Pnom Penh - A rádio Voz da Democracia (VoD), um dos poucos media independentes que restam no Cambodja, deixou hoje de emitir após o primeiro-ministro, Hun Sen, ordenar a revogação da licença, uma decisão criticada por académicos e activistas.
Hun Sen, no poder desde 1985, anunciou no domingo à noite a decisão.
O governante, que em 2017 lançou uma campanha repressiva contra os media independentes e a oposição política, argumentou que a emissora, numa publicação recente prejudicou a sua "dignidade e reputação" e a do seu filho Hun Manet.
Segundo o artigo publicado quarta-feira pela VoD, que cita directamente o porta-voz do governo cambodjano, Hun Manet, chefe do estado-maior do Cambodja e comandante adjunto do exército, exorbitou os seus poderes ao assinar uma ordem de entrega de ajuda à Turquia na sequência do sismo.
O primeiro-ministro exigiu inicialmente um pedido de desculpas ao órgão de comunicação social, mas, apesar de uma declaração emitida pelo Centro Cambodjano para a Comunicação Social Independente - a organização que dirige a estação -, na qual lamentou qualquer confusão causada pelo artigo, acabou por ordenar o encerramento da rádio.
Segundo investigador Marc Pinol, revogar a licença da VoD é uma má notícia para o panorama mediático já danificado no Camboja.
É um sério passo atrás para os meios de comunicação social independentes antes das eleições gerais a meio do ano no país", reagiu o analista cambojano Pinol.
O director-adjunto da Human Rights Watch (HRW) para a Ásia, Phil Robertson, classificou o encerramento da emissora de "ultrajante e ridículo" e disse que a verdadeira intenção é "suprimir ainda mais a liberdade de imprensa".
O Cambodja deverá realizar eleições gerais a 23 de Julho, com Hun Sen, que pretende ser reeleito, com o seu Partido do Povo Cambodjano, a enfrentar uma oposição fragilizada - liderada pelo Partido Luz das Velas, composto em grande parte por membros do Partido de Resgate Nacional do Cambodja, ilegalizado em 2017.
"A campanha contra a VoD é uma indicação de que as eleições não serão nem livres nem justas", acrescentou Robertson.