Pequim - O Alto Representante para a Política Externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, alertou hoje que se a UE não estabelecer "mais e melhores relações" com a América Latina vai perder o protagonismo para a China naquela região.
A entrevista à agência espanhola EFE ocorreu numa altura em que os 27 países da UE e os quatro do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) enfrentam dificuldades para ratificar um acordo comercial assinado em 2019, após 20 anos de negociações.
Na entrevista, Josep Borrell defendeu a importância em salvar o acordo.
"Acredito numa solução política, porque se não estabelecermos mais e melhores relações com a América Latina seremos substituídos pela China", apontou. "A China está a desembarcar na América Latina com mais força do que em África", avisou Borrell.
A aproximação do país asiático aos países latino-americanos, especialmente os da costa do Pacífico, é feita através de "investimentos, actividades culturais ou comércio", explicou. Segundo Borrell, a China superou já a UE como o segundo maior parceiro comercial da América Latina.
O político espanhol frisou que a UE tem de inverter esta situação: "temos que voltar a ocupar espaço para continuar a ter influência e beneficiar do desenvolvimento da América Latina. A América Latina também precisa disso".
A Europa deve "ter condições de concluir o acordo (com o Mercosul), não nos aspectos comerciais, que já estão fechados, mas também nos aspectos políticos, institucionais, ambientais e climáticos".
As dúvidas europeias sobre questões ambientais ou de desenvolvimento sustentável foram expressas por alguns países, como a França, a Holanda, a Áustria ou a Bélgica.
O último obstáculo ao processo de ratificação surgiu do Parlamento Europeu, que em Outubro passado aprovou uma resolução de clara rejeição, face à política ambiental do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, para a Amazónia.
"Acho que com razão, os problemas ambientais não foram suficientemente abordados (...) mas acredito que o acordo deve ser salvo, aprimorando-o, porque precisamos dele, até mesmo para combater o desmatamento na Amazónia, já que se não houver nenhum tipo de acordo, o Brasil não se sentirá vinculado a nada", argumentou Borrell.
"Salvar" o acordo com o Mercosul e modernizar os acordos com o México e o Chile são três dos principais dossiês comerciais que a UE tem na sua agenda para o primeiro semestre de 2021.
O alto representante da UE não escondeu as dificuldades no longo caminho da ratificação, já que os documentos têm de ser aprovados por todos os parlamentos nacionais, e em alguns casos regionais, da União Europeia.
Face àqueles que pensam que o melhor é não fazer "nenhum" acordo, Borrell defendeu o contrário, por razões de "influência".
Borrell reconheceu que a América Latina "não ocupa o papel que deveria ter na agenda europeia", porque a projecção histórica, cultural e económica é muito grande para alguns países, como Espanha, Itália, Portugal e França, mas insignificante para os países da Europa do Leste.
Recordou que há cinco anos que não se realiza uma cimeira entre a UE e a América Latina.