Doha - Israel e o movimento islamita palestino Hamas chegaram a um acordo para prolongar por dois dias a trégua na Faixa de Gaza, anunciaram segunda-feira as autoridades do Qatar, país mediador das negociações.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Majed al-Ansari, indicou, como parte das negociações em curso, que "foi alcançado um acordo para estender a trégua humanitária por mais dois dias" em Gaza.
O Hamas confirmou que a trégua com Israel na Faixa de Gaza, que expiraria na manhã desta terça-feira, seria prorrogada até às 07:00 horas locais de quinta-feira, depois de indicar que estava a "trabalhar numa nova lista de reféns" a serem libertados.
O movimento palestino anunciou num comunicado de imprensa "um acordo com os irmãos qatariotas e egípcios para uma extensão da trégua humanitária temporária que será de dois dias adicionais com as mesmas condições da trégua anterior".
Israel não confirmou ainda a extensão do acordo.
Nova lista de reféns a libertar
O Hamas, que assumiu o poder na Faixa de Gaza em 2007, indicou estar a preparar uma nova lista de reféns a libertar, a fim de prolongar a trégua nos combates com Israel.
Apesar de alguns pequenos contratempos, ambos os lados respeitaram até agora o acordo, que resultou na libertação de 58 reféns mantidos em cativeiro, na Faixa de Gaza, e de 117 prisioneiros palestinos em prisões israelitas.
A quarta troca está marcada para esta segunda-feira e Israel já anunciou que recebeu uma lista dos próximos reféns que serão libertados.
Entre as 58 pessoas sequestradas e libertadas pelo Hamas desde sexta-feira estão 19 estrangeiros que não faziam parte do entendimento.
O acordo entre Israel e o grupo islâmico foi possível graças à mediação do Qatar, do Egipto e dos Estados Unidos e previa uma trégua de quatro dias, a entrada de ajuda humanitária em Gaza proveniente do Egipto, bem como a libertação de um total de 50 reféns raptados, em 07 de Outubro, e de 150 palestinios detidos em prisões israelitas, todos menores ou mulheres.
Além disso, inclui a entrada de ajuda humanitária, na Faixa de Gaza, e uma cláusula pela qual o acordo poderia ser prorrogado por até 10 dias se o Hamas concordar em entregar pelo menos mais 10 prisioneiros por cada dia adicional.
A trégua permitiu até agora a entrada de centenas de camiões carregados de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, sitiada e devastada por sete semanas de bombardeamentos israelitas em retaliação pelo ataque sangrento lançado pelo Hamas contra Israel, em 07 de Outubro, e que deixou cerca de 1.200 mortos.
A libertação de um maior número de reféns é exigida com veemência pela opinião pública israelita, traumatizada pelo ataque do Hamas, há um mês e meio, no sul do país.
Em resposta a esse ataque, Israel declarou guerra ao Hamas e bombardeou intensivamente a Faixa de Gaza até as partes terem chegado a acordo para uma trégua de quatro dias.
Até ao início da trégua, os ataques do exército israelita em Gaza tinham matado mais de 14 mil pessoas, segundo o Hamas, que controla o enclave desde 2007.
Guterres pede "cessar-fogo humanitário definitivo"
Por seu turno, o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu que o diálogo continue entre Israel e o movimento islamita palestino Hamas para alcançar um "cessar-fogo humanitário definitivo", na Faixa de Gaza, e pôr fim ao conflito na região.
Guterres elogiou o papel desempenhado pelo Egipto, pelo Qatar e pelos Estados Unidos na obtenção de uma trégua temporária de quatro dias, que permitiu a entrada de mais ajuda humanitária no enclave palestino e a libertação de mais de 50 reféns (israelitas e cidadãos estrangeiros).
O ex-primeiro-ministro português sublinhou a importância de alcançar um cessar-fogo "que beneficie a população de Gaza", segundo um comunicado do seu porta-voz, Stéphane Dujarric, no qual também aplaudiu o papel desempenhado pela Cruz Vermelha na actual conjuntura.
"Apelo a todas as partes para que usem a sua influência para pôr fim a este trágico conflito e apoiar medidas que conduzam ao único futuro sustentável para a região”, disse numa alusão à solução de dois Estados “com Israel e Palestina a viver lado a lado".
"Sete semanas de hostilidades em Gaza e em Israel causaram um número de mortos que chocou o mundo. Nos últimos quatro dias não se ouviu nenhum som de armas. Vimos a libertação de reféns e de prisioneiros palestinos das prisões israelitas", disse Guterres.
Sublinhou que as Nações Unidas "continuarão a apoiar" este tipo de tréguas.
Por outro lado, e apesar da entrada de mais ajuda humanitária no enclave palestiniano também ao abrigo do acordo de trégua, o secretário-geral da ONU lamentou que 1,7 milhões de deslocados continuem a apresentar "grandes necessidades" e descreveu a situação humanitária em Gaza como catastrófica.
Em resposta ao ataque do Hamas, Israel declarou guerra ao movimento islamita palestiniano e bombardeou intensivamente a Faixa de Gaza até as partes terem chegado a acordo para uma trégua de quatro dias, que começou na passada sexta-feira.
Até ao início da trégua, os ataques do exército israelita em Gaza tinham matado mais de 14 mil pessoas, segundo o Hamas, que controla o enclave desde 2007.
Prorrogação da trégua é "vislumbre de esperança", diz Guterres
António Guterres disse igualmente que a prorrogação das tréguas em Gaza é um "vislumbre de esperança e humanidade no meio da escuridão da guerra".
Numa conferência de imprensa, na sede da ONU, em Nova Iorque, Guterres disse esperar que este prolongamento das tréguas permita a entrega de mais ajuda à população de Gaza.
"Espero sinceramente que isto nos permita aumentar ainda mais a ajuda humanitária à população de Gaza que tanto sofre, sabendo que mesmo com esse tempo adicional, será impossível satisfazer todas as necessidades dramáticas da população em Gaza", disse.
EUA saúdam prolongamento da trégua e pedem maior alargamento
Os Estados Unidos também saudaram o anúncio da extensão por dois dias da trégua, na Faixa de Gaza, entre Israel e o Hamas e apelaram a que o cessar-fogo se estenda por um período ainda maior.
O prolongamento da trégua, que inicialmente foi acordada para quatro dias, foi anunciada pela mediação do Qatar e já confirmada pelo Hamas, depois de Israel ter anunciado que propôs "uma opção" para prolongar o cessar das hostilidades.
A par do Qatar, os EUA e o Egipto têm estado envolvidos nos esforços de mediação do conflito em curso na Faixa de Gaza. AM/IZ