Pequim - O superávit da China com os Estados Unidos aumentou ainda mais no ano passado, infligindo um golpe final a Donald Trump, que fez do reequilíbrio comercial uma prioridade da sua Presidência.
Garantindo que as guerras comerciais eram fáceis de vencer, o presidente dos Estados Unidos adoptou uma postura hostil contra o gigante asiático em 2018, denunciando a competição "injusta" de Pequim.
O impasse resultou em tarifas recíprocas sobre centenas de biliões de dólares em bens. O confronto comercial pesou na economia global e mergulhou o mundo dos negócios num clima de incerteza.
Pequim e Washington assinaram, porém, uma trégua em Janeiro de 2020, pouco antes de o mundo ser afectado pela pandemia de covid-19.
De acordo com os termos do acordo, a China concordou em comprar 200 biliões de dólares adicionais em bens americanos ao longo de dois anos, o que supostamente ajudaria a reduzir o défice americano.
Em 2020, no entanto, a China voltou a registar um superávit comercial de 7,1%, a 316,9 biliões de dólares, com os Estados Unidos, anunciou hoje a Alfândega chinesa, a menos de uma semana da saída do bilionário republicano da Casa Branca.
No ano passado, face à pandemia, a procura de produtos médicos e electrónicos para teletrabalho impulsionou amplamente as exportações chinesas para os EUA.
Na outra direcção, "as restrições sanitárias nos Estados Unidos foram um impedimento ao comércio com a China", avalia a economista Iris Pang, do banco ING.
Apesar de tudo, Pequim fez "esforços contínuos para cumprir os seus compromissos" com Washington, segundo o analista Ting Lu, do banco de investimentos Nomura, observando em Dezembro um aumento de 45% em um ano nas importações chinesas dos Estados Unidos.
Os economistas acreditam que o futuro Governo de Joe Biden deixará em vigor, pelo menos inicialmente, as sobretaxas sobre os produtos chineses.
Em entrevista publicada na segunda-feira, o negociador americano (USTR) Robert Lighthizer instou o próximo Governo a manter essas sanções e justificar a guerra comercial.
"Transformamos a maneira como as pessoas pensam sobre o comércio e mudamos os modelos", disse.
Com o mundo como um todo, o superávit comercial da China atingiu o seu nível mais alto desde 2015, de 535 biliões de dólares (+27% em um ano).
Apenas com a União Europeia, segundo parceiro comercial de Pequim depois do Sudeste Asiático, caiu 19%, para USD 132,4 biliões.
A chegada das vacinas significa que a demanda global por produtos ligados à pandemia vai reduzir e isso "corre o risco de penalizar" as exportações chinesas no médio prazo, alerta o analista Tommy Wu, da Oxford Economics.
Enquanto isso, as vendas chinesas de produtos anti-covid no exterior seguem em boa forma. O país exportou 224 biliões de máscaras para o mundo entre Março e Dezembro.
"Isso é o equivalente a 40 máscaras por pessoa fora da China", disse o porta-voz da Alfândega chinesa, Li Kuiwen.
Primeiro país afectado pela covid-19, mas também o primeiro a livrar-se dela, a China parece ser um termómetro da esperada recuperação da economia mundial.
Apesar da pandemia e da situação econômica, as exportações da segunda maior economia do mundo registaram em 2020 um aumento de 3,6% em um ano.
Somente em Dezembro, o total de pedidos do exterior para a China aumentou 18,1% no ano. No entanto, este é um resultado inferior ao de Novembro (21,1%).
Já as importações do gigante asiático aumentaram 6,5% no mês passado. Mas caíram 1,1% em todo ano de 2020, reflectindo a fragilidade do consumo doméstico.
As importações devem, no entanto, "aumentar significativamente" este ano, à medida que a recuperação económica da China melhora, acredita Wu.
Por enquanto, o país registou um superávit de 78 biliões de dólares somente no mês de Dezembro, um patamar praticamente recorde na opinião de analistas.
Espera-se que seja uma das poucas economias importantes a reportar um crescimento positivo do PIB em 2020. A China registou um crescimento anual de 4,9% no terceiro trimestre.