A defesa de Cosby apresentou o segundo recurso contra a condenação em Agosto do ano passado. Os seus advogados argumentaram que cinco mulheres não deveriam ter dado o seu depoimento no julgamento como testemunhas.
Os advogados disseram que estas declarações, que denunciavam factos ocorridos há décadas e não faziam parte do caso, tinham influenciado o júri.
Os procuradores chamaram-nas a testemunhar para convencer o júri de que Cosby seguia um padrão de drogar e agredir as mulheres.
Os advogados argumentaram também no recurso que era "injusto" que durante o julgamento tivesse sido ouvido o depoimento que Cosby deu num caso civil no qual falava do uso de sedativos e dos seus comportamentos sexuais na década de 1970.
O comediante admitiu na ocasião ter dado Quaaludes, uma droga recreativa hoje proibida, a mulheres a fim de ter relações sexuais com elas.
A defesa declarou depois que Cosby pensava que este testemunho ficaria de fora do dossier sobre o caso quando deu as declarações. Mas a sua admissão tornou-se uma peça-chave do julgamento.
Os juízes coincidiram em que o "acordo de não ajuizamento" significava que o actor não deveria ter sido acusado.
"Deve ser libertado e qualquer julgamento futuro sobre estas acusações em particular deve ser proibido", escreveram os juízes.
"Não discutimos que esta solução seja grave e infrequente. Mas está justificada aqui, de facto é obrigatória", acrescentaram.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o presidente Joe Biden não manifestou "uma reacção directa" à decisão, mas pontualizou que "há muito tempo tem sido um defensor do combate à violência contra as mulheres".
Cosby tinha perdido um primeiro recurso, quando um tribunal decidiu que a evidência da procuradoria tinha estabelecido o "roteiro único de agressão sexual" do comediante.
Além disso, um primeiro julgamento contra o actor chegou a ser anulado em Junho de 2017 depois que o júri não conseguiu alcançar um veredicto unânime.
Uma dezena de mulheres que se dizem vítimas de Cosby apresentaram acções civis contra o actor em busca de indemnização por perdas e danos.