Genebra - A aliança civil ICAN, prémio Nobel da Paz 2017, sustentou hoje, quarta-feira, que Washington e Moscovo devem aproveitar as negociações sobre estabilidade nuclear hoje iniciadas em Genebra para proceder a "uma real e substancial" redução dos respectivos arsenais.
"O risco que as armas nucleares representam nunca foi tão elevado, e a única forma de acabar com esse risco é eliminando as armas nucleares. Os Presidentes (Vladimir) Putin e (Joe) Biden devem aproveitar esta oportunidade para acordar uma redução dos seus arsenais e avançar para o desarmamento nuclear", declarou a ICAN (sigla em inglês para Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares), numa declaração à agência noticiosa espanhola Efe.
As duas superpotências nucleares comprometeram-se em meados de Junho a entabular um diálogo sobre estabilidade estratégica, ou seja, que equilibre o seu poderio nuclear e permita construir as bases para futuros acordos de desarmamento. A primeira ronda deste processo, que só durará um dia, realiza-se hoje em Genebra.
Para a ICAN, os Estados Unidos e a Rússia deveriam aceitar dar determinados passos na direcção do Tratado de Proibição de Armas Nucleares, que entrou em vigor a 22 de Janeiro deste ano e foi negociado sob a égide das Nações Unidas.
Até então, as armas nucleares eram as únicas armas de destruição maciça que não estavam sujeitas a um tratado de proibição do seu uso, bem como do respectivo desenvolvimento, testagem, produção, transporte, armazenamento ou ameaça de utilização.
O problema é que, dos 55 Estados que o ratificaram nos últimos seis meses, nenhum é possuidor de armamento nuclear.
"A maioria dos países do mundo apoia este tratado, e os Estados Unidos e a Rússia deveriam alinhar-se com ele", defendeu a ICAN, denunciando que o mundo está "numa nova corrida às armas nucleares", numa referência a relatos de que a China está a construir um segundo campo de silos de mísseis nucleares, "o que indica a sua pretensão de expandir o seu arsenal".
A organização civil recorda também que há pouco tempo, o Reino Unido decidiu aumentar o tamanho potencial do seu arsenal, e que os nove países que têm armas nucleares estão todos a modernizar ou aumentar os seus arsenais.
Segundo os dados tratados pelos especialistas, a Rússia tem 6.255 ogivas nucleares e os Estados Unidos, 5.550; a China conta com 350, França com 290, o Reino Unido com 225, o Paquistão com 165, a Índia tem 156, Israel tem 90 e a Coreia do Norte tem entre 40 e 50.
"O Tratado da ONU para a Proibição das Armas Nucleares oferece um caminho alternativo para o desarmamento Nuclear assente em princípios humanitários e no respeito pelas vítimas e sobreviventes do uso de armas nucleares", declarou a ICAN.
Deste primeiro encontro entre as delegações russa e norte-americana não se espera grandes resultados, já que, como adiantou a parte russa, servirá sobretudo para que ambas as partes se conheçam e avaliem quanto tempo lhes levará a definir uma agenda comum que inclua os temas em que seja possível trabalhar com relativa rapidez.